sábado, 6 de janeiro de 2018

Em Nome de Deus

EM NOME DE DEUS

Em nome de Deus eu quebro sua casa, desmoralizo sua família e amaldiçoou seu livre arbítrio. Em nome de Deus eu te desconheço enquanto sujeito de sua própria história, eu repreendo sua fé e sua humanidade.

Esse é o retrato do que hoje vivemos, uma prática “religiosa” prepotente, autoritária que emana preconceitos. E eu me pergunto que “Deus” será esse, que foge da misericórdia, da compreensão, do amor e da generosidade? Um “Deus” que manda destruir sua própria criação, que desconhece a humanidade do outro e que atropela o livre arbítrio. Um “Deus” que vive a sombra do ódio, que emana o autoritarismo e desconhece a solidariedade.
Esse “Deus”, com certeza não é o meu. O meu Deus, a quem chamo de Nzambi é a expressão do amor, da generosidade e do acolhimento. Ele reina absoluto nos corações, respeita o livre arbítrio e ama sua criação. É extremamente amoroso, gentil e solidário, vive em meu ser onde reina absoluto, ele me ensina a ter sabedoria, a compreender os seus desígnios e a abraçar meus irmãos. Não nos distingue pela cor/raça, pelo poder financeiro, pelo intelecto, pelo gênero e menos ainda pela forma de rezar ou de não rezar. Ele nos reconhece pelo que somos e nos propomos a ser. Ele nos percebe pelo que emanamos e nos entende em nossas fragilidades humana. Meu Nzambi é muito poderoso, ele me entende nos mínimos detalhes e me diz da justiça, do equilíbrio e da importância da diferença e da diversidade. Ele todos os dias me enche de sopro divino e me prepara para viver a liberdade.
Esse meu Nzambi é demais, ele não se incomoda com a diversidade de sua criação, aliás, ele brinca com ela. Deixando-nos livre para viver o que achamos que devemos viver, afinal ele nos dotou de inteligência, nos deu livre arbítrio e nos deu regras. Ensinou-nos as diferenças e nos preparou para com essas conviver, entendendo que somos todos no fundo, no fundo tudo igual.
Por isso, me dói tanto ver que muitos optam por lhe virar as costas, abandonar seus ensinamentos e a dependurar-se no ódio, ao outro seu igual. Me dói muito ver que a banalização do sagrado alheio, é uma ponte construída sobre a prepotência dos que se acham melhores.
E com essa dor vou caminhando, defendendo meu direito a ser o que quero ser, a rezar como quero rezar. Vou na contramão desse ódio prepotente e racista, construindo pontes de alegrias, coloridas nas cores do arco-íris. Pontes que antagonizam com esse pensamento de uma verdade única, onde o ódio vale mais que o amor, onde a inveja da alegria de rezar do outro é mola propulsora de um modo de rezar que banaliza e busca destruir o outro em nome de um “Deus” vazio e oco.
Sou daquelas que acredita que sou o que sou, porque sou filha de um Nzambi de amor. Que não julga sua criação, porque ela faz parte “Dele”. E eu sou sua criatura. Por isso, quando rezo o faço cantando e dançando meu amor, louvando sua existência e dizendo o quanto sou feliz por ser parte “Dele”. Como com “ele”, celebro com “ele” e aplaudo “Ele”. Um Ser de amor inimaginável e sem medidas, Completo. Que dispensa acólitos para catequisar em seu nome. Porque como “Ser” completo, não precisa de propagandas nem de Marketing. Mas de sentimentos. E sentimentos são sentimentos, não arrobos de ódio, nem de prepotência.
Ele é o “Todo”, eu o chamo de Nzambi, outros de Olorun, de Deus, de Javé, de Alá. Não importa o nome, que lhe dão “Ele” é único e não nos deixou nenhum ensinamento que não o de amor. O de respeito, de solidariedade e generosidade, afinal se doou por inteiro para nós suas criaturas, nos fazendo a sua imagem e semelhança.

Makota Celinha
Belo Horizonte, Janeiro de 2018

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