segunda-feira, 5 de abril de 2010

1964


São Paulo, 31 de março de 2010


Sete Poemas do meu livro “Rapsódia – De Ordem Política e Social”

a ser lançado em 31 de agosto de 2010



Hoje aqui divulgados, apenas para uma reflexão sobre os 46 anos do golpe civil-militar de 31 de março de 1964.



Putabraço,

Alipio Freire













31 de março de 1964


Dos diálogos com Walnice Nogueira Galvão





Aquela noite fez-se treva.



Roubaram-lhe todas as estrelas

para com

decorar dragonas alamares e peitos

dos marechais generais almirantes e brigadeiros golpistas.





A grande burguesia considerou essa saída a mais segura

para a reprodução ampliada do capital e garantia de seus privilégios.





Eu tinha dezoito anos

a minha namorada vinte



e até a véspera

imaginávamos todo um futuro pela frente





PS



Nossa primeira tarefa depois do golpe

foi rondar à noite a casa dos camaradas João Carlos e Marisa

(em Guarulhos)

para ver se havia sido invadida.





O ano de 64 efetuou a ruptura de nossos destinos.



Perdas e danos 1


No Brasil da ditadura

fomos

(entre civis e militares)

308 mil investigados

30 mil torturados

milhares de cassados

500 assassinados

(dos quais 100 dados como desaparecidos. )

Incontáveis os que tiveram de viver clandestinos ou se exilar.





Isto para não falarmos



Da concentração da riqueza e da propriedade

Do aprofundamento das desigualdades

Do arrocho salarial

Da perda de direitos dos trabalhadores

Do êxodo rural

Do crescimento das favelas e submoradias

Da ampliação da miséria

Do crescimento vertiginoso da dívida externa
Da extinção de todos os direitos públicos



e dos milhões de homens e mulheres

que viveram sob terror permanente.




Foi também a ditadura que forjou e divulgou a palavra-de-ordem



O que é bom para os Estados Unidos

é bom para o Brasil.



NB

As perseguições violências e crimes foram apenas meios

para concretizar o programa do grande capital.









Da luta armada
ou

Da violência justa





No Brasil o ordenamento jurídico do escravismo

considerava:



Todo senhor que matar seu escravo

o fará sempre em legítima defesa.





O abolicionista Luiz Gama

retrucou:


Todo escravo que matar o seu senhor
o fará sempre em legítima defesa.


NB

Assim reza o mais legítimo proceder contra todo tirano


(ainda que devamos estar sempre atentos à correlação de forças).









Tesouro da Juventude

Do Livro das Belas Ações 1

Uma garrafa
Uma rolha

Gasolina

Óleo 30



Pólvora e ácido nítrico

Ou uma mecha em chamas...




...e aquela busca insana de uma radiopatrulha.









Chorinho



Eu tenho uma casinha

lá na Marambaia

fica na beira praia

onde helicópteros da Aeronáutica jogavam os corpos de opositores do regime.



Alguns

ainda com vida



Outros esquartejados.





NB



O terror de Estado contaminou tudo.

Até o nosso mais lírico cancioneiro.









Da tragédia


Dos Diálogos com Peter Weiss

Para as Mães de Maio que, mais que ninguém,

sabem da tragédia na própria carne.





Nós sobrevivemos

ao pau-de-arara.



Mas o pau-de-arara

também sobreviveu.









Idade da Razão



Nunca me senti tão livre

como durante a ocupação nazista



– escreveu Sartre.





Durante a luta clandestina contra a ditadura

fomos igualmente livres



não respeitávamos qualquer norma

do Sistema do Estado ou do Regime





(Apenas cuidávamos da nossa segurança).





PS


O que é a literatura?!



Hoje vivemos em soursis

e muitos

Com a morte na alma.









Merde à vous


Dos diálogos com Gonzaguinha.



A vida é assim mesmo.



Entramos no palco sem roteiro

e quando o personagem está construído



já é hora de sair de cena.





PS



Da minha parte

continuo resistindo a toda fatalidade:



Somos nós que fazemos a vida.

Como der e puder e quiser.



.

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