O XVI Encontro do  Foro de São Paulo, em comemoração aos 20 anos de fundação desta organização de  partidos latino-americanos, será realizado de 17 a 20 de agosto, em Buenos Aires  (Argentina).A esse respeito, o Portal do PT entrevistou Valter Pomar,  da direção nacional do PT e responsável pela secretaria executiva do Foro de São  Paulo.
  Confira a  íntegra da entrevista:
 Quais os  principais objetivos do XVI Encontro do Foro de São Paulo?
 Primeiro,  comemorar os 20 anos de uma iniciativa exitosa. O Foro de São Paulo tem sua  parcela de responsabilidade no fato de estarmos vivendo, hoje, um momento  diferente na história da América Latina, com mais democracia, com mais  igualdade, com mais soberania e com mais integração. Segundo, para traçar planos  para o próximo período. A esse respeito, o documento-base do XVI encontro (leia aqui a versão preliminar do documento base. A versão  definitiva será divulgada no dia 8 de agosto) enumera quatro tarefas políticas:  ampliar la unidad de los partidos progresistas, populares y de izquierda,  profundizar los cambios, derrotar la contraofensiva de la derecha y consolidar  la integración regional
 Quem  organiza o XVI Encontro?
 O XVI encontro do  Foro de São Paulo será em Buenos Aires. Logo, quem organiza são os partidos  argentinos que integram o Foro.
 Quem  representará o Brasil na atividade?
 Vários partidos  brasileiros integram o Foro de São Paulo, por exemplo o Partido Comunista  Brasileiro, o Partido Comunista do Brasil, o Partido Socialista Brasileiro, o  Partido Democrático Trabalhista, o Partido Popular Socialista e o Partido dos  Trabalhadores. No caso do PT, enviaremos uma delegação, como fizemos nos últimos  15 encontros. A delegação foi escolhida pela Comissão Executiva Nacional e será  composta, entre outros, por José Eduardo Martins Cardozo, Iriny Lopes, Romenio  Pereira, Severine Macedo, Morgana Eneile, Laisy Moriere, Marcel Frison, Maria  Ivonete Tamboril, Mariene Pantoja, Gleber Naime, Maria Aparecida Abreu, Eduardo  Valdoski, Tássia Pinho, Bruno Elias e Ronaldo Pinto. Além de mim mesmo e outros  da secretaria de relações internacionais do Partido.
 Vários  integrantes da delegação são da Juventude do PT?
 Sim.  Simultaneamente ao XVI Encontro, acontecerá o II Encontro das Juventudes do Foro  de São Paulo. A delegação é ampla, porque além da plenária propriamente dita do  Foro, que ocorre nos dias 19 e 20, teremos nos dias 17 e 18 de agosto muitas  outras atividades (leia aqui a programação do XVI Encontro), entre as quais  reuniões de parlamentares; autoridades locais e regionais; autoridades  nacionais; fundações, escolas e centro de capacitação; movimentos sociais;  trabalhadores de arte e cultura. Ocorrerão, também, debates sobre políticas de  Defesa regional e continental; meio ambiente e mudança climática; democratização  dos meios de comunicação; soberania nacional e descolonização; migrações.
 Uma  curiosidade: quem tem medo do Foro de São Paulo?
 Parte importante  da direita européia, estadounidense e latinoamericana, inclusive os demotucanos.  Esse pessoal acha que o Foro de São Paulo é uma espécie de comitê central  continental, que estaria por trás da onda de governos progressistas e de  esquerda na região. Se eles tivessem uma visão menos conspirativa da história,  perceberiam que o Foro até deu uma mãozinha, mas o principal responsável pela  existência dos atuais governos de esquerda é o neoliberalismo, contra o qual o  povo de vários paises reagiu elegendo presidentes e partidos contrários ao  neoliberalismo.
 Se o PSDB  e o Dem quisessem, eles poderiam participar do XVI Encontro?
 Olha, nossos  Encontros são abertos à imprensa. A revista Veja, por exemplo, acompanhou  integralmente o XIV Encontro, mentindo a respeito porque quis, não porque não  tivesse acesso aos fatos. Além disso, eu já mencionei que o Partido Popular  Socialista, que faz parte da coligação que apóia Serra, integra o Foro e poderá  participar de tudo.
 Vi que na  programação do Foro, haverá um debate sobre Defesa. Isto está relacionado ao  conflito entre Colômbia e Venezuela?
 Não, este debate  já estava planejado antes. A verdade é que a esquerda latino-americana tem uma  estratégia baseada na disputa de eleições, na mobilização social e no debate de  idéias. Quem aposta numa estratégia de guerra e subversão são os Estados Unidos  e os setores mais reacionários da região. O XVI Encontro do Foro de São Paulo  será um grande ato em favor da paz, no mundo e na América Latina. E fazer a paz  implica construir uma política unificada de Defesa entre todos os países da  América Latina. Quanto ao conflito entre Venezuela e Colômbia, recomendamos ler  a nota divulgada hoje, dia 28 de julho, pelo Grupo de Trabalho do Foro de São  Paulo (ver aqui a nota).
 A nota do  Foro critica o presidente colombiano Álvaro Uribe. Já Uribe, assim como José  Serra e seu vice, atacam as Farc. O que o Foro de São Paulo vai dizer a respeito  disto?
 O Foro de São  Paulo é integrado por partidos de distintas orientações políticas e ideológicas.  Cada partido tem sua opinião. O que nos une é a defesa de uma solução pacífica  negociada para o conflito existente na Colômbia. Acredito que vamos aprovar uma  resolução conclamando todos os envolvidos a tomar medidas imediatas em favor da  paz. E, com isso, acabar com este pretexto utilizado pelos Estados Unidos para  intervir na Colômbia e ameaçar a região.
 Então não  existe, no Foro de São Paulo, uma opinião única sobre as Farc?
 Olha, opinião  única é coisa de pensamento único. O que eu posso dizer é que a esquerda  latino-americana está nas lutas sociais, participa das disputas eleitorais e  governa importantes países da região. Em muitos casos, partidos que hoje estão  no governo, ontem estavam na luta armada. A transição se deu nos anos 80 e 90,  geralmente através de processos de paz negociada. Na Colômbia, houve dois  momentos em que se tentou isto. No primeiro destes momentos, a direita  colombiana assassinou milhares de militantes de esquerda que decidiram abandonar  a luta armada e participar da vida eleitoral. Ainda hoje, a Colômbia é um país  onde ocorre assassinato sistemático de sindicalistas. Esta atitude da direita  colombiana e do Estado colombiano cria uma enorme desconfiança entre os que  estão na guerrilha, acerca do que pode acontecer caso deixem as armas e optem  pela luta social e eleitoral. Entretanto, hoje, o fato de existir uma maioria de  governos progressistas e de esquerda na América do Sul cria as condições  internacionais para um acordo de paz que seja confiável. Hoje, o conflito  militar interessa aos Estados Unidos, que quer manter presença militar na  região; e interessa à direita colombiana, que usa o medo como argumento  eleitoral e também para receber recursos dos EUA. Quem é realmente de esquerda,  precisa perceber isto e agir de acordo com isto, não fazendo o jogo dos EUA e da  direita.
 A partir  de que momento as Farc passaram a ser relacionadas ao narcotráfico?
 Acho que a  acusação surgiu quando o governo Clinton reforçou a presença militar dos EUA na  Colômbia, usando como argumento o combate ao narcotráfico, mas na verdade tendo  como objetivo combater a guerrilha. O governo Uribe reforçou este tipo de  acusação. Vale citar que as Farc negam ter vínculos com o narcotráfico.
 Após as  acusações do candidato a vice na chapa de Serra e dele próprio, que inclusive  foram motivos de ações judiciais movidas pelo PT, sobre supostas ligações do  partido com as Farc, veículos da grande mídia ainda insistem em abordar o  assunto de forma tendenciosa. O PT tem ou teve algum tipo de ligação política  com a guerrilha colombiana?
 Não, nenhuma. O  PT e os partidos de esquerda latino-americanos estão implementando estratégias  que combinam luta eleitoral e luta social. A maioria destes partidos apóia, na  Colômbia, o Pólo Democrático Alternativo, que já disputou duas eleições  presidenciais. O PT tem um protocolo de cooperação com o Pólo Democrático  Alternativo. O PT e o Pólo Democrático defendemos uma saída pacífica e justa  para o conflito militar existente na Colômbia.
 Ao que  voce atribuiu o uso deste tema pela campanha do PSDB?
 Uma campanha em  dificuldades, apela para mentiras. Uma campanha de direita usa argumentos de  direita. No caso, Serra olha o mundo e a região a partir do ponto de vista dos  Estados Unidos. O discurso internacional da campanha demotucana está a serviço  destes interesses estrangeiros, interesses imperialistas como diríamos noutros  tempos.
 Alguns  meios de comunicação também insinuaram que existe uma ligação da guerrilha com o  Foro de São Paulo. O senhor tem sido procurado por veículos da grande imprensa  para falar sobre o assunto? Como tem sido esta repercussão?
 Olha, eu fui  procurado pelo Portal R7, pelo jornal O Globo e pelo Portal Ig. Tenho tomado o  cuidado de pedir que eles enviem as perguntas por escrito, para limitar  distorções na edição. As perguntas que recebi geralmente têm como objetivo  arrancar uma declaração que lhes permita dizer que existem vínculos que não  existem, seja entre o Foro e a guerrilha, seja entre o PT e a guerrilha. Pois  bem, eu respondo tudo o que perguntam, mas como minha negativa é taxativa, a  mídia “democrática” geralmente não publica. Deve ser o exercício do controle  social da mídia pelos seus proprietários...
 Mas o Ig  publicou uma declaração sua...
 Publicou, mas  veja só como. Eles me perguntaram o seguinte: “o PT não acha que, devido a essa  polêmica envolvendo as Farc e o vice do adversário José Serra, ir ao encontro  não criaria especulação negativa para a campanha presidencial?”. Eu respondi o  seguinte: “Näo achamos isto. A oposição vai especular e criticar de qualquer  forma: se decidissemos não ir, provavelmente diriam que estamos tentando  disfarçar nossas verdadeiras intenções. Estas especulações são pura  invencionice”. Pois bem, sabe qual foi a manchete da matéria do Ig?
 Não, qual  foi?
 A manchete foi  “Polêmica das Farcs (sic): PT manda dirigentes ao Foro de São Paulo”.  Ou seja, aquilo que a realidade não vincula, eles tentam vincular forçando a  barra na edição, nos títulos, nas chamadas. Como diria um reacionário: é uma  vergonha!!!