quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ruy Carlos Ostermann


Uma pedra à mesa e o laptop
Ruy Carlos Ostermann


As pedras são objetos (se retirados da natureza e colocados em outro lugar) como este aparelho desconcertante em que escrevo com perfis iluminados e muitas teclas provocativas. Trata-se de um objeto sólido de basalto obscuro à minha frente, rolado de algum canto. Como requer força e apreensão firme, imagino uma considerável carga de trabalho para colocá-lo aqui na sala, sobre a mesa, como a possibilidade de um conflito com outros objetos bem mais delicados –folhas de papel, dois livros, e esse desconcertante laptop no qual mais deleto do que escrevo.

Uma pedra como essa poderá interferir menos no pensamento do que um laptop. Ela está fechada nos seus significados, libera apenas um que impede a minha ocupação da mesa, posto que está ali, maior do que tudo o mais, e silencioso.



Penso no Bez Batty que ama as pedras e especialmente os basaltos que procura nos rios e nas encostas e chega mesmo a fazer pequenos acordos com trabalhadores que arrancam pedras no solo para mais facilmente edificar suas construções. Anda a procura de uma pedra muito especial, de coloração ainda não vista, rara formação do solo a se revelar como encanto e surpresa. Teria o Bez trazido essa pedra roliça e posto na minha mesa, sem que ninguém da casa percebesse se não eu mesmo, como mais um enigma da manhã?

Não faz sentido, não seria o fiel depositário de uma tamanha descoberta e nem faria sentido que eu, tão desprovido desse talento das mãos e do olhar, e não ele, tivesse a sabedoria de dar voz e sentimento àquela pedra.

Fica como mais uma descoberta sem revelação.

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