sábado, 6 de março de 2010

Direitos Humanos Seletivos

Quanta hipocrisia dessa gente de direitos humanos seletivos . Atacam Cuba para atingir Lula



A greve de fome de pessoa que cumpre pena em presídio é uma arma de desobediência e um desafio às determinações do Estado que pode assumir caráter político ou de reivindicação por melhores condições carcerárias. Manifestação de vontade individual ou coletiva , deve ser respeitada e criteriosamente avaliada. Ao tomar , conscientemente , a grave decisão de iniciar a greve de fome o preso sabe - e é informado - que a conseqüência pode ser fatal . Alguns entregam sua vida por um ideal mais nobre . Esses contam com defensores de fora da prisão que pressionam as autoridades a fim de que o objetivo da greve de fome seja alcançado. Outros priorizam sua própria vida e ainda assim esperam ver acatadas suas exigências . Quando ocorre a morte , os verdadeiros humanistas se condoem.



Contudo, a reação que se leu, viu e ouviu nesses dias a respeito do caso do cubano Orlando Zapata Tamayo passa longe da natural comiseração . O cadáver de Zapata é agora exibido como um troféu coletivo . Os grandes meios de comunicação já vinham antecipando o desenlace com intenções pouco dissimuladas de utilização com premeditados fins políticos . Zapata não fazia parte dos chamados dissidentes que foram julgados em março de 2003, não era um dos 75. Tinha um longo histórico delitivo comum , nada vinculado à política . Transformado depois de muitas idas e vindas à prisão em ativista político , era um homem prescindível para os opositores da Revolução . Cumpria uma sentença de privação de liberdade de 25 anos depois de ter sido inicialmente sentenciado em 2004 a três anos por desordem pública , desacato e resistência . Vinculou-se aos dissidentes após contactos com Oswaldo Payá e Marta Beatriz Roque . Declarou-se em greve de fome em 18 de dezembro . Apesar de se negar a tanto , recebeu, de acordo com o que estabelece o Tratado de Malta , a assistência médica necessária , inclusive terapia intermédia e intensiva e alimentação voluntária por via parenteral endovenosa e enteral. Transferido para um hospital geral foi-lhe diagnosticado pneumonia , tratada com os procedimentos mais avançados . Ao ter comprometido ambos os pulmões , foi assistido com respiração artificial até que ocorreu o óbito .



Vou à história , curioso em saber como a grande imprensa cobriu greves de fome de presos que terminaram ou não em morte e como selecionam os direitos humanos .



Ao assumir o governo inglês em 1979, Margareth Thatcher deflagrou uma ofensiva militar e política contra os movimentos pela libertação da Irlanda do Norte . A virulenta tentativa de criminalização do republicanismo irlandês passava pela supressão de qualquer diferença entre o tratamento dispensado, nos cárceres , aos soldados do Exército Republicano Irlandês ( IRA ), do Exército de Libertação Nacional Irlandês (INLA) e a criminosos comuns . Em resposta , combatentes irlandeses encerrados nos blocos H da prisão de Maze, deflagram em 1º de março de 81 uma greve de fome . Suas reivindicações: não usar uniformes de presidiário; não realizar trabalhos forçados ; liberdade de associação e organização de atividades culturais e educativas; direito a uma carta , uma visita e um pacote por semana ; e que os dias de protesto não fossem descontados quando do cômputo do cumprimento da pena . Recusando-se a ser tratados como criminosos , defendiam, a um só tempo , sua dignidade pessoal e a legitimidade da luta pela libertação de seu país . A um custo inimaginavelmente alto - onze homens morreram de inanição após longa agonia de 63 dias - os grevistas conseguiram uma vitória moral , ao fazer com que os ingleses retrocedessem quanto ao regime carcerário poucos meses após o fim do movimento ; e uma vitória política , ao frustrar os planos de Thatcher de expor os que lutavam pela liberdade da Irlanda como criminosos aos olhos do mundo . O funeral de Bobby Sands, o líder do movimento , foi assistido por mais de 100 mil pessoas .

Thatcher, insensível , fez ouvidos moucos aos apelos . Teria o Estadão , a Folha ou o Globo ou El Pais , The New York Times , Die Welt, Le Fígaro, Clarin, estampado em sua manchete principal acusando Thatcher de homicida ? Evidentemente , não !

Em meio século , nada mudou na Turquia, onde os presos políticos continuam fazendo greve de fome , não pela liberdade , como Nazim Hikmet, mas para recuperar a dignidade . Nazim Hikmet, o grande poeta turco , a quem a escritora Charlotte |Kan chamou de “o comunista romântico”Condenado a uma pena pesada, Nazim Hikmet estava preso em Bursa há doze anos quando começou uma greve de fome para recuperar a liberdade. condenado a uma pena pesada , em um longo processo construído nos mínimos detalhes , estava preso em Bursa, fazia doze anos , quando começou uma greve de fome para recuperar a liberdade . E ainda teve forças suficientes para escrever o poema “O quinto dia de uma greve de fome ”, dedicado a seus amigos franceses que lutavam por sua libertação . Acaso os editoriais da nossa imprensa acusaram os governantes turcos de perpetradores de um crime continuado? Nem pensar .

Na base militar de Guantanamo, aqueles que as autoridades norte-americanas chamam de “ combatentes inimigos ” fizeram, entre fevereiro de 2002 e fim de setembro de 2005, seis tentativas conhecidas - e talvez centenas ignoradas - de desafiar seus carcereiros do Pentágono com greves de fome . Alguém leu ou ouviu acusações a Obama de violador dos direitos humanos elementares por não ter cumprido a promessa de encerrar esse centro de tortura e humilhação ?

Recentemente, a aviação norte-americana dizimou, no espaço de dias , famílias de cidadãos afegãos, a maioria mulheres e crianças . A mídia abriu espaço para o pedido de desculpas dos generais e nem um milímetro para acusá-los e a Washington de estar perpetrando uma política de terrorismo de Estado e de violação da Convenção de Genebra .

Passaportes britânicos de cidadãos israelenses de dupla nacionalidade foram utilizados pelo serviço secreto do Mossad para executar extrajudicialmente em Dubai o líder do Hamas, Mahmoud AL-Mabhouh. Por acaso , a mídia abriu suas colunas para acusar o governo Netanyhau de criminoso e fora-de-lei?

Na confrontação dos Estados Unidos e Cuba , ao largo de mais de meio século , milhares de cubanos foram vítimas de atos de terrorismo arquitetados em solo norte-americano com pleno conhecimento da Casa Branca , incluindo diplomatas assassinados no exterior . Quando Havana se dispôs a tomar medidas de inteligência para prevenir esses ataques , cinco de seus concidadãos foram presos e condenados, em processo totalmente viciado levado a cabo em Miami, a penas draconianas que chegaram a duas prisões perpétuas mais 15 anos para um deles. Jamais a mídia internacional e a nossa mídia trataram do assunto .



Os ataques virulentos a Cuba por parte da direita , das oligarquias , dos setores reacionários e dos segmentos conservadores e seus porta-vozes não são novidade . Não se conformam de a Revolução Cubana ter resistido sozinha , graças à firmeza de sua liderança e apoio valente de seu povo , à opressão e aos desígnios do Império . Nenhum outro governo da região a apoiou. Hoje diversos governos da região a apóiam. A solidariedade , simpatia e defesa da gente simples e dos progressistas em todo o mundo nunca faltou.



A visita de Lula a Havana coincidiu com a morte de Zapata. Nossa mídia rebaixou a assinatura de 10 acordos de cooperação entre os quais se destaca a modernização do porto de Mariel. No entanto , o criticou furiosamente pretendendo vinculá-lo ao desrespeito a direitos humanos . No fundo querem destruir sua imagem de grande líder nacional e internacional em proveito de seus interesses ideológicos permanentes e eleitorais de agora .

Lula soube se comportar como chefe de Estado . E pessoalmente foi leal aqueles que ao longo de décadas se constituiram numa referência de soberania , independência , auto-determinação mas também de dignidade, heroismo e solidariedade .



Max Altman

27 de fevereiro de 2010

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