terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Legado Econômico de Mandela


 

Legado econômico de Mandela está ameaçado

Por Mike Cohen | Bloomberg
Nelson Mandela saiu da prisão em 1990, após 27 anos de cárcere, prometendo confiscar minas e bancos na África do Sul. Quatro anos depois, seu governo promoveria cortes de gastos e cortejaria investidores estrangeiros, abrindo caminho para o mais longo período da história do país.
O ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz, que morreu na última quinta-feira aos 95 anos, foi peça fundamental para levar o Congresso Nacional Africano (CNA), que liderou a luta contra o apartheid e vem governando desde então, a abraçar a economia de mercado.
Apesar disso, o legado de estabilidade econômica deixado por Mandela está começando a ficar ameaçado, uma vez que o país não consegue diminuir o desemprego e a desigualdade. A taxa de desemprego está em 24,7%, enquanto a renda média dos negros representam um sexto da dos brancos sul-africanos. No ano passado, a juventude do CNA promoveu uma campanha pela estatização de bancos e minas, as mesmas políticas descartadas por Mandela em 1994. E comunidades pobres organizaram uma série de protestos contra a falta de habitação e serviços básicos.
"Nós ainda temos desemprego racial, pobreza racial e desigualdade racial", disse Sidumo Dlamini, presidente do Congresso de Sindicatos Comerciais do país, com 2,2 milhões de membros. "Nosso país ainda está nas mãos dos brancos."
O compromisso de Mandela com o rigor fiscal e o capital estrangeiro permitiu à economia se expandir por 15 anos, até o terceiro trimestre de 2008, quando a crise financeira global empurrou o país para a recessão. Esse crescimento e o aumento da arrecadação permitiram ao governo pós-apartheid estender benefícios sociais para cerca de 16 milhões de pessoas e dar a mais de 85% das residências acesso à eletricidade, contra 45% em 1996.
Restaurar a confiança na economia da África do Sul em 1994 foi um feito notável. O Apartheid transformou o país em um Estado pária, submetido a sanções internacionais e boicotes. O capital estrangeiro fugia, as reservas internacionais cobriam apenas dez dias de importações e o déficit orçamentário chegava a 9,1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Mandela pediu a Chris Liebenberg, que havia acabado de se aposentar como CEO do que é agora o Nedbank Group, quarto maior banco do país, que assumisse o Ministério das Finanças. Ele aceitou sob a condição de que o país seguisse uma política econômica de mercado, com disciplina fiscal.
Em seu primeiro Orçamento, Liebenberg aumentou impostos, equalizou o sistema tributário para todos os grupos raciais e cortou verbas para a Defesa. Essas medidas ajudaram o governo a obter US$ 750 milhões em 1994, na primeira venda de títulos da dívida pós-apartheid - 50% a mais do que o planejado originalmente. Em 1999, o déficit orçamentário havia caído para 2,3% do PIB.
Mandela ajudou a definir os parâmetros gerais da política econômica, delegando sua formulação e execução a seus subordinados, segundo Liebenberg, que agora ajuda a administrar obras assistenciais criadas pelo ex-presidente.
Ainda assim, a estabilidade que Mandela arquitetou nos primeiros anos depois do apartheid nunca levaram à África do Sul a um dinamismo econômico excepcional. O PIB tem crescido, em média, 3,5% desde 2004, em comparação aos 10,5% da China e aos 7,7% da Índia.
Além disso, o índice de Gini, que mede a desigualdade, subiu de 0,59 em 1993 para 0,63 em 2009, o que mantém a sociedade sul-africana como uma das mais desiguais do mundo.
A pobreza continua predominante entre os sul-africanos negros, que representam 79% da população de 53 milhões. Líderes sindicais culpam as diretrizes econômicas de 1996, que Mandela classificou como "inegociáveis", por perpetuar a desigualdade da era do apartheid.


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