sábado, 13 de fevereiro de 2010

Plantão no Carnaval

Estado mantém serviços em regime de plantão no Carnaval
11/02/2010 15:11


Os serviços do governo do Estado mantém regime de plantão no Carnaval. Confira a seguir:

BANRISUL – Na sexta-feira (12), o expediente será normal. Na segunda e na terça-feira (15 e 16), não haverá atendimento. Na quarta-feira (17), as agências passarão a atender ao público a partir das 11h, com encerramento no horário normal. Durante o feriado, os clientes terão acesso aos canais eletrônicos oferecidos pelo banco: caixas eletrônicos, Agência Virtual (www.banrisul.com.br), Banrisul Celular e Banrifone.

CEASA – Fecha no sábado (13) e no domingo (14). Na segunda-feira (15), abre das 5h30min às 11h. Entre terça-feira e sexta-feira, o expediente será das 13h30min às 18h30min.

CEEE – Central de Teleatendimento estará 24 horas à disposição dos clientes na área de abrangência da empresa pelos telefones 0800 999 196 ou 0800 721 2333. A ligação é gratuita.

CORSAN – Em caso de emergência, deve ser acionada a Unidade de Saneamento de cada município.

DAER – Atividades reforçadas nas estações rodoviárias e de fiscalização nas estradas. O telefone da fiscalização na Estação Rodoviária de Porto Alegre é 51 3228 5232.

DETRAN/RS – Os credenciados do Detran/RS terão o horário de trabalho alterado no feriado de Carnaval. Os Centros de Formação de Condutores (CFCs), Centros de Registros de Veículos Automotores (CRVAs) e as Fábricas de Placas e Tarjetas (FTPs) funcionarão facultativamente no sábado (13), na segunda-feira (15) e na terça-feira (16), ficando fechados no domingo (14).

Os Centros de Remoção e Depósito (CRDs) de todo Estado funcionarão em plantão de 24 horas para remoção, e facultativamente para liberação de veículos. A única exceção é Porto Alegre, onde os CRDs deverão estar abertos para liberação dos veículos, no mínimo, no turno da manhã do sábado (13). Na Quarta-Feira de Cinzas (17), o horário de funcionamento é normal para todos os credenciados.

O Disque Detran funcionará somente com o atendimento digital, e o atendimento do Detran/RS no Tudo Fácil, assim como os outros serviços oferecidos no local, fechará no sábado e abrirá somente na quarta-feira, às 13h.

MEIO AMBIENTE

Serviço de Emergência Ambiental – plantão pelo telefone (51) 9982 7840
Parque Zoológico – aberto de terça-feira a domingo, das 8h30min às 17h. Informações: (51)3474-1499.
Ingresso: R$ 4,00 (adulto), R$ 2,00 (estudante), R$ 20,00 (automóvel), R$
9,00 (moto) e R$ 140,00 (ônibus). Crianças de até 12 anos isentas

Jardim Botânico – aberto de terça-feira a domingo, das 8h às 17h.
Rua Salvador França, 1427. Informações: (51) 3320-2027
Ingresso: R$ 2,00 (adulto), R$ 1,00 (estudante). Crianças de até 12 anos isentas.

Museu de Ciências Naturais – fechado na segunda e na terça-feira
Rua Salvador França, 1427 - Jardim Botânico de Porto Alegre.
Informações: (51)3320-2038

SAÚDE
– Salvar Samu – telefone 192 – Plantão 24 horas – funcionamento normal
– Central de Regulação Estadual – Av. Bento Gonçalves 3722, Bairro Partenon, Porto Alegre/RS - funcionamento normal
– Centro de Informações Toxicológicas (CIT) – telefone 0800 721 3000 - Plantão 24 horas - funcionamento normal
– Disque Vigilância – Orientações sobre Gripe A, Febre Amarela e Dengue- telefone 150 - funcionamento normal
– Disque Aids - telefone 0800 541 0197 – funcionamento normal
Farmácia de Medicamentos Especiais – Av. Borges de Medeiros, 546. Porto Alegre/RS. Telefone: (51) 3901 1004 - não funcionará nos dias 15 e 16. O atendimento ao público retorna na quarta-feira, dia 17, das 12 às 17horas;
– Hemocentro – Recebe doações de sangue até às 18h desta sexta-feira, dia 12. As doações serão retomadas na quarta-feira (17), a partir do meio-dia. A distribuição de sangue para os hospitais funcionarará normalmente e aberta às 24 horas.

SEGURANÇA PÚBLICA

Telefones de Emergência
190 – Brigada Militar
193 – Corpo de Bombeiros
197 – Polícia Civil
198 – Comando Rodoviário da Brigada Militar
181 – Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança.
0800 518 518 – Denarc, para denúncias envolvendo tráfico de drogas. Atendimento 24h.
TUDOFACIL – Centro e Zona Norte – agências fechadas na segunda e na terça-feira. Reabrem na quarta-feira (17), com funcionamento das 13h às 19h30min.

Fonte: Portal do Governo do RS

Escândalo

À espera de um escândalo


Por Carlos Bandeira,(De Brasília ,11 de fevereiro de 2010)

A terceira reunião da CPMI contra a Reforma Agrária já tinha terminado. Aí começou a guerra. Jornalistas com sede de sangue cercaram os parlamentares para fazer cobranças. Cadê o embate entre ruralistas e defensores da reforma agrária? E a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico das entidades dos trabalhadores assentados? A comissão não está muito morna? E a polêmica? Em resumo: esperavam um espetáculo de mau-gosto, que não aconteceu. Mesmo assim, quem ler os jornais terá um relato mais próximo do que aconteceu depois do encerramento da comissão.



Durante a sessão, o clima era outro. O relator Jilmar Tatto (PT-SP) apresentou uma proposta de aprovação de um bloco de 67 requerimentos, entre os 167 que foram apresentados pelos deputados e senadores. A proposta focava os requerimentos sobre questões administrativas, como a solicitação de documentos e de servidores públicos para compor a equipe do relator, e a convocação de pesquisadores da questão agrária, integrantes do governo e representantes das entidades de assentamentos.



Do lado dos ruralistas, houve pedidos para dar celeridade à investigação dos convênios e deixar de lado o debate sobre a questão fundiária. Do lado da reforma agrária, a defesa da discussão dos problemas estruturais do campo e da serenidade na investigação das entidades sociais. Apesar desses registros, não houve resistência dos parlamentares da CPMI, tanto que a proposta foi aprovada por unanimidade.



Não houve bate-boca nem exaltação. E os parlamentares elogiaram a proposta do relator. Onyx Lorenzoni (DEM-RS), vice-presidente da CPMI, segurou a turma dos ruralistas, mas não conseguiu impedir que aparecessem as suas diferenças. Durante a apresentação da proposta pelo relator, Lorenzoni saiu da mesa de condução dos trabalhos e foi até a terceira fileira passar orientações ao deputado Moreira Mendes (PPS-RO), que está entre os mais truculentos. No momento do debate, o deputado gaúcho fez sinal, com a mão espalmada, pedindo calma a Abelardo Lupion (DEM-PR), que simplesmente desistiu de se pronunciar...



No entanto, ninguém conseguiu acalmar os jornalistas que acompanharam a reunião. Eles demonstraram mais impaciência que os parlamentares ruralistas mais truculentos. Suas perguntas pareciam sair da boca de Lupion, que entrou mudo e saiu calado da sessão. Parece que CPI boa é aquela que gera manchetes e notícias de impacto - mesmo que não tenha nenhum resultado. Não importa o objeto em si, mas o impacto que pode criar na opinião pública. A repercussão é mais importante que os fatos.



Por isso, as reportagens denunciam que a CPMI está morna, com cheiro de pizza. Cobram a quebra de sigilo das entidades dos assentados. Assim, buscam criar um clima de impunidade na sociedade, incentivando cobranças de cabeças e escândalos, mesmo antes de começarem as investigações. Querem sangue, e quanto antes melhor. Até os ruralistas estão mais pacientes.



No entanto, a imprensa não faz menção aos requerimentos que pedem a investigação dos desvios da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar), diagnosticados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Nada também sobre os requerimentos para investigar as terras tomadas de pequenos agricultores, em Tocantins, que foram para nas mãos da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) – que mais uma vez estava ausente e deixou a CPMI órfã de mãe.



Podemos ficar bem tranqüilos. Se o Congresso Nacional conseguir manter o nível na execução das suas atividades, a imprensa vai pressionar como justiceiros e tomar uma posição mais conservadora que os parlamentares mais conservadores. Vamos esperar para ver nas próximas sessões dessa CPMI.



Carlos Bandeira é jornalista (carlos.sbandeira@gmail.com)

Serra-Arruda

Mídia oculta conexões Serra-Arruda
Altamiro Borges, sao paulo.
Há algumas semanas, o blogueiro Luis Nassif adverte para um fato grave que continua ignorado pela mídia golpista. “Duas investigações em andamento – a Operação Castelo de Areia e o caso José Roberto Arruda – estão batendo direto no sistema de financiamento de campanha do governador José Serra... Não é nada trivial. Não se trata de denúncias de oposição, de suspeitas, mas de investigações policiais calcadas em provas, depoimentos de testemunhas, documentos”.

No final de dezembro, a revista CartaCapital confirmou a existência da “conexão Serra-Arruda”, como Nassif batizou sua descoberta. Ela revelou que o administrador de empresa Ailton de Lima Ribeiro, “homem de confiança de José Serra”, é um dos envolvidos no escândalo do “mensalão do DEM”. Filiado ao PSDB, Ribeiro trabalhou com Serra no Ministério da Saúde e na prefeitura de São Paulo. Na sequência, prestou serviços ao prefeito demo Gilberto Kassab. Desde março de 2009, ele era um colaborador íntimo de José Roberto Arruda, o governador do Distrito Federal.

“Homem de confiança de Serra”

Segundo aponta a revista, “ao desenrolar o novelo do Arrudagate, o fio das investigações aponta para um esquema formado por uma rede de empresas beneficiadas por contratos milionários no Distrito Federal e em São Paulo”. Ribeiro é o principal envolvido. O gestor tucano já havia sido alvo de outras denúncias. Após ocupar vários cargos importantes no Ministério da Saúde, ele foi afastado do órgão durante as investigações da Máfia do Sangue. Em outubro de 2008, também foi citado no rastro da investigação da Operação Parasitas, que apurou a existência de um grupo de empresas que fraudava e superfaturava contratos na área de saúde com a prefeitura paulistana.

Com o estouro do escândalo do “mensalão do DEM” de Brasília, outro demo, Gilberto Kassab, decidiu suspender o contrato milionário, sem licitação, feito pela Secretaria Municipal de Saúde com o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), no valor de R$ 15,8 milhões. “A prefeitura já havia pago, antecipadamente, R$ 2 milhões. Surpresa: Ribeiro faz parte da diretoria do Iabas. O seu nome consta do site da organização como diretor de gestão em saúde pública”, relata a revista, que descreve outros casos sinistros envolvendo o versátil administrador tucano.

Ensurdecedor silêncio da imprensa

Para o blogueiro Luis Nassif, não há mais dúvidas sobre a existência da conexão Serra-Arruda. A sujeira é fedorenta. Ele observa que a reportagem confirma “um novo operador de José Roberto Arruda, diretamente ligado ao governador Serra. Antes de Arruda, o operador atuou diretamente na montagem do sistema de terceirização da saúde em São Paulo. Há tempos pessoas do setor tinham me dito que o modelo era a reedição dos esquemas pesados do PAS, da gestão de Paulo Maluf”. Luis Nassif é taxativo: “Ailton de Lima Ribeiro é homem de confiança de Serra”.

Ele destaca ainda que “o prefeito Kassab anulou um contrato milionário, sem licitação, entre a Secretaria da Saúde do município – sob responsabilidade de Januário Montone, também ligado diretamente a Serra. Um dos sócios da empresa sob suspeita é o próprio Aílton”. Outra pista é que Ailton seria “o principal responsável pela contratação, em São Paulo, das mesmas empresas de informática que integram o esquema de Arruda”. Diante de tantos indícios, é muito estranho o ensurdecedor silêncio da mídia. Será que existiria também uma conexão Serra-Arruda-mídia?

Jean-Bertrand Aristide

Entrevista com Jean-Bertrand Aristide















Peter Hallward *



Em meados dos anos 80, Jean-Bertrand Aristide era um jovem padre paroquial que trabalhava em um bairro pobre e conflituoso de Porto Príncipe. Corajoso defensor dos direitos e dignidade dos pobres, logo se tornou o mais amplamente respeitado porta-voz de um crescente movimento popular contra a série de regimes militares que controlaram o Haiti depois do colapso da ditadura pró-americana dos Duvalier, em 1986.

Em 1990, venceu a primeira eleição presidencial democrática, com 67% dos votos. Sentido como uma perigosa ameaça pela elite minoritária dominante do Haiti, foi derrubado por um golpe militar em setembro de 1991. Conflitos com essa mesma elite e suas legiões, apoiada por seus poderosos aliados nos EUA e França, tem marcado toda a trajetória política de Aristide: depois de conquistar uma esmagadora vitória nas eleições de 2000, seus inimigos lançaram uma campanha de propaganda massiva para caracterizá-lo como violento e corrupto.

A resistência estrangeira e da elite local por fim culminaria em um segundo golpe contra ele, na noite de 28 de fevereiro de 2004. Amigo e politicamente aliado de Thabo Mbeki, da ANC, Aristide foi para um relutante exílio na África do Sul, onde permanece até os dias de hoje. Apelos para o retorno imediato e incondicional de Aristide continuam a polarizar a política haitiana. Muitos analistas, assim como alguns importantes membros do governo atual reconhecem que, se a constituição permitisse a Aristide candidatar-se novamente a uma reeleição, ele venceria facilmente.

Recluso, o ex-presidente do Haiti veio à tona recentemente com o terremoto que abalou o seu país. Na oportunidade se disse pronto a voltar para o país e ajudar a sua reconstrução. Analistas acreditam que uma eventual volta do ex-presidente poderia provocar uma reviravolta na conturbada política local. Mesmo vivendo em um quase anonimato, Aristide conseguiu conservar uma forte base de simpatizantes na capital e em diversas áreas rurais do Haiti - o que poderia ser interpretado como uma ameaça ou mesmo uma afronta ao seu velho aliado e atual presidente, René Préval.

Um pouco da história e do pensamento de Jean-Bertrand Aristide podem ser conhecidos através da longa entrevista que o ex-presidente concedeu a Peter Hallward filósofo e professor de filosofia na Universidade de Middlesex (Inglaterra). A entrevista, em francês, foi realizada em Pretória (África do Sul) no dia 20 de julho de 2006. O texto completo da entrevista foi publicado em apêndice do livro de Hallward Damming de Flood: Haiti, Aristide and the Politics of Containment (Paperback, 2008).


-Peter Hallward: O Haiti é um país profundamente dividido e você tem sido sempre um personagem profundamente conflituoso. Para a maioria dos numerosos observadores simpatizantes dos anos 90 era fácil entender essa divisão mais ou menos em função de critérios de classe: você foi demonizado pelos ricos e idolatrado pelos pobres. Então, as coisas começaram a ficar mais complicadas. Certos ou errados, ao final da década, muitos dos que originalmente o apoiavam passaram a ficar mais céticos e seu segundo governo (2001 - 2004), do início ao fim, foi implacavelmente perseguido por acusações de violência e corrupção. Apesar de, em todas as medidas possíveis, você permanecer folgadamente como o político mais confiável e popular entre o eleitorado haitiano, parece que você tem perdido muito do apoio que gozava entre partes da classe política, dos trabalhadores, ativistas, intelectuais e outras, tanto no país como no exterior. Muitas de minhas questões referem-se a essas acusações, especialmente a de que, com o passar do tempo, você fez concessões ou abandonou muitos de seus ideais originais. Para começar, gostaria de retornarmos brevemente a um território familiar e perguntar sobre o processo que o conduziu ao poder em 1990. O final dos anos 80 foi um período muito reacionário na política mundial, especialmente na América Latina. Como você explica a considerável força e resistência do movimento popular contra a ditadura no Haiti, movimento que passou a ser conhecido como "Lavalas" - palavra que em creóle significa "inundação", ou "avalanche", assim como "multidão", ou "todos juntos"? Como você explica que, apesar das circunstâncias, e certamente contra os interesses dos EUA, dos militares e de todo o poder que dominava o Haiti, você conseguiu vencer as eleições de 1990?

-Jean-Bertrand Aristide: Grande parte do trabalho já tinha sido feito por pessoas antes de mim. Refiro-me a pessoas como Padre Antonio Adrien e seus companheiros, e Padre Jean Marie Vincent, que foi assassinado em 1994. Eles haviam desenvolvido uma visão teológica progressista que refletia as esperanças e expectativas do povo haitiano. Já em 1979, eu estava trabalhando no contexto da Teologia da Libertação. Há uma frase em particular que ficou marcada em minha mente e que pode ajudar a resumir meu entendimento da situação naquela época. Você deve lembrar-se de que a Conferencia de Puebla aconteceu no México, em 1979, e naquele tempo muitos teólogos da libertação estavam trabalhando sob severas restrições, ameaçados e impedidos de participar. O slogan que ao qual estou me referindo dizia algo como "si el pueblo no va a Puebla, Puebla se quedara sin pueblo" - se o povo não vai a Puebla, Puebla ficará sem povo.
Em outras palavras, o povo é para mim o próprio centro de nossa luta. Não se trata de lutar pelo povo, em nome do povo, à distância do povo; é o povo, ele mesmo, que está lutando. Trata-se de lutar com o povo e no meio do povo.
Isso leva a um segundo princípio teológico, que Sobrinho, Boff e outros entenderam muito bem. A teologia da libertação somente pode ser uma etapa de um processo mais abrangente. Esta etapa, na qual nós temos que começar falando em nome dos pobres e oprimidos, tem fim assim que eles comecem a falar com sua própria voz e com suas próprias palavras. O povo começa a assumir seu próprio lugar na cena pública. A teologia da libertação dá lugar, então, à libertação da teologia. O processo completo leva-nos longe do paternalismo, de toda noção de um "saber" que poderia vir a conduzir o povo e resolver seus problemas. Os padres que eram inspirados pela teologia da libertação naquele tempo entendiam que nosso papel era acompanhar o povo, e não tomar o lugar dele.
No Haiti, a emergência do povo como força pública organizada, como consciência coletiva já tinha começado nos anos oitenta, e, por volta de 1986, essa força era forte o suficiente para afastar a ditadura Duvalier do poder. Foi um movimento da base popular, e não um projeto piramidal, dirigido por um único líder ou uma só organização. Também não foi apenas um movimento político. Ele tomou forma, sobretudo através da construção de numerosas pequenas comunidades eclesiais de base, ou "ti legliz", por todo o país. Foram essas comunidades que desempenharam um papel histórico decisivo. Quando fui eleito presidente, não se tratava somente de um cargo estritamente político, da eleição de um político, de um partido político convencional. Não! Tratava-se da expressão de um grande movimento popular, da mobilização do povo como um todo. Pela primeira vez o Palácio Nacional tornou-se um lugar não só de políticos profissionais, mas para o povo, ele mesmo. O simples fato de permitir-se a pessoas comuns entrarem no palácio, o simples fato de serem bem vindas pessoas das camadas mais pobres da sociedade haitiana no coração central do poder tradicional - isto já foi um gesto profundamente transformador.

- PH: Você hesitou por algum tempo antes de aceitar colocar-se como candidato naquelas eleições de 1990. Você estava perfeitamente consciente de como, considerando-se as relações das forças existentes, a participação nas eleições poderia enfraquecer ou dividir o movimento. Olhando para trás agora, você ainda pensa que foi a coisa certa a fazer? Haveria alguma alternativa viável àquela de seguir a via parlamentar?

- JBA: Eu sou inclinado a pensar a história como um processo de cristalização de diferentes tipos de variáveis. Algumas delas são conhecidas, outras não. As variáveis que nós conhecíamos e entendíamos naquele tempo eram bastante claras. Nós tínhamos uma idéia do que éramos capazes e também sabíamos que aqueles que buscavam manter o status quo tinham inúmeros meios à disposição. Eles tinham toda sorte de estratégias e mecanismos - militares, econômicos, políticos... - para desorganizar qualquer movimento que desafiasse sua continuidade no poder. Mas nós não podíamos saber exatamente como eles se serviriam destes meios. Eles mesmos não poderiam saber. Estavam acompanhando atentamente a forma como o povo lutava para inventar modos de organizar a si mesmo, modos de promover efetivamente este desafio. Isso é o que eu penso acerca de variáveis desconhecidas: o movimento popular estava em processo de ser inventado e desenvolvido, sob pressão, no campo de batalha, e não havia meios de saber de antemão que contra-ataque eles iriam provocar. Agora, dado o equilíbrio desses dois tipos de variáveis, eu não podia voltar atrás. Não recuei em nada. Em 1990, fui convocado por outros no movimento a aceitar a cruz que tinha caído sobre mim. Foi nesses termos que o Padre Adrien descreveu isso e foi assim que eu entendi: eu deveria aceitar o fardo daquela cruz. "Você está no caminho do Calvário", ele disse, e eu sabia que ele estava certo. Quando recusei isso, no início, Monsenhor Willy Romélus, em quem eu depositava muita confiança, como elder e conselheiro, insistiu que eu não tinha escolha. "Sua vida não pertence mais a você", ele disse, "Você a ofereceu em sacrifício ao povo. E agora que uma missão concreta se apresenta a você, agora que você se encontra frente a essa convocação especial, de seguir Jesus e carregar sua cruz, reflita cuidadosamente antes de voltar atrás." Isto era o que eu sabia, e sabia muito bem, então. Foi uma espécie de caminho do Calvário. E assim que decidi, aceitei este caminho tal como ele seria, sem ilusões, sem enganar-me a mim mesmo. Nós sabíamos perfeitamente bem que não seríamos capazes de mudar tudo, que não seríamos capazes de corrigir cada injustiça, que iríamos trabalhar sob severas restrições, e assim por diante.
Suponha que eu dissesse não, que não aceitasse ser candidato, como as pessoas iriam reagir? Entendo agora o eco de certas vozes que perguntavam: "Vamos ver agora se você tem a coragem de tomar essa decisão. Vamos ver agora se você não passa de um covarde para aceitar essa tarefa. Você, que tem proferido os mais belos sermões, o que vai fazer agora? Vai abandonar- nos, ou vai assumir essa responsabilidade de modo que juntos possamos seguir em frente?" E eu pensei sobre isso. Qual a melhor maneira de colocar em prática a mensagem do evangelho? O que eu deveria fazer? Eu lembro como respondi a essa questão, quando, alguns dias antes da eleição de 1990, fui a uma manifestação pelas vítimas do massacre da Viela de Vaillant, no qual vinte pessoas foram mortas pelos Macoutes, no dia das eleições canceladas de 1987. Um estudante perguntou-me: "Padre, o senhor pensa que poderá mudar sozinho essa situação tão corrupta e injusta?" E eu, em resposta, disse-lhe: "Para chover, é necessária uma, ou muitas gotas de chuva? Para uma inundação, basta um fiozinho de água, ou a torrente de um rio?" E eu agradeci a ele por dar-me a chance de apresentar nossa missão coletiva na forma dessa metáfora: não será sozinhos, como gotas de chuva, que você e eu conseguiremos mudar essa situação, mas juntos, como uma inundação ou uma torrente, "lavalassement", que iremos transformá-la, saná-la, sem ilusão de que isso será fácil ou rápido.
Então, haveria alternativas? Acho que não. No entanto, estou seguro de que havia uma oportunidade histórica, e de que nós demos uma resposta histórica, uma resposta que transformou a situação, um passo na direção certa.
Naturalmente, fazendo isso, provocamos uma reação. Nossos oponentes responderam com um golpe de estado. Primeiro, a tentativa de golpe de estado de Roger Lafontant, em janeiro de 1991, e, como ele falhou, o golpe de 30 de setembro de 1991. Nossos oponentes tinham sempre meios desproporcionalmente poderosos de reprimir o movimento popular. Nenhuma simples ação ou decisão poderia mudar isso. O que importa é que nós tínhamos dado um passo adiante, um passo na direção certa, seguido de outros passos. O processo que começou naquele época ainda é forte, apesar de tudo, ainda é forte, e eu estou convencido de que ele virá somente a se fortalecer ,e que, no fim, ele irá prevalecer.

- PH: O golpe de setembro de 1991 aconteceu apesar do fato de as políticas concretas que você aplicou, quando estava no poder, terem sido muito moderadas, muito prudentes. Teria sido um golpe inevitável, então? Apesar do que você fez ou não fez, bastaria que a simples presença de alguém como você no Palácio Presidencial fosse inaceitável para a elite haitiana? E, neste caso, o que mais poderia ser possível fazer para prever e resistir aos violentos contra-ataques?

- JBA: Bom, essa é uma boa questão. Eu entendo a situação do seguinte modo: o que aconteceu em setembro de 1991 aconteceu também em fevereiro de 2004 e poderia facilmente ocorrer novamente no futuro, sempre que a oligarquia que controla os meios de repressão venha a empregá-los para manter uma versão oca de democracia. Essa é sua obsessão: manter uma situação que poderia ser chamada de democrática, mas que, de fato, consiste em uma democracia importada e superficial, controlada de cima para baixo. Eles têm sido capazes de manter essa situação por um longo tempo. O Haiti é independente há 200 anos, mas nós agora vivemos num país onde um por cento da população controla mais que a metade da riqueza. Para a elite, trata-se de estarmos nós contra eles, de procurar um modo de preservar as desigualdades massivas que afetam cada faceta da sociedade haitiana. Nós estamos submetidos a uma espécie de apartheid. Mesmo depois de 1804, a elite tem feito o possível para manter as massas à margem, no outro lado dos muros que protegem seus privilégios. É a isso que nós somos contra. É a isso que qualquer democracia genuína é contra. A elite fará tudo que puder para certificar-se de que controla um presidente fantoche, que controla um parlamento fantoche. Ela fará o que for preciso para proteger o sistema de exploração do qual seu poder depende. A sua questão deve ser colocada em relação a esse contexto histórico, em relação a essa profunda e considerável permanência.

- PH: De fato, mas nesse caso, o que fazer para confrontar o poder dessa elite? Qual a melhor maneira de enfrentar essa violência se, afinal, ela é preparada para usar violência a fim de conter qualquer verdadeira ameaça a sua hegemonia? Apesar da força do movimento popular que o conduziu ao poder, ele não teve força suficiente para conseguir mantê-lo lá, em face à violência que isso desencadeou. As pessoas às vezes comparam-no a Toussaint L`Ouverture, que conduziu seu povo à liberdade e obteve vitórias extraordinárias, conquistadas sob condições extraordinariamente difíceis. Mas Toussaint é também freqüentemente criticado por não ter ido muito longe, por não ter conseguido romper com a França, por não ter conseguido fazer o bastante para manter o apoio do povo. Foi Dessalines quem conduziu a batalha final pela independência e quem pagou o preço daquela batalha. O que você tem a responder aos que dizem (como Patrick Elie, por exemplo, ou Bem Dupuy) que você foi muito moderado, que você agiu como Toussaint numa situação que, de fato, exigia um Dessalines? O que você tem a dizer aos que afirmam que você depositou muita confiança aos EUA e a seus aliados domésticos?

- JBA: Bom... [risos]. "Muita confiança nos EUA", isso me faz rir... Em minha humilde opinião, Toussant L`Overture, como homem, tinha suas limitações. Mas ele deu o melhor de si e, na verdade, não fracassou. A dignidade que ele defendeu, os princípios que ele defendeu, continuam a inspirar-nos até hoje. Ele foi capturado, fisicamente foi preso e morto, sim, mas Toussaint ainda está vivo. Seu exemplo e seu espírito nos guia sempre. Hoje, a luta do povo haitiano é uma extensão de sua campanha pela dignidade e liberdade. Nesses dois últimos anos, de 2004 a 2006, o povo continua a lutar por sua dignidade e recusa-se a ajoelhar-se, recusa-se a se render. Em 6 de julho de 2005, Cité Soleil foi atacada e bombardeada, mas esse ataque, assim como muitos outros similares, não desencoraja o povo em insistir para que suas vozes sejam ouvidas. Eles denunciam a injustiça. Eles votaram para a presidência em fevereiro, e isso também foi uma demonstração de sua dignidade; eles não aceitam mais a indicação de outro presidente de cima para baixo. Esta simples insistência na dignidade é, ela mesma, um mecanismo de mudanças históricas. O povo quer ser o sujeito de sua história, não seu objeto. Assim como Toussaint foi o sujeito de sua história, assim também o povo haitiano tomou e estendeu sua luta, como sujeito de sua história. Mais uma vez, isso não significa que a vitória é inevitável ou fácil. Isso não significa que nós podemos resolver cada problema, ou ainda, que, depois de tratarmos de um problema, aqueles poderosos interesses particulares não irão levar a que se tente todo o possível para desfazer os avanços.
No entanto, alguma coisa irreversível aconteceu. Alguma coisa que fez seu caminho através da consciência coletiva. Esse é precisamente o significado real da famosa afirmação de Toussaint, assim que ele foi capturado pelos franceses, que eles tinham cortado o tronco da árvore da liberdade, mas suas raízes permaneciam profundas. Nossa luta pela liberdade encontrará muitos obstáculos, mas ela não perderá suas raízes. Ela está firmemente enraizada na mente do povo. O povo é pobre, certamente, mas nossas mentes são livres. Nós continuamos a existir como povo, com base nessa tomada de consciência inicial, dessa consciência fundamental do que nós somos. Não é por acaso que quando vieram a escolher um líder, esse povo, essas pessoas que foram mantidas tão pobres e tão marginalizadas pelos poderosos, tenham escolhido, não um político, e sim, um padre. Os políticos deixaram-nos sucumbir. O povo estava procurando por alguém com princípios, alguém que falasse a verdade. De certo modo, isso seria mais importante que sucesso material ou uma pronta vitória sobre nossos adversários. Esse é o legado de Toussaint.
Quanto a Dessalines, a luta que ele conduziu foi a luta armada, foi uma luta militar, e necessária, pois ele tinha que romper as correntes da escravidão de uma vez por todas. Ele conseguiu. Mas será que ainda precisamos levar essa mesma luta, da mesma forma? Penso que não. Dessalines estava errado em lutar daquele modo? Não. Mas nossa luta é diferente. É Toussaint e não Dessalines quem pode ainda acompanhar o movimento popular nos dias de hoje. Sua inspiração conduziu à vitória nas eleições de fevereiro de 2006, que permitiu ao povo manobrar seus adversários para escolher seu próprio líder, contra a vontade do poder constituído.
Para mim isso abre para um ponto mais geral. Nós depositamos muita confiança nos norte-americanos? Fomos muito dependentes de forças externas? Não. Nós simplesmente tentamos permanecer lúcidos e evitar a demagogia fácil. Seria mera demagogia por parte de um presidente haitiano pretender ser mais forte que os americanos, ou de engajar-se numa guerra interminável de palavras, ou opor-se a eles por puro prazer. A única maneira racional de seguir é refletir bem sobre o equilíbrio relativo entre os interesses, compreender o que os americanos querem, lembrarmos do que queremos e avançarmos o possível sobre os pontos de convergência existentes. Vejamos um exemplo concreto: em 1994, Clinton precisava de uma vitória na política externa, e o retorno da democracia no Haiti apresentou-se a ele como uma oportunidade. Nós precisávamos de um instrumento para vencer a resistência do exército haitiano assassino, e Clinton ofereceu-nos esse instrumento. Isso é o que quero dizer por atuar pelo espírito de Toussaint L'Ouverture. Nós nunca tivemos nenhuma ilusão de que os americanos partilhavam de nossos objetivos fundamentais, sabíamos que eles não queriam caminhar na mesma direção, mas sem os americanos nós não poderíamos ter restaurado a democracia.

- PH: Não havia nenhuma outra opção, nenhuma alternativa a não ser recorrer às tropas americanas?

- JBA: Não. O povo haitiano não está armado. É claro que há alguns criminosos e malandros, alguns traficantes de drogas, algumas gangues que têm armas, mas o povo não tem armas. Você está enganando a si mesmo se pensa que o povo pode partir para uma luta armada. Nós temos que olhar a situação nos olhos: o povo está desarmado e nunca terá tanto armamento como seus inimigos. É inútil meter-se numa luta na área dos seus inimigos ou jogar o jogo deles. Você perderia.

- PH: Você não teria pagado um preço muito alto pelo apoio americano? Eles o forçaram a fazer todo tipo de acordo, a aceitar muitas das coisas que você sempre se opôs: um rígido plano de ajustamento estrutural, de políticas econômicas neoliberais, a privatização das empresas públicas, etc. O povo haitiano sofreu muito sob essas restrições. Deve ter sido muito difícil engolir estas coisas durante as negociações de 1993.

- JBA: Certamente, mas você tem que fazer a distinção entre a luta, por um lado, como princípio, a luta para persistir na opção preferencial pelos pobres, que para mim foi inspirada na teologia e é uma questão de justiça e verdade e, por outro, sua luta política, que se conduz por regras diferentes. Conforme sua versão de política você pode mentir e trapacear se isso permitir que consiga seus objetivos estratégicos. A acusação de que havia armas de destruição em massa no Iraque, por exemplo, foi uma flagrante mentira. Mas a partir do momento em que foi um útil caminho para atingir seus objetivos, Colin Powell e companhia tomaram esse rumo.
Quanto ao Haiti, voltando a 1993, os americanos aceitaram com prazer um plano econômico negociado. Quando eles insistiram, através do FMI e de outras instituições financeiras internacionais, na privatização das estatais, eu estava preparado para concordar, a princípio, se necessário - mas recusei-me em simplesmente vendê-las, incondicionalmente, a investidores privados. A corrupção no setor estatal era inegável, mas havia muitas diferentes formas de abordar essa corrupção. Ao invés de privatização sem limites, eu estava pronto para concordar com uma democratização dessas empresas. O que isso significa? Significa uma ênfase na transparência. Significa que alguns dos benefícios de uma fábrica ou uma empresa deveriam ser partilhados entre as pessoas que trabalham para ela. Significa que alguns desses benefícios deveriam ser investidos em coisas como, escolas locais, clínicas de saúde, de modo que os filhos dos trabalhadores possam receber algum benefício proveniente de seu trabalho. Significa criar condições em nível micro que são coerentes com os princípios que queremos guiar o desenvolvimento em nível macro. Os americanos disseram "tudo bem, sem problemas".
Nós assinamos aqueles tratados, e estou em paz com minha decisão até hoje. Eu disse a verdade, ao passo que eles o assinaram em um espírito diferente. Eles o assinaram porque com isso poderiam facilitar meu retorno ao Haiti e assim arranjar a vitória na política externa, mas, assim que eu voltei ao governo, eles já haviam deixado planejada a renegociação dos termos da privatização. E foi exatamente isso que aconteceu. Eles começaram a insistir na privatização sem limites e, novamente, eu disse não. Quiseram então desfazer nosso acordo, e então, lançaram uma campanha de desinformação para fazer parecer que eu não cumpri com a palavra. Isso não é verdade. Os acordos que nós criamos estão lá. As pessoas podem julgar por elas mesmas. Infelizmente nós não tínhamos os meios para vencer a guerra de relações públicas. Eles ganharam a batalha das comunicações, espalhando mentiras e distorcendo a verdade, mas eu ainda sinto que nós ganhamos a batalha real, pois a verdade está conosco.

- PH: E quanto à sua batalha com o exército do Haiti, o mesmo que o derrubou em 1991? Os americanos refizeram esse exército de acordo com suas próprias prioridades de 1915 e desde então ele tem atuado como uma força para a proteção daquelas prioridades. Você foi capaz de desmobilizá-lo a poucos meses de seu retorno, em 1994, mas o modo como isso foi feito permanece controvertido, e você não foi capaz de desmobilizar e desarmar completamente os próprios soldados. Parte deles voltou a persegui-lo vingativamente, durante seu segundo mandato.

- JBA: Novamente, não tenho nenhum arrependimento em relação a isso. Foi absolutamente necessário dissolver o exército. Nós tínhamos um exército de aproximadamente 7.000 soldados, e isso absorvia 40% do orçamento nacional. Desde 1915 ele tinha servido como exército de ocupação interna. Ele nunca enfrentou um inimigo externo. Por que necessitaríamos de um exército como esse, ao invés de uma força policial adequadamente treinada? Nós fizemos o que deveria ser feito. De fato, nós organizamos um programa social para a reintegração de militares desmobilizados, já que eles também são membros da comunidade nacional. Eles também tinham o direito de trabalhar e o estado tinha a responsabilidade de respeitar esse direito. Ainda mais que, você sabe, se eles não encontrassem trabalho, seriam mais facilmente tentados a recorrer à violência ou ao crime, como foram os Tontons Macoutes antes deles. Nós fizemos o melhor que pudemos. O problema não vinha do nosso programa de integração e desmobilização, veio com o descontentamento daqueles que estavam determinados a preservar o status quo. Eles estavam cheios de dinheiro e armas e trabalhavam mão a mão com a máquina militar mais poderosa do planeta. Era fácil para os americanos cooptar quaisquer antigos soldados, treiná-los e equipá-los na República Dominicana e usá-los para desestabilizar o país. Foi exatamente isso o que eles fizeram, mas, eu insisto, não foi um erro desmobilizar o exército. A situação não foi assim, como se nós pudéssemos ter evitado o segundo golpe, o golpe de 2004 se tivéssemos mantido o exército. Ao contrário, se o exército tivesse permanecido intocável, então René Préval nunca teria terminado seu primeiro mandato (1996- 2001), e eu certamente não teria sido capaz de resistir por três anos, de 2001 a 2004.
Agindo desse modo, trouxemos luz sobre o verdadeiro conflito que estava em jogo aqui. Como você sabe, a história do Haiti é pontuada de uma longa série de golpes de estado. Mas, ao contrário dos golpes precedentes, o golpe de 2004 não foi uma ação do "exército" haitiano agindo sob as ordens de nossa pequena oligarquia, em acordo com os interesses estrangeiros, como aconteceu muitas vezes, tal como no golpe de 1991. Não. Desta vez esses poderosos interesses tiveram que fazer o trabalho, eles mesmos, com suas próprias tropas e em seu próprio nome.

- PH: Uma vez que Chambleim e seu pequeno bando de rebeldes foram barrados na periferia de Porto Príncipe e não conseguiam avançar mais, os "marines" americanos entraram em ação e expulsando-o do país.

- JBA: Exatamente. A verdade concreta da situação, a real contradição que orienta essa situação, finalmente vem à tona e aparece inteiramente à opinião pública.

- PH: Voltemos a meados da década de 90. Por um momento, a criação do Partido Fanmi Lavalas em 1996 serviu a função similar, ajudando a revelar as linhas "de fato" do conflito interno que tinha já fraturado a pouco estruturada coalizão das forças que o levaram ao poder em 1990? Por que existiam essas grandes divisões entre você e alguns de seus antigos aliados, pessoas como Chavannes Jean-Batiste e Gérard Pierre-Charles? Quase todo o primeiro mandato de Préval, de 1996 a 200 foi assolado por ataques e oposição de Pierre-Charles e o OPL. Você passou, então, a construir um partido unificado, disciplinado, que pudesse propor e encaminhar um programa político coerente?

- JBA: Não, não foi assim que as coisas aconteceram. Em primeiro lugar, por experiência e por inclinação, eu era um professor, não um político. Eu não tinha experiência em partidos políticos, e estava contente de deixar a outros a tarefa de desenvolver uma organização partidária, de treinar quadros do partido, e assim por diante. De volta a 1991, eu estava contente em deixar tudo isso a políticos de carreira, a pessoas como Gérard Pierre-Charles, e, junto com outras pessoas ele passou a trabalhar nesse sentido assim que a democracia foi restabelecida. Ele nos ajudou a fundar a "Organização Política Lavalas" - OPL, e eu estimulei que algumas pessoas se juntassem a ela. Esse partido venceu as eleições de 1995 e, no final de meu mandato, em fevereiro de 1996, ele tinha a maioria no Parlamento. Mas então, ao invés de continuar a ouvir o povo, depois das eleições, a OPL começou a dar menos atenção a ele. Começou a cair nos padrões e práticas tradicionais dos políticos do Haiti. Ele começou a ficar mais fechado em si mesmo, mais distante do povo, mais inclinado a fazer promessas vazias, e assim por diante. Eu já estava fora do poder e permaneci à distância. Mas um grupo de padres envolvidos com o movimento Lavalas sentia-se frustrado e queria restaurar uma ligação mais significativa com o povo. Eles queriam permanecer em comunhão com o povo. A partir desse momento (1996), o grupo de pessoas que se sentiam dessa maneira, que estavam insatisfeitas com o OPL, formava um grupo conhecido como "a nebulosa" - eles tinham uma posição incerta e confusa. Com o tempo, mais e mais pessoas tornavam-se descontentes com a situação.
Nós nos engajamos em longas discussões sobre o que deveríamos fazer, e Fanmi Lavalas nasceu dessas discussões. Ele surgiu do próprio povo. E mesmo quando veio a constituir-se como uma organização política, ele nunca se concebeu a si mesmo como um partido político tradicional. Se você for ver a constituição da organização vai notar que a palavra "partido" nunca é mencionada. Ele descreve a si mesmo como organização, não como partido. Por quê? Porque no Haiti nós não temos nenhuma experiência política positiva de partidos políticos. Partidos têm sempre sido instrumentos de manipulação e traição. Por outro lado, nós temos uma longa e positiva experiência de organização, de organizações populares - as "ti legliz", por exemplo.
Então, não, não fui eu que "fundei" Fanmi Lavalas como um partido político. Eu apenas dei minha contribuição à formação dessa organização, que oferecia uma plataforma aos que estavam frustrados com o partido OPL, que estavam ainda ativos no movimento mas se sentiam excluídos dele (O OPL rapidamente renomeou a si mesmo como "Organização Neoliberal do Povo em Luta"). Agora, para se efetivar, Fanmi Lavalas necessitava canalizar a experiência de pessoas que conheciam um pouco de política, pessoas que poderiam atuar como líderes políticos sem perder o compromisso com a verdade. Este é o problema mais difícil, claro. Fanmi Lavalas não tem a rígida disciplina e coordenação de um partido político. Alguns de seus membros não têm a experiência necessária para preservar ambos: o compromisso com a verdade e uma efetiva participação política. Para nós, política está profundamente relacionada à ética, esse é o ponto crucial da questão. Fanmi Lavalas não é uma organização exclusivamente política. Por isso políticos não conseguem apropriar-se e utilizar Fanmi Lavalas como trampolim para o poder. Isso nunca será fácil. Os membros do Fanmi Lavalas exigem a fidelidade de seus líderes.

- PH: Essa é uma lição que Marc Bazin, Louis-Gerald Gilles e outros tiveram que aprender durante a campanha eleitoral de 2006.

- JBA: Exatamente.

- PH: Até que ponto Fanmi Lavalas tornou-se uma vítima de seu próprio sucesso? Como a ANC aqui na África do Sul, estava claro desde o início que Fanmi Lavalas seria mais ou menos imbatível nas eleições. Mas isso pode ter vantagens e desvantagens. Como você propõe lidar com os muitos oportunistas que imediatamente procuram se imiscuir na sua organização, gente como Dany Toussant e seus associados?

- JBA: Eu deixei o poder em 1996. Em 1997, Fanmi Lavalas havia emergido como uma organização funcional, com um claro estatuto. Isso foi já um grande passo à frente em relação a 1990. Em 1990, o movimento político era demasiado espontâneo; em 1997, as coisas já eram mais coordenadas. Além da constituição, no primeiro congresso do Fanmi Lavalas nós votamos e aprovamos o programa escrito em nosso "Livre Blanc": "Investir no Humano", que, eu sei, você já conhece. Esse programa não surgiu do nada. Por aproximadamente dois anos nós promovemos encontros com engenheiros, com agrônomos, com médicos, professores, e assim por diante. Nós ouvimos e discutimos os méritos de diferentes propostas. Foi um processo coletivo. O "Livre Blanc" não é um programa baseado em minhas prioridades pessoais ou ideologia. É o resultado de um longo processo de consulta com profissionais em todos esses domínios, e foi compilado como um verdadeiro documento colaborativo. Como o próprio Banco Mundial veio a reconhecer, ele foi um programa genuíno, um plano coerente para a transformação do país. Ele não foi um pacote de promessas vazias.
Agora, no meio dessas discussões, no meio dessa organização emergente, é verdade que você irá encontrar oportunistas, você irá encontrar futuros criminosos e futuros traficantes de drogas. Mas não era fácil identificá-los. Não era fácil descobri-los em tempo e afastá-los em tempo, antes que fosse muito tarde. Muitas dessas pessoas, antes de ganhar um assento no parlamento, comportavam-se perfeitamente bem. Mas, você sabe, para algumas pessoas o poder pode ser como o álcool: depois de um copo, dois copos, uma garrafa inteira... Você já não está lidando com a mesma pessoa. Ele deixa algumas pessoas inconscientes. Essas coisas são difíceis de prever. No entanto, eu penso que, se não houvesse intervenção das potências estrangeiras, nós seríamos capazes de fazer um avanço concreto. Nós tínhamos estabelecido métodos viáveis para a discussão colaborativa e para preservar ligações diretas com o povo. Eu penso que nós teríamos feito um avanço real, dando passos pequenos, lentos, mas seguros.
Mesmo com o embargo sobre a ajuda, nós conseguimos realizar algumas coisas. Nós fomos capazes de investir em educação, por exemplo. Como você sabe, em 1090 havia somente 34 escolas secundárias no Haiti; já em 2001 havia 138. O pouco que nós tínhamos para investir, nós investimos no rumo que indicava o programa "Investir no Humano".

[Tradutor não identificado no material recebido por Adital.
Peter é autor de Damming the Flood: Haiti, Aristide, and the Politcs of Containment (2007), onde expõe o esforço do movimento popular Lavalas e de Jean-Bertrand Aristide para libertar o Haiti de uma ditadura apoiada pelos Estados Unidos].


* Filósofo canadense, especialista em filosofia francesa contemporânea





--------------------------------------------------------------------------------




-----Anexo incorporado-----


_______________________________________________
Cartaoberro mailing list
Cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro

Colapso Econômico


Você está preparado para a chegada do colapso econômico e da nova Grande Depressão?



“Já é matematicamente impossível liquidar a dívida nacional dos EUA”. Quem argumenta é o site The Economic Collapse*, especializado em economia: “Se o governo dos EUA tomasse todos os dólares, centavo a centavo, de todos os bancos, negócios e contribuintes, ainda assim não seria capaz de liquidar a dívida nacional. E se assim fizesse, obviamente a sociedade estadunidense cessaria de funcionar porque ninguém teria mais dinheiro para comprar ou vender fosse o que fosse”. (1)



O site também revela que não é o governo dos EUA quem emite a divisa (quem imprime seu dinheiro), “quem o faz é o Federal Reserve”. E explica que o Federal Reserve é um banco privado, portanto com o objetivo de lucro, instituído e operado por um grupo muito poderoso da elite dos banqueiros internacionais (“homens brancos de olhos azuis”, diríamos em boa alegoria). Basta darmos uma olhadela numa nota de dólar para vermos que se trata de uma “Federal Reserve Note”, pertence, portanto, aos donos do Federal Reserve.



Mais: se os EUA precisarem tomar mais dinheiro emprestado pedem ao Federal Reserve que imprimam mais pedaços de papel verde, chamados “US dollars”, a serem trocados por papéis de cor rosa, chamados de “Títulos do Tesouro dos EUA”, que aumentam o capital dos banqueiros. Assim, o governo coloca mais dólares em circulação ao tempo em que amplia sua dívida e os respectivos juros. E a dívida nacional já atinge hoje os US$ 12 trilhões, diante de um “patrimônio” – todo o dinheiro existente nos Estados Unidos – de US$ 14 trilhões.



Grande parte é dinheiro fantasma: O “patrimônio” leva em consideração o total de notas fiscais, o dinheiro dos cofres dos bancos e seus depósitos nos bancos de reserva, ordens bancárias, travelers checks, outras contas de poupança, contas do mercado monetário, dos fundos mútuos, depósitos a prazo de pequenos valores, e outros. “Dinheiro” que “nem sempre existe”, segundo os economistas do The Economic Collapse, culpa de uma tal “reserva fracionária da banca”. Ou seja, os bancos “multiplicam” as quantias neles depositadas e o dinheiro assim “multiplicado” é apenas papel. Não existe.



Assim, se todo o dinheiro possuído por todos os bancos, pelos negócios e pelos indivíduos dos Estados Unidos fosse totalmente reunido e enviado ao governo, não seria suficiente para liquidar sua dívida nacional. O único meio de fazer mais dinheiro é fazer ainda mais dívida, o que torna o problema ainda pior. É que, segundo a análise do The Economic Collapse, “todo o Sistema Federal de Reserva foi concebido para (...) vagarosamente drenar a riqueza maciça do povo e transferi-la para a elite dos banqueiros internacionais”.



E nós, brasileiros, que temos a ver com isso? Primeiro: uma recessão nos EUA arrasta outros países, como o nosso, que depende em grande parte do poder de compra e das boas condições de venda, enfim, da saúde da economia daquele país. Segundo: há uma tendência política muito forte das nossas instituições de se espelhar nos modelos institucionais dos EUA. Quem não sabe que querem nosso Banco Central independente do governo e dependente do “mercado”, portanto atrelado aos interesses dos grandes banqueiros internacionais.



Para The Economic Collapse, nada mais atual que a profecia de Thomas Jefferson, um dos fundadores da nação estadunidense: "Se o povo alguma vez permitir aos bancos privados que controlem a emissão do seu dinheiro, primeiro pela inflação e depois pela deflação, os bancos e corporações que crescerão em tornos deles (dos bancos) privarão o povo da sua propriedade até que os seus filhos acordem sem lar...”. Um retrato da atual crise.



Não é sem razão que o Brasil tem diversificado suas relações mundo afora, contrariando nossos para sempre colonizados oposicionistas. Não é sem razão que nossa pátria desponta com diretores de fundos internacionais preferindo “títulos do Brasil e moeda da China” (2), pela "expectativa de que vão sobrepujar as economias desenvolvidas em riqueza” e pela postura de "falcão" do Banco Central. Tampouco falta razão à London School of Economics em saudar a criação do G20, porque países como China, Índia e Brasil "agora formam uma parte imensamente importante da economia global" (3).



(*) Artigo original está em: theeconomiccollapseblog.com



(1) http://resistir.info/eua/divida_eua.html



(2) http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20603037&sid=aCOeVAK9L1EE



(3) http://www.chinadaily.com.cn/bizchina/2010-02/05/content_9437111.htm



( * ) Em Boletim H S Liberal você terá acesso às fontes desta postagem e poderá comentá-la.

Estas informações/opiniões não apareceram – ou não mereceram o devido destaque – nos “jornalões”, revistas semanais e blogs mais difundidos. O objetivo é fornecer, ou destacar, contrapontos à tendência ideológica da grande mídia. Assim, estimular o debate democrático do que acontece no mundo e no Brasil. (Favor manifestar-se caso não queira receber as próximas informações).



--------------------------------------------------------------------------------



-----Anexo incorporado-----


_______________________________________________
Cartaoberro mailing list
Cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro

Destaque do Dia




Destaques do Dia
Yeda Crusius assina decreto de repasse de recursos às escolas
Governadora Yeda Crusius, durante solenidade de assinatura de decreto de repasse de recursos públicos a municípios atingidos por vendavais. A verba será destinada à recuperação de escolas.

Local: Porto Alegre - RS
Data: 12/02/2010
Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini
Código: 33481

Desvio através de balsa sobre o rio Jacuí
Transporte de balsa foi providenciado pelo Governo do Estado para a travessia sobre o rio Jacuí, na região de Agudo, através de contratação temporária devido à queda da ponte na RSC-287 em janeiro passado.

Local: Taquari - RS
Data: 12/02/2010
Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini
Código: 33483

Yeda Crusius assina decreto de repasse de recursos às escolas
Governadora Yeda Crusius, durante solenidade de assinatura de decreto de repasse de recursos públicos a municípios atingidos por vendavais. A verba será destinada à recuperação de escolas.

Local: Porto Alegre - RS
Data: 12/02/2010
Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini
Código: 33480

Yeda Crusius assina decreto de repasse de recursos às escolas
Governadora Yeda Crusius, durante solenidade de assinatura de decreto de repasse de recursos públicos a municípios atingidos por vendavais. A verba será destinada à recuperação de escolas.

Local: Porto Alegre - RS
Data: 12/02/2010
Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini
Código: 33479

Atropelado Acorda 20 Dias Depois

ATROPELADO ACORDA 20 DIAS DEPOIS



Desta vez o pardal da BR116 (Distrito Industrial) não ajudou e um carro de Ijuí, atropelou um adolescente de 14 anos (defronte na Rubifrut). O acidente com o ciclista RAMON FERREIRA, foi no dia 23 de janeiro passado e gerou a mais dramática busca por um leito em hospitais de centros maiores, coordenados pela Central de Leitos do SUS em Porto Alegre.



Filho do caminhoneiro Gelson Ferreira (Vacaria), Ramon foi internado em estado de coma na nova UTI do Hospital Nossa Senhora da Oliveira. Apesar de todos os cuidados médicos e dos modernos equipamentos, era necessário removê-lo para um centro maior para monitoramento do cérebro.



Os dias passaram Ramon não saiu do estado de inconsciência e seus pais percorreram todos os caminhos possíveis. Mobilizaram pessoas, diante da falta de resposta da Central de Leitos. Gelson Ferreira chegou ao extremo de apelar para a justiça, que abriu processo, pedindo informações às autoridades médicas.



Na sexta-feira 12/02, depois de 21 dias de sono profundo, a enfermeira responsável pela UTI chamou suas colegas e médicos para comemorar a volta de Ramon. O adolescente abriu os olhos, respondeu aos sinais vitais e apenas não falou, pois está entubado para facilitar sua alimentação e medicação.



Os pais foram chamados antes da meia noite para receber a melhor notícia "o filho acordou depois de vinte dias em estado de coma". Mesmo assim ele deverá ser removido para um centro maior, para exame de possíveis seqüelas no cérebro, em consequência do acidente sofrido em 23 de janeiro passado.





Deputado Estadual Francisco Appio - www.appio.com.br

Médicos de Cuba no Haiti

02.10 -

Médicos de Cuba no Haiti: a solidariedade silenciada

José Manzaneda *

Adital -
Tradução: ADITAL
[Esse texto, traduzido por Adital, é o roteiro do seguinte vídeo, em espanhol: http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&task=view&id=13417&Itemid=86
Você pode inserir seus comentários sobre o vídeo no YouTube e participar no debate: http://www.youtube.com/watch?v=6DikHDHXvL0]


Os aproximadamente 400 cooperantes da Brigada médica cubana no Haiti foram a mais importante assistência sanitária ao povo haitiano durante as primeiras 72 horas após o recente terremoto. Essa informação foi censurada pelos grandes meios de comunicação internacionais.


A ajuda de Cuba ao povo haitiano não começou por ocasião do terremoto. Cuba atua no Haiti desde 1998 desenvolvendo um Plano Integral de Saúde(1), através do qual já passaram mais de 6.000 cooperantes cubanos da saúde. Horas depois da catástrofe, no dia 13 de janeiro, somavam-se à brigada cubana 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente "Henry Reeve", que voaram de Cuba com medicamentos, soro, plasma e alimentos(2). Os médicos cubanos transformaram o local onde viviam em hospital de campanha, atendendo a milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações cirúrgicas em 5 pontos assistenciais de Porto Príncipe. Além disso, ao redor de 400 jovens do Haiti formados como médicos em Cuba se uniam como reforço à brigada cubana(3).

Os grandes meios silenciaram tudo isso. O diário El País, em 15 de janeiro, publicava uma infografia sobre a "Ajuda financeira e equipamentos de assistência", na qual Cuba nem sequer aparecia dentre os 23 Estados que havia colaborado(4). A cadeia estadunidense Fox News chegava a afirmar que Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram ajuda.

Vozes críticas dos próprios Estados Unidos denunciaram esse tratamento informativo, apesar de que sempre em limitados espaços de difusão.

Sarah Stevens, diretora do Center for Democracy in the Americas(5) dizia no blog The Huffington Post: Se Cuba está disposta a cooperar com os EUA deixando seu espaço aéreo liberado, não deveríamos cooperar com Cuba em iniciativas terrestres que atingem a ambas nações e os interesses comuns de ajudar ao povo haitiano?(6)

Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e agora vinculado ao Center for American Progress(7), pedia ao governo de Obama "aproveitar a experiência de um vizinho como Cuba" que "tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo" e com quem "temos muito o que aprender"(8).

Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado propôs entregar às brigadas médicas equipamento duradouro médico com o uso de helicópteros militares dos EUA, para que possam deslocar-se para localidades pouco accessíveis do Haiti(9).

E Steve Clemons, da New America Foudation(10) e editor do blog político The Washington Note(11), afirmava que a colaboração médica entre Cuba e EUA no Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper, inclusive, o estancamento que existe nas relações entre Estados Unidos e Cuba durante décadas(12)

Porém, a informação sobre o terremoto do Haiti, procedente de grandes agências de imprensa e de corporações midiáticas situadas nas grandes potências, parece mais a uma campanha de propaganda sobre os donativos dos países e cidadãos mais ricos do mundo. Apesar de que a vulnerabilidade diante da catástrofe por causa da miséria é repetida uma e outra vez pelos grandes meios, nenhum quis se debruçar para analisar o papel das economias da Europa ou dos EUA no empobrecimento do Haiti. O drama desse país está demonstrando uma vez mais a verdadeira natureza dos grandes meios de comunicação: ser o gabinete de imagem dos poderosos do mundo, convertidos em doadores salvadores do povo haitiano quando foram e são, sem paliativos, seus verdadeiros verdugos.

Quadro Informativo 1. Dados da cooperação de Cuba com o Haiti desde 1998:

- Desde dezembro de 1998, Cuba oferece cooperação médica ao povo haitiano através do Programa Integral de Saúde;

- Até hoje trabalharam no setor saúde no Haiti 6.094 colaboradores que realizaram mais de 14 milhões de consultas médicas, mais de 225.000 cirurgias, atendido a mais de 100.000 partos e salvado mais de 230.000 vidas

- Em 2004, após a passagem da tormenta tropical Jeanne pela cidade de Gonaives, Cuba ofereceu sua ajuda com uma brigada de 64 médicos e 12 toneladas de medicamentos.

- 5 Centros de Diagnóstico Integral, construídos por Cuba e pela Venezuela, prestavam serviços ao povo haitiano antes do terremoto.

- Desde 2004 é realizada a Operação Milagre no Haiti e até 31 de dezembro de 2009 haviam sido operados um total de 47.273 haitianos.

- Atualmente, estudam em Cuba um total de 660 jovens haitianos; destes, 541 serão diplomados como médicos.

- Em Cuba já foram formados 917 profissionais, dos quais 570 como médicos. Cuba coopera com o Haiti em setores tais como a agricultura, a energia, a pesca, em comunicações, além de saúde e educação.

- Como resultado da cooperação de Cuba na esfera da educação, foram alfabetizados 160.030 haitianos.

Quadro 2. Dados das atuações do Contingente Internacional de Médicos Cubanos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias, Brigada "Henry Reeve", anteriores à cooperação no Haiti:

- Desde sua constituição, a Brigada Henry Reeve cumpriu missões em 7 países, com a presença de 4.156 colaboradores, dos quais 2.840 são médicos.

- Guatemala (Furacão Stan): 8 de outubro de 2005, 687 colaboradores; destes 600 médicos.

- Paquistão (Terremoto): 14 de outubro de 2005, 2 564 colaboradores; destes 1 463 médicos.

- Bolívia (inundações): 3 de fevereiro de 2006-22 de maio, 602 colaboradores; destes, 601 médicos.

- Indonésia (Terremoto): 16 de maio 2006, 135 colaboradores; destes, 78 médicos.

- Peru (Terremoto): 15 de agosto 2007-25 de março 2008, 79 colaboradores; destes, 41 médicos.

- México (inundações): 6 de novembro de 2007 - 26 de dezembro, 54 colaboradores; destes, 39 médicos.

- China (terremoto): 23 de maio 2008-9 de junho, 35 colaboradores; destes, 18 médicos.

- Foram salvas 4 619 pessoas.

- Foram atendidos em consultas médicas 3.083.158 pacientes.

- Operaram (cirurgia) a 18 898 pacientes.

- Foram instalados 36 hospitales de campanha completamente equipados, que foram doados por Cuba (32 ao Paquistão, 2 a Indonésia e 2 a Peru).

- Foram beneficiados com próteses de membros em Cuba 30 pacientes atingidos pelo terremoto do paquistão.

Notas:

(1) http://cubacoop.com
2) http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&id=153705&Itemid=1
(3) http://www.ain.cu/2010/enero/19cv-cuba-haiti-terremoto.htm
(4) http://www.pascualserrano.net/noticias/el-pais-oculta-344-sanitarios-cubanos-en-haiti
(5) http://democracyinamericas.org
(6) http://www.huffingtonpost.com/sarah-stephens/to-increase-help-for-hait_b_425224.html
(7) http://www.americanprogress.org/
(8) http://www.csmonitor.com/USA/Military/2010/0114/Marines-to-aid-Haitian-earthquake-relief.-But-who-s-in-command
(9) http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/01/14/AR2010011404417_2.html
(10) http://www.newamerica.net/
(11) http://www.thewashingtonnote.com/
(12) http://www.thewashingtonnote.com/archives/2010/01/american_diplom/

**********

Leia também em espanhol:

Enviamos médicos y no soldados (Fidel Castro Ruz, Enero 23 de 2010, 5 y 30 p.m.)


* Coordinador de Cubainformación

Plenária de Articulação

Plenária de Articulação da Campanha Nacional AFIRME-SE! Pela manutenção da política de cotas no STF.
Plenária Estadual de Mobilização e Articulação da Campanha Nacional "AFIRME-SE!"
Proposta de retirar um documento do RS e articular a presença de uma delegação gaúcha na Audiência de julgamento da Política de Cotas no STF - Supremo Tribunal Federal de 03 à 05 de maio de 2010, em Brasília/DF.
O objetivo do evento é ajudar a organizar a Campanha de repercussão nacional a partir da mobilização de entidades e militantes que lutam em defesa das ações afirmativas no Brasil. O Supremo Tribunal Federal entre 3 e 5 de março, através de uma audiência pública, iniciará as discussões que irão pôr em xeque a legitimidade constitucional das cotas nas Universidades Públicas.
A Campanha afirme-se! Tem como propósito despertar a sociedade brasileira para o ataque iminente que põe em risco a continuação de políticas que beneficiam os setores historicamente excluídos e marginalizados do país. Caso o Supremo Tribunal Federal julgue inconstitucional a adoção dessas ações afirmativas, as cotas serão retiradas das universidades públicas o que será uma grande derrota para o movimento negro, quilombolas, indígenas, movimento gay e até o Estatuto da Igualdade Racial estará sendo ameaçado.
Contexto:
O sistema de cotas surgiu nos EUA, na década de 60, no período de lutas intensas por ações afirmativas naquele país. Influenciados por líderes como Marthin Luther King a comunidade negra norte-americana conseguiu adotar a reserva de vagas nas universidades brancas e segregadas dos Estados Unidos. Entretanto, após denúncias de que as cotas estavam aumentando a desigualdade racial e a legitimidade republicana, a Suprema Corte pôs fim ao regime cotista.
No Brasil, as políticas de ação afirmativa foram sistematizadas após a promulgação da Lei nº 3.708 como fruto de inúmeras mobilizações e reivindicações do movimento negro organizado. Entretanto, essa conquista histórica está sendo posta em ataque por processos que estão em trâmite no Supremo Tribunal Federal. O principal argumento utilizado pelos autores dos processos é o seguinte: a reserva de cotas com o intuito de aumentar a participação de negros nas universidades brasileiras viola a Constituição federal, que garante, no artigo 206, "igualdade de condições para o acesso" à escola e ensino gratuito "em estabelecimentos oficiais". Por isso, a Campanha Afirme-se! – Pela Manutenção no STF das Políticas de Ação Afirmativa espera contar com o apoio do movimento social na plenária de articulação e mobilização, para que juntos possamos lutar contra esse ataque aos direitos conquistados pela população que sempre esteve à margem das benesses do Estado.
Acesse, divulgue, repasse e colabore: http://afirmese. blogspot. com

Data: 19 de fevereiro (sexta-feira)
Local: Sala Salzano Vieira da Cunha – 3º andar – Assembléia Legislativa do Estado do RS.
Praça Marechal Deodoro, 101 – Centro – Porto Alegre/RS
Horário: 18 horas.

Contatos:
51.91792404
53.99491618
Obs.: Favor divulgar em suas listas de conta.
Asé.
José Antonio dos Santos da Silva
WWW.joseantoniodoss antosdasilva. blogspot. com



__._,_.___

News Negro

BBB 10: Uill faz um balanço sobre sua participação no programa
Extra Online
Causou espanto no dançarino saber que Nanda comentou no reality show que ele “nem é tão negro assim”. — Sou negro, sim, e com muito orgulho. ...
Veja todos os artigos sobre este tópico

África do Sul comemora 20 anos da libertação de Nelson Mandela
O Globo
Entre a multidão de maioria negra que agitava as bandeiras pretas, verdes e douradas do Congresso Nacional Africano (CNA) de Mandela estavam outros heróis ...
Veja todos os artigos sobre este tópico

Prorrogadas inscrições para os editais de Cultura Negra e LGBT
Jornal Feira Hoje
Aqueles que ainda não inscreveram seus projetos nos editais de Cultura Negra e Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros (LGBT) da ...
Veja todos os artigos sobre este tópico
Comunidade Negra tem nova diretoria
Jornal da Cidade - Baurú
Os membros titulares do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bauru (CMCNB), gestão 2010/2011, em reunião realizada anteontem, elegeram a nova diretoria ...
Veja todos os artigos sobre este tópico




|||||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||
HEITOR (((((º_º))))) CARLOS
http://portodoscasa is.blogspot. com/
|||||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||||||| ||||
............ ......... ......... .
__._,_.___

Glória x Lageadense


Glória recebe o Lajeadense neste sábado


Equipe faz segunda partida em casa(foto:arquivo) Faltou objetividade e tranquilidade para o time do Glória nesta quinta-feira em Porto Alegre diante do Cruzeiro. Foram pelo menos cinco chances de marcar o gol, sendo que em duas ocasiões o lateral Thiago Machado estava completamente livre. O Cruzeiro também desperdiçou oportunidades. Em uma delas após uma falha do goleiro do Glória o centroavante do adversário tocou a bola para fora de forma impressionante. Final: 0 a 0.
A partida foi marcada também pela expressiva quantidade de faltas. Quatro atletas do Leão da Serra receberam cartão amarelo.
O forte calor provocou um desgaste muito grande no Glória. Três jogadores do sistema defensivo foram substituídos por causa do cansaço.
O Glória volta a jogar neste sábado,13/02, às 19h, contra o Lajeadense no Altos da Glória.
Glória: Márcio,Thiago Machado,Valdemar(Cirilo), André Alagoano(Jucimar),Fabrício(Edimar), Ivanildo, Márcio Souza, Léo Maringá, Rodrigo Couto, Lucas e Silvano.
Cartões amarelos: Valdemar, Fabrício, Rodrigo Couto e Jucimar.
Os jogadores treinam nesta sexta-feira,12/02, e já concentram para o jogo contra o Lajeadense neste sábado, 13/02, às 19h.
A arbitragem dessa partida será de Márcio Bombassaro.
Acesse: www.fatima.am.br/gloria



Rádio Fátima AM (Jornalismo), 12/02/2010, 10h15

Reforço no Policiamento

Estado reforça policiamento nas rodovias para evitar acidentes no Carnaval
12/02/2010 09:07


Para evitar acidentes e coibir motoristas alcoolizados durante o período de Carnaval, o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) irá reforçar o policiamento nas rodovias estaduais. Nessa quinta-feira (11/02) à noite, teve início a Operação Carnaval, com 150 viaturas e 788 policiais militares em revezamento de escalas. Também serão utilizados 56 etilômetros (aparelhos que medem a quantidade de álcool no sangue) no Litoral.

O reforço abrange principalmente os deslocamentos aos litorais Norte e Sul e a Serra. Três infrações terão atenção especial: embriaguez ao volante, excesso de velocidade e ultrapassagens indevidas. De acordo com o comandante do CRBM, tenente-coronel Edar Borges Machado, os esforços se concentrarão nas viagens para as praias e no retorno das mesmas, além de deslocamentos durante as madrugadas. "A ação serve para que todos possam viajar e voltar sem acidentes e autuações."

A maior movimentação de veículos é esperada para sexta-feira (12), entre 18h e 24h. Policiais militares irão coibir motoristas alcoolizados ao volante no deslocamento de veranistas entre as praias durante a madrugada. O pico de retorno deverá ocorrer na terça-feira (16), entre 9h e 11h, 15h e 17h e 20h e 22h. Na RS-040, uma das principais via de acesso às praias do Litoral Norte, o pico se inicia às 15h e vai até as 23h. Os motoristas devem evitar esses horários.

Segundo Machado, os passageiros dos veículos deverão mudar sua postura em relação ao trânsito. "Os ocupantes também têm de assumir a responsabilidade da segurança da viagem. Se o motorista dirigir de forma indevida, todos serão vítimas", explica. Ele destaca que qualquer manobra indevida de outro motorista deverá ser denunciada ao CRBM, pelo telefone 198.

Fonte: Site do Governo do Estado

Operação Golfinho

Operação Golfinho reforça efetivo para o feriado de Carnaval
12/02/2010 09:40


O Governo do Estado, por meio da Operação Golfinho da Brigada Militar, irá intensificar as atividades no feriado de Carnaval, quando aumentará o fluxo de pessoas no Litoral. Serão empregados jet skis e patrulhamento aéreo, com helicópteros. Outra ação é a distribuição de folhetos educativos nas praças de pedágios e o emprego das crianças do projeto Patrulha do Mar para o convencimento e conscientização de banhistas.

Dados da Operação Golfinho mostram crescimento de 116,22% nos casos de salvamentos de vítimas no mar em relação ao mesmo período ano passado, com 2.098 resgates até essa quinta-feira (11). Desses salvamentos, 1.842 aconteceram no Litoral Norte, 183, no Litoral Sul, e 73 em rios. "A imprudência continua a ser o principal fator de risco, que levam os banhistas a se colocarem em situação de risco", afirma o major Paulo Roberto de Ávila, comandante dos Salva-Vidas, ao ressaltar que as pessoas devem evitar entrar na água após as refeições ou terem ingerido bebidas alcoólicas.

Dos 224 postos de salva-vidas no Litoral Norte, 173 são permanentes e 51 não-permanentes. Nos permanentes não há intervalo, e o serviço é feito com revezamento, das 9h30min às 13h30min. Nos locais dos não-permanentes, onde é pequeno o fluxo de banhistas, o atendimento é das 9h30min às 13h30min, voltando das 15h30min às 18h30min.

Fonte: Site do Governo do Estado

Haiti

Um mês após tremor no Haiti, só um terço dos desabrigados foi atendido e haitianos seguem em risco


Um mês após o terremoto que arrasou o Haiti, a ONU vive uma crise interna, promove mudanças em sua estratégia, é obrigada a lidar com a vaidade de seus embaixadores da boa vontade e não consegue atender todos os necessitados. Apenas um em cada três haitianos desabrigados tem hoje uma barraca para passar a noite.

A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 12-02-2010.

Se os dados estiverem corretos, o número de mortos no Haiti supera o de vítimas do tsunami que atingiu a Ásia em 2004. O governo, que hoje declara dia de luto nacional, chegou a falar em 230 mil mortos. Mas há discrepâncias. Alguns ministérios falam em 217 mil mortes. Nenhuma entidade internacional confirma esses números, enquanto há dúvidas sobre a metodologia usada pelo governo para calcular as vítimas.

Segundo a ONU, 250 mil casas e 30 mil escritórios comerciais foram destruídos. Os escombros dariam para construir 200 estádios de futebol. Hoje, 1,2 milhão de pessoas estão desabrigadas. Apenas um terço foi atendido. Quase 500 mil deixaram a capital, Porto Príncipe, rumo ao interior. A ONU ainda sofreu a maior perda de funcionários de sua história em um único acidente.

A questão de abrigos é a mais crítica. Nos primeiros dias da crise, a Organização Internacional de Migrações (OIM) ficou encarregada de adotar uma estratégia para abrigar os que perderam suas casas. A opção inicial foi apelar por barracas e governos de todo o mundo enviaram os produtos ao Haiti. Um mês depois, constataram que a temporada de furacões começará e a estratégia foi um erro.

Outro fracasso foi a tentativa inicial de criar amplos campos para desabrigados. Não havia espaço para receber 50 mil pessoas e havia o risco de que um acampamento desse tamanho se transformasse em uma favela. O Estado obteve confirmações de que a OIM foi afastada nesta semana do trabalho. A tarefa de encontrar abrigos ficou com a Cruz Vermelha.

A corrida agora é para construir casas provisórias ou galpões antes da chegada das tempestades. Em 2008, quatro furacões atingiram o Haiti, deixando 800 mortos. Se os desabrigados não receberem moradias logo, serão novas vítimas das tempestades.

Enquanto o país vive uma situação crítica, a ONU enfrenta uma saia-justa diante da demanda de seus embaixadores da boa vontade, que insistem em visitar o Haiti. A última foi Angelina Jolie. A decisão de realizar a visita causou um mal-estar na ONU. Funcionários disseram que tiveram de parar seus trabalhos para acompanhar a estrela de Hollywood.








O Haiti, antes e depois da eminência de uma tragédia anunciada

Jose Luis Patrola

Quem foram eles na busca da independência ?

A conquista da independência haitiana efetivada mediante uma verdadeira guerra de escravos contra o exército de Napoleão no ano de 1804 se tornou a primeira revolta de escravos que triunfara na história da humanidade reativando as lutas pela independência no continente. A revolução haitiana rompera com três grandes lógicas do período colonial; a escravidão, a dependência e a propriedade da terra. Os principais lutadores pela liberação colonial latino americana daquele período como Jose Martí e Simon Bolívar espelharam-se na revolução haitiana. Ao mesmo tempo, os ideais internacionalistas da solidariedade e do apoio mútuo estiveram presentes na estratégia política dos principais generais haitianos como Dessalines, Petion, Kristophe e outros que venceram as batalhas contra o exército do império francês.

Em março de 1806, durante o governo do pai da pátria haitiana, Jean Jacques Dessalines, Francisco de Miranda (um dos pais da pátria venezuelana) desembarcou no Haiti e jurou levar aquele exemplo vitorioso e inspirador para seu país e para todo o continente. Naquele momento, o país que acabara de sair de uma guerra que havia durado mais de 13 anos não tinha muito a contribuir além do exemplo e da inspiração aos demais lutadores. Miranda retornou à Venezuela inspirado.

Em 1815, depois de ter travado várias batalhas contra os espanhóis na costa caribenha Simon Bolívar desembarcou na ilha liberta. Seu exército havia sofrido várias baixas e se encontrava muito enfraquecido, além de lhe faltar recursos básicos para uma série de batalhas que alguns anos após triunfariam. Na época, o governo da recém fundada república haitiana, Alessandro Petion, realizara uma campanha nacional para arrecadar fundos para o Libertador latino americano. Uma imensidade de armas, alimentos, água, barcos e um batalhão de 300 combatentes conformou a solidariedade do povo haitiano para fortalecer a luta que encabeçava Bolívar pela independência na América Latina naquele momento. Em 1816 a mesma ajuda seria repetida.

A conquista da independência da Venezuela, Colômbia, Equador e Bolívia levada a cabo por Simon Bolívar foi capaz graças a solidariedade haitiana que exigia apenas a liberação colonial como reciprocidade. Não há dúvidas que, em grande parte, o triunfo de Miranda e Bolívar se efetivou com o apoio daquele pequeno país liberto que servira de base para o fortalecimento das lutas pela independência no continente.

Depois de 1825 o Haiti ingressa num processo de grave crise econômica sendo obrigado a pagar uma dívida milionária por sua independência. Naquela época, a França impôs um novo mecanismo de colonização; a partir desse período quase toda a economia do país se destinou ao pagamento da “dívida da independência”. Depois desse evento lamentável a economia haitiana jamais se recuperaria pois mergulhara em várias crises estruturais relacionadas á terra e ao meio ambiente, a autonomia econômica e a autonomia política.

Um século de ocupação militar norte americana;

No início do século XX os Estados Unidos começam a exercer influencia sobre a região e para assegurar o controle absoluto instala em 1915 a primeira ocupação militar norte americana. Os 19 anos de ocupação militar alem de estabelecer uma “nova ordem econômica” forçando um novo reordenamento territorial e demográfico a partir de interesses de empresas agrícolas, elimina fisicamente uma geração de lutadores sociais. Benwa Batravil e Chalmay Peralt, junto a mais de 19 mil haitianos, foram assassinados após travarem sangrentas batalhas contra os marines daquele momento.

No ano de 1957 após receber o apoio direto e irrestrito de organismos norte americanos o ditador Jan-Claude Duvalier assume o poder impondo a ferro e fogo um terrível silencio ao povo haitiano. Após a morte de Jean-Claude, seu filho François Duvalier foi nomeado presidente em reunião ocorrida na própria embaixada dos Estados Unidos em Porto Príncipe. Em 1986, após forte movimento interno a ditadura é derrubada deixando um saldo de mais de 30 mil mortos finalizando a segunda ocupação militar norte americana.

Em 1991 após sete meses de governo do presidente democraticamente eleito Jean Bertran Aristides, um golpe militar patrocinado pelos Estados Unidos em aliança com setores locais derruba o primeiro presidente eleito nas primeiras eleições livres na história do Haiti. Por três ano a violência se instalaria com a presença de 20 mil marines deixando um saldo aproximado de 4 mil mortos na efetivação da terceira ocupação militar norte americana

No ano de 2000 Aristides seria eleito presidente pela segunda vez. Nesse período o Haiti comemoraria 200 anos de sua independência. Aristides, eleito democraticamente começara a cobrar a “divida histórica” existente de países como Estados Unidos e Franca para com o pequeno país caribenho. Não contente com as exigências feitas naquela ocasião, setores norte americanos patrocinam uma campanha “cívico para militar” desestabilizando o governo de Aristides. Em 2004 tudo estava preparado para a efetivação da quarta ocupação militar norte americana apoiada pela Franca.

No dia 12 de janeiro do ano de 2010 um terrível terremoto afeta duramente o empobrecido e desestruturado país. De imediato, os Estados Unidos decidem, unicamente por sua “boa vontade” enviar 20 mil marines, portam aviões, helicópteros e outros instrumentos de guerra. Nessa ocasião se efetiva a quinta e maior ocupação militar norte americana. Esta por sua vez, estendida a todo o continente sul americano.

O terremoto e os efeitos colaterais;

Depois de todo o sensacionalismo midiático envolvendo a tragédia, começam aparecer os verdadeiros estragos ocasionados pelo abalo sísmico no interior da sociedade. Vejamos; A zona mais populosa do país com toda sua precária estrutura urbana destruída; Centenas de milhares de pessoas sem casas e sem perspectivas de trabalho; Uma nova ocupação militar massiva preparada para a guerra; Uma massiva migração urbano rural inchando ainda mais o empobrecido meio rural; Empresas especialistas em segurança e reconstrução criam sites oferecendo-se para “ajudar” o país pobre; A imposição do controle norte americano, consentido pelo governo local, distante de qualquer decisão da ONU e da OEA; Uma população pobre, desorganizada, mas resistente mostrando-se capaz de enterrar seus mortos e lutar contra a morte eminente.

Onde o problema é mais grave;

Os problemas sociais do Haiti sempre foram graves. As denuncias de ausência de infra-estrutura básica e inexistência de programas estruturantes de ajuda encheram páginas entrando e saindo nos olhos e nos ouvidos de muitos. Com o terremoto, os problemas se agravaram ainda mais e a impossibilidade de não ver e de não escutar fez com que a dita “comunidade internacional” olhasse de maneira mais séria àquele país duramente castigado pelas forças da natureza e pelas potencias internacionais.

É evidente que, o atual momento consiste em ajudar naquilo que consideramos emergencial. Significa auxilio em alimentação, água, saúde, acampamentos assegurando condições mínimas para os atingidos. No entanto, a médio prazo já sentimos a necessidade da ajuda estrutural no processo de reconstrução e na ativação de produção de alimentos. O Haiti necessita urgentemente de reforçar sua capacidade produtiva com um processo de incentivo a produção rápida de legumes, de grãos, de aves e porcos, construção de açudes para armazenamento de água, bem como um urgente plano de reflorestamento. A maior parte da economia haitiana sempre foi rural e agora a já pobre população receberá cerca de um milhão a mais de habitantes e terá incumbência de produzir alimentos prioritariamente para este novo público bem como para a população das zonas afetadas. Os movimentos sociais camponeses do Haiti em conjunto com governos progressistas do continente e do mundo deverão instalar uma revolução agrária para não permitir o aumento ainda maior da fome e a possibilidade de uma catástrofe demográfica eminente e sem precedentes históricos.

A solidariedade consiste em ajudar a resolver os problemas mais graves e estruturais da sociedade haitiana. Ajudar aos camponeses significa atacar o problema por sua raiz.

Na da história da humanidade os camponeses sempre conformaram a categoria social mais solidária nas relações sociais internas a eles. No caso haitiano se comprova mais uma vez essa realidade. Milhares de pessoas migram das zonas afetadas buscando melhores condições nas zonas não afetadas. Mais de 10 por cento da população migra de maneira desesperada buscando a solidariedade. Os pobres se tornarão ainda mais pobres. A fome se tornará ainda mais eminente. A falta de água será constatada de forma ainda mais sistemática. A população se auto ajudará ainda mais. E nós, o que faremos na eminência de uma tragédia anunciada?



Jose Luis Patrola, membro do MST e coordenador do programa de cooperação entre a Via Campesina e organizações camponesas do Haiti, residente no Haiti.














Não haverá muro que detenha os haitianos no País'. Entrevista com Jared Diamond


O geógrafo, ganhador do prêmio Pulitzer, analisou o fracasso das sociedades poderosas e o colapso ao qual o mundo se vê condenado. Já tinha alertado sobre o Haiti. Mas vê esperança.

A entrevista é de Rocío Ayuso e está publicada no El País, 07-02-2010. A tradução é do Cepat.

A chuva é torrencial. Los Angeles, em estado de emergência. As evacuações em zonas devastadas meses atrás pelos incêndios florestais, um fato. Jared Diamond, geógrafo norte-americano de 71 anos e professor de Geografia na Universidade da Califórnia, não se mostra preocupado, mesmo que a sua casa esteja em um desses lugares alagados. “Em uma semana choverá tanto quanto em todo o ano de 2009”, afirma.

Mas, não está imune ao caos. Porque este fisiólogo evolutivo, antropólogo e historiador é autor de Colapso (Record, 2007). E quando se é capaz de analisar clara e serenamente porque algumas sociedades perduram enquanto outras, como os maias ou os vikings, se extinguiram em seu auge, ou de ganhar o Pulitzer e escrever um best-seller Armas, germes e aço [Record] (estudo do modo como algumas culturas triunfam sobre outras), as condições meteorológicas californianas não vão romper a sua tranquilidade. Mesmo a situação atual do Haiti, país devastado por um terremoto de magnitude 7 e centro de muitos de seus estudos, não parece tirar-lhe o sono. Pelo contrário. Acusado às vezes de catastrófico e até de racista por recordar os perigos aos quais o mundo parece estar condenado, o terremoto que sacudiu a ilha que Colombo batizou, em 1492, de Espanhola parece dar-lhe esperança.

Em Colapso descreveu o Haiti como exemplo de sociedade atual à beira do abismo. Um país com desvantagens ambientais em relação à vizinha República Dominicana agravadas por decisões históricas, comerciais e políticas que durante séculos o mergulharam na miséria. E o terremoto os deixa sem o pouco que tinham.

Eis a entrevista.

Qual foi a sua reação diante do terremoto?

Foi gradual. Primeiro, assumir a notícia; os dados falavam de 100.000 mortos; depois, ver a incapacidade do Governo haitiano diante do problema ou a reabertura do aeroporto sob o controle do Exército norte-americano. E a pergunta, qual é o futuro do Haiti?, que me devolveu a discussões mantidas há cerca de cinco anos na minha visita à ilha. Uma incógnita com duas respostas: a dos incapazes de encontrar razão para a esperança e os que trabalhavam duro para encontrar alguma.

O normal, hoje, seria somar-se ao primeiro grupo.

É fácil pensar que o terremoto acabou com qualquer esperança, mas também deixa claro que esta catástrofe não é apenas um problema para os haitianos. O é também para os norte-americanos, canadenses, franceses. Soa cruel falar do Haiti como problema, mas são dez milhões de pessoas sofrendo. Crescem assim as razões para a preocupação. O Haiti está perto da nossa costa. Mais de 300.000 haitianos moram na Flórida. E com a piora da situação serão muito mais os desesperançados. Por isso, mesmo que seja só por seu próprio interesse, para evitar que tudo acabe aqui, devemos compartilhar sua preocupação.

E o resto do mundo, por que deve se preocupar com o Haiti?

Os canadenses estão como os norte-americanos. E na França, o argumento da obrigação moral com o Haiti está um pouco desgastado. Se queres que as pessoas ajudem, deves apelar para o seu próprio interesse. Como os Estados Unidos viram no 11-S e a Espanha após o ataque em Madri, quando as pessoas estão infelizes têm formas de compartilhar a infelicidade. O Haiti tem potencial para criar grande infelicidade nos Estados Unidos e na Europa. Como os barcos recordam aos espanhóis que há um problema na África ou os botes que chegam a Malta ou os albaneses à Itália, os haitianos não deixarão que esqueçamos os seus problemas em um ano, nem em cinco. Virão cada vez mais. Não haverá muro que os detenha no Haiti.

Agora sim soa catastrófico.

Não sou nem otimista nem pessimista. Desfruto do otimismo com cautela. E com o Haiti há razões para um otimismo cauteloso.

Por quê? O terremoto semeou a devastação em um país atormentado pela pobreza, falta de água potável, desmatamento e Aids...

Sim, as coisas pioraram. E já estavam muito mal antes. 99% do Haiti está desmatado, o que causa grandes problemas de erosão em um terreno muito montanhoso. Mas dito isto, a motivação nos Estados Unidos e na Europa para ajudar é mais forte do que nunca, e os benefícios de um Haiti economicamente viável serão melhores. É fácil discutir isso em termos econômicos. Por exemplo, perguntar-se quanto pode custar a reconstrução. Ou comecemos por problemas de saúde. Depois da Aids, o segundo maior problema é a malária. Quanto custaria acabar com essa doença? Muito pouco. Os mosquiteiros previnem contra a malária e cada um cobre uma mulher e duas crianças. São 16,8 milhões de euros. Há tantos norte-americanos que poderiam assinar esse cheque! Ou espanhóis. Ou em termos de trabalho, na última década são muitas as empresas que levaram o trabalho para fora dos Estados Unidos. Para o México. Mas agora os salários ali são mais altos que na China ou no Vietnã. Aqui entra o Haiti, mais pobre que o México e com uma grande força de trabalho não precisamente vaga, trabalhadores duros por salários modestos, o que é mais que não ganhar nada. Essas são razões para a esperança. São muitos os norte-americanos que poderiam abrir suas fábricas na ilha com investimentos mínimos. Paradoxalmente, há mais esperança do que nunca.

Quão distante está esta recuperação?

A recuperação é possível e necessária. O Haiti não tem recursos para fazê-lo sozinho e necessita da ajuda exterior, mas deve ser de modo que funcione com os haitianos. A ilha tem uma longa história com os Estados Unidos, e os haitianos têm boas razões para desconfiar do Exército norte-americano. Melhor seria contar com a ONU como guarda-chuva para criar uma força comum entre Espanha, que começou os problemas da ilha, e a França, que os aumentou, e os Estados Unidos e o Canadá. Seria a opção mais viável. Além disso, o atual Governo do Haiti não está nas ruas por falta de recursos, mas foi escolhido democraticamente. O próprio presidente foi atingido. Um Governo motivado, razoavelmente pouco corrupto, melhor ou não tão ruim como os Duvalier ou outros das últimas décadas. É o melhor momento para ser otimista.

De onde nasce seu interesse pelo Haiti?

Basta ler o título do meu último livro, Natural experiments of history. Dedico um capítulo ao Haiti. Este país é um experimento natural. Em história não podemos fazer como na química, colocar os elementos a serem analisados e submetê-los a provas. Se fosse um visitante de Andrômeda e quisesse analisar a raça humana, iria para a Espanha, traçaria uma linha e provaria coisas de ambos os lados. Felizmente, isto não é permitido, mas em Espanhola se dão essas condições de forma natural. Há uma linha, do lado ocidental está o Haiti, e do lado oriental a República Dominicana. Um experimento natural igual ao das duas Alemanhas ou Coreia do Norte e Sul. Daí meu interesse pelo Haiti. Me permite comparar o grau de evolução de sociedades que compartilham um território.

Não é contraditório que em Colapso fale da ameaça para o planeta das sociedades que chegam ao máximo de poder, mas quando sobrevém uma catástrofe seja o Primeiro Mundo que vem em socorro?

Parece ser assim, mas se ocorresse algo realmente terrível, se a economia mundial não apenas vivesse um grande susto, como em 2008, mas que em 15 anos entrasse em colapso ou houvesse uma guerra nuclear..., quem estaria em melhor situação, haitianos ou madrilenhos? Eu aposto nos haitianos. São muito pobres, mas não dependem de nada. Em Madri, se o Primeiro Mundo entrasse em colapso, as soluções não seriam fáceis.

Quais são as possibilidades de tal colapso?

Vamos falar em 30 ou 50 anos. Então saberemos se o mundo entra em colapso. Isso, se tivermos solucionado os problemas; caso contrário, será uma realidade.

Por que fala desse prazo?

Nesse tempo as coisas terão mudado de tal forma que teremos explorado os nossos recursos. Teremos esgotado o acesso às formas de energia não renováveis ou a água potável. Os norte-americanos fazem coisas terríveis, mas também a União Europeia, e uma delas é a superexploração da pesca das costas africanas. E se continuarmos nessa direção, nesse prazo nos veremos à beira do colapso. Os cenários são muitos. Desde o pior, uma aniquilação nuclear que acabe com os problemas porque elimina a raça humana. Ou que a vida continue, mas em Nova Guiné e no Haiti, não em Los Angeles ou em Madri. Outra possibilidade mais sutil que a guerra é que a situação siga se degenerando e a pobreza se estenda de modo que a Espanha se converta na nova Somália. A visão mais otimista é que levemos os problemas a sério e ninguém tenha que abandonar o Haiti ou a África, porque as condições sejam boas onde estão. Existe uma preocupação cada vez maior e é preciso manter a esperança. A verdadeira pergunta é se a nossa preocupação aumenta na velocidade necessária ou não. Porque o precipício está aí.

Há quem pensa que essa resposta está nas mãos de Deus.

Em momentos assim é fácil pensar isso. O Haiti sofre um terremoto das mesmas proporções da Itália, Los Angeles, Alasca, Japão... Mas em Los Angeles, quando isso acontece, se declara estado de emergência, polícia, bombeiros e exército saem às ruas, e os supermercados abrem. No Haiti, não. Por isso, quando o teleevangelista Pat Robertson diz que a ira de Deus caiu sobre eles se esquece de que é a mesma ira que cai sobre a Itália, Estados Unidos ou Japão, a mesma ira que deveria cair sobre ele por ser tão estúpido.



Haiti, Deus, o mal...e de novo o dilema de Epicuro. Artigo de Andrés Torres Queiruga


"Muitos crentes e teólogos dão por certo que Deus poderia ter evitado o terremoto do Haiti, mas que não o fez; mas, sendo onipotente, isso, definitivamente, significa que não quer. Outros, menos, atrevem-se a dizer que não pode; mas então que "deus" é esse, e quem poderá dar-nos esperança?", pergunta Andrés Torres Queiruga. teólogo espanhol, com vários livros traduzidos para o português, em artigo publicado no sítio Religión Digital, no dia 10-02-2010. A tradução é de Vanessa Alves.

Eis o artigo.

A catástrofe foi terrível: como um golpe na consciência do mundo, já castigado pela crise econômica. Por sorte, a reação foi quase surpreendentemente boa. Produziu-se uma espécie de salto qualitativo na solidariedade mundial tanto nos indivíduos como nos estados que, como nunca antes, compreenderam a necessidade, com rigorosa justiça, de unir-se para reconstruir um país destroçado e, antes, exaurido (o cumprirão?).

Também a teologia, na quase totalidade dos artigos publicados, soube apontar algo fundamental: não remeter o problema a Deus, centrando-se na catástrofe natural, mas insistir em nossa responsabilidade humana, no fato de que, por nossa culpa, os males causados tenham afetado antes de tudo e sobretudo os pobres. Eles sofreram e sofrem majoritariamente as piores e mais dolorosas consequências.

O que se espera não é, pois, o puro lamento ou a simples compaixão, mas a ajuda efetiva e a pressão política.

Naturalmente, também senti desejos de escrever algo, pois, ao problema do mal, dediquei uma parte importante da minha reflexão e um bom punhado de trabalhos. Por ventura, o fato de estar acabando um livro a respeito, e sobretudo a reação tão positiva que se percebia por todas partes fizeram com que me conformasse em ver e saborear o claro avanço que se produziu nas reações. Apesar de tudo, não me abandonava minha velha suspeita que algo faltava.

Tudo isso é verdade, mas o terremoto não o produzimos, e sem ele, o problema teria desaparecido pela raiz: por que Deus não o evitou? Latet anguis in herba, pensava, "a víbora segue oculta entre a erva".

"Mistério" - acabam respondendo em geral os artigos. Mas, mistério por quê? Mistério real ou contradição produzida pelas nossas ideias e pressupostos? Milhares de homens e mulheres estiveram no Haiti, renunciando o sonho e expondo a vida para ajudar as vítimas. Se na sua mão estivesse a possibilidade de evitar previamente o terremoto, haveria sequer um só que deixaria de fazê-lo?

No entanto, muitos crentes e teólogos seguem dando por certo que Deus sim poderia, mas que não o faz; mas, sendo onipotente, isso, definitivamente, significa que não quer. Outros, menos, atrevem-se a dizer que não pode; mas então que "deus" é esse, e quem poderá dar-nos esperança?

Epicuro já o tinha perguntado há muitos séculos. E, como era de se esperar, a víbora levantou a cabeça. Martín Caparrós, no El País, 07/02/2010, sem aludir ao famoso dilema - talvez sem sequer conhecê-lo - e referindo-se primeiro ao terremoto de Lisboa (1755), afirma com todo rigor: "A existência -a insistência- do mal fazia com que esse deus fosse um ineficiente ou um vicioso: ou o fazia à vontade e era o maior canalha, ou não podia evitá-lo e era um perfeito inútil".

E depois, dando um salto, irrita-se falando do Haiti: "Portanto, apesar do mal descontrolado - apesar de terremotos e de fomes, massacres e tsunamis -, milhões seguem ajoelhando-se diante de um deus que o faz ou o permite. E, para completar, ainda o anunciam. Para mim, tudo muito estranho. Se eu achasse que esse deus existisse - se achasse que em algum lugar do infinito existe um ente todo-poderoso que não usa seu poder para impedir estes desastres -, se eu achasse que há um deus tão mau caráter para matar de uma vez cem mil mortos de fome, e se esse deus fosse meu deus, meu amo, não tentaria protegê-lo: passaria a vida negando-o, dizendo a todo o mundo que não há tal coisa. O que é isso? Deus? Um deus, o que isso significa? Frente a desgraças como esta, o verdadeiro crente não tem mais remédio que fingir-se ateu - e, talvez, vice-versa. Portanto, é preciso duvidar de quase tudo, como sempre".

Hesitei em reproduzir um texto tão abrupto. Quero pensar que ao escrever deus com minúscula e colocar o condicional - "se eu achasse que esse deus existisse" - se está atacando um ídolo. Em todo caso, o afirmo eu. E, não sem lamentar essas expressões que podem ferir tão brutalmente a fé dos crentes, quero tomá-las como um sério e urgente aviso para a teologia.

O tenho repetido muitas vezes: é preciso desfazer com rigor crítico o dilema de Epicuro, descobrindo sua armadilha e mostrando sua falsidade. Em tempos de religiosidade comum e compartilhada, a fé em Deus podia sustentar-se, apoiando-se em uma confiança radical que era capaz de desafiar a lógica, porque pressentia que esta tinha que falhar em algum ponto. Isso já não é possível em nossa "era crítica".

Devemos reconhecê-lo, se não por honestidade intelectual, pelo menos porque nos reprova com argumentos contundentes: crer em um "deus" que, podendo, não quisesse acabar com o mal do mundo ou que, querendo, não pudesse, torna-se hoje simplesmente impossível.

Por sorte, a mesma agudeza crítica da modernidade abre o caminho da resposta. A autonomia das leis que regem o funcionamento do mundo e as inevitáveis contradições da finitude, fazem com que o conceito (não a fantasia) de um mundo sem maldade seja tão contraditória como um círculo-quadrado. O dilema de Epicuro tem uma armadilha: substitua-se “mundo-sem-maldade” por “círculo-quadrado” e tire a prova; ou pergunte-se, como, às vezes, faço em minhas explicações, se Deus pode ou não pode dividir a sala em “três-metades”.

Não é que Deus "não queira" ou "não possa", mas simplesmente a pergunta carece de sentido. Deus quer o bem, unicamente o bem, para o bem e a felicidade nos cria.

Falemos humanamente: poderia não haver criado o mundo, e sabe que, se o cria, terá que ser finito (se não, se criaria a si mesmo). Em consequência, a imperfeição, a carência, o conflito - o mal - o acompanharão como uma sombra terrível.

Mas a experiência religiosa mais profunda intuiu sempre que se Deus criou, é porque valia a pena; que Ele, como Anti-mal de amor infinito, acompanha e sustenta nossa aventura, convocando-nos a colaborar com Ele no trabalho do amor e a justiça; e sempre, assegurando o sentido e abrindo a esperança.

Contra o que na superfície pode parecer, nada é menos "moderno" do que deduzir o ateísmo da existência do mal no mundo. Seria desconhecer a autonomia de suas leis e a dignidade de nossa liberdade. A bobagem do tele-evangelista Pat Robertson, esclarecendo que o terremoto do Haiti que não tem nada que ver com as placas tectônicas, porque é um castigo divino, fez um grande favor à inteligência.

No mesmo jornal, Galeano o lembra, e Jared Diamond avisa, - permita-me recordá-lo para que o humor adocique um pouco o horror - que "quando o tele-evangelista Pat Robertson diz que a ira de Deus caiu sobre eles se esquece que é a mesma que cai sobre a Itália, EUA ou o Japão, a mesma ira que deveria cair sobre ele por ser tão estúpido". E, mantenhamos o tom, também sobre nós, se seguimos mantendo teologias que dão pé a tanto mal-entendido.