Debate virtual da proposta de ANTECIPAÇÃO DE  ELEIÇÕES
Por Igor Felippe, desde Brasilia,  16 de junho 2016
Caros amigos e amigas,
 
Em primeiro lugar, é muito importante o Fórum 21  estimular o debate sobre a antecipação da eleição presidencial, que se configura  no principal debate sobre a saída política para a crise política que estamos  vivendo.
 
Para começar, há uma palavra de ordem que  unifica os setores populares e democráticos, que é “Fora Temer!”. Por trás dessa  palavra de ordem, tem duas premissas consensuais que compõem a coluna vertebral  da nossa resistência desde que Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment:  que 1- O afastamento da Dilma da presidência se configura em um golpe e que 2-o  governo temer será um retrocesso para o país e para o povo  brasileiro.
 
A proposta de realização de um plebiscito para a  antecipação da eleição contradita com o caminho que trilhamos até aqui, porque  surge como divórcio dessas duas premissas, porque responde objetivamente apenas  à reação ao governo Temer, deixando de lado ou até mesmo abandonando a denúncia  do golpe. 
 
A resistência ao golpe foi, justamente, a  bandeira que aproximou as forças democráticas e populares da sociedade  brasileira. A luta contra o golpe levou artistas, intelectuais e personalidades,  que se afastaram nos últimos anos, a se aproximar do nosso campo político. O  exemplo mais recente é a declaração do ator Wagner Moura, denunciando em  entrevista nos Estados Unidos o golpe.
 
Pois bem. A proposta de plebiscito de  antecipação da eleição, que surgiu como um raio em céu de brigadeiro como uma  solução mágica, ainda não foi aprovada em espaço nenhum de articulação dos  movimentos sociais. 
 
Na Frente Brasil Popular, MST, CMP, Levante  Popular da Juventude, Consulta Popular e amplos setores de CUT e PT são  contrários à proposta.
 
A Frente Povo Sem Medo não fechou posição sobre  o tema e, pelas diferentes leituras internas, dificilmente chegará a um  consenso. Intersindical, Brigadas Populares, MES/PSOL, por exemplo, são contra  nova eleição presidencial.
 
Ou seja, essa proposta vai prejudicar a unidade  da esquerda e restringir a resistência a um dos polos, a oposição ao governo  Temer, negociando a luta pela democracia.
 
Pois bem, vamos ao debate de mérito. Essa  proposta não parece ser factível. 
 
Para começar, essa proposta - que tem como  premissa arregimentar votos para derrotar o impeachment - não parece que terá um  peso decisivo para sensibilizar o número necessário de senadores. Muito se fala  mas ninguém apresenta a lista dos senadores que mudarão de lado por causa dessa  proposta de forma específica. 
 
O Senado Federal está dividido em três grupos,  se não aconteceu uma purificação imperceptível para as maiorias: aqueles que são  contra o impeachment, aqueles que são a favor e aqueles que estão negociando  demandas não muito republicanas com Temer e Dilma – como indicação para cargos,  embaixadas, apoios eleitorais etc. 
 
A proposta do plebiscito pode, de certo, ter  certa influência na disputa do setor fisiologista, no entanto, não será o fator  decisivo. Em última instância, será o argumento para o senador justificar uma  mudança de posição para as suas bases, mas a razão será a insatisfação com o  governo Temer (pelo não atendimento das demandas) ou a perspectiva de  atendimento com o retorno de Dilma, mas não será a motivação. 
 
Vamos fazer um exercício. Em caso  de derrota do impeachment, essa proposta não parece factível pelos prazos.   Quando aconteceria o plebiscito? Parece ser impossível  realiza-lo em outubro, porque a Dilma retornaria em agosto. Em dois meses, o  Congresso teria que aprovar o projeto do plebiscito (em meio a eleição  municipal) e o TSE presidido por Gilmar Mendes operacionalizar.  
 
Se não for em outubro,   vai ser quando?  No ano que vem?  Aprovado o  plebiscito, teria que aprovar a PEC, em dois turnos, nas duas Casas. Pouco  provável que esse processo aconteça em menos de seis ou setes meses.   Ou seja, essa eleição vai  acontecer no final de 2017 ou em 2018...
 
Ao mesmo tempo, algumas coisas ficam em aberto:  até lá, o que impede de cassarem a Dilma no TSE do Gilmar Mendes? O que impede  de a OAB entrar com o pedido de impeachment que está na gaveta? Diante dessas  manobras, como ficaríamos nós? Nessa altura, teríamos aberto mão da luta contra  o golpe para ficar à mercê de um acordo de salão, tendo perdido uma bandeira que  tinha nos unido e melhorado nossas condições de sensibilizar a sociedade.  
 
Alguns poderão dizer: se o plebiscito atrasar, é  bom, porque a Dilma fica na presidência... Aí retomo as palavras do Wanderley  Guilherme dos Santos: é abusar da disposição democrática do povo  brasileiro.
 
Outros poderão dizer: não, pelo menos barraremos  o programa ultraneoliberal do Temer! Será? Dilma voltará fraca, afiançada pela  promessa de sair, e não terá nenhuma autoridade para enfrentar as forças  neoliberais no Congresso nem de liderar a resistências nas ruas. E desmoralizada  ao admitir que não tem condições de governar.
 
Pois bem, vamos supor que dê certo, o plebiscito  aconteça em outubro e a eleição aconteça o mais rápido possível.  
 
(Uma questão que não vou me alongar é sobre o  plebiscito: qual será a nossa posição? Vamos ficar pela permanência da Dilma ou  pela saída? Ou vamos nos dividir? Uma proposta que no passo seguinte nos divide  não parece muito consequente...)
 
Plebiscito feito, vamos à eleição. Uma pergunta  básica: quais os cenários para esse pleito? Qual a chance de a esquerda ganhar  essa eleição? Em primeiro lugar, no meio dessa crise de cenários imprevisíveis,  muitos querem aproveitar e, de forma legítima, se colocar à disposição. Ou seja,  esquerda dividida, assim como em 1989.
 
Lula é um candidato eterno, Ciro tem apresentado  suas ideias (embora seja contra novas eleições), Requião olha a crise no PMDB e  vê oportunidade, Luciana Genro tem o recall da outra eleição (embora defenda  eleições gerais), outros sonham com Boulos como uma nova  liderança...
 
Com a eleição, tem dois cenários. A  esquerda ganhar! A pergunta seguinte: como vai governar com esse mesmo Congresso  que derrubou a Dilma? A crise vai continuar.  Em  segundo lugar, é a esquerda perder.  E teremos um presidente eleito democraticamente, com a legitimidade das  urnas para implementar o programa neoliberal, em um quadro de maior estabilidade  institucional. 
 
Não é melhor enfrentar um governo  golpista, ilegítimo, em frangalhos, atingido pela Operação Lava Jato, que tem  propostas que a sociedade rejeita (como mostra a pesquisa Vox Populi)?   Eu acho que sim. Será que a mobilização nas ruas vai  aumentar se entregarmos a cabeça de uma pessoa honrada e honesta como a  presidenta Dilma? Não me parece.
 
O resultado das pesquisas de opinião, que mostra  apoio à nova eleição, engana os companheiros comprometidos com um debate  honesto. Essas pesquisas demonstram o ceticismo da população com a política  institucional. 
 
O cidadão comum, perguntado sobre o governo  Dilma ou Temer, vai desaprovar. No meio dessa crise, nova eleição parece uma  saída lógica. No entanto, a pergunta que falta é: você acredita que o próximo  governo será melhor? A resposta será não.
 
Essa argumentação de que “o povo deve dar a  última palavra”, na verdade, esconde que o povo já deu a palavra quando elegeu a  presidenta Dilma e o seu programa (ou promessas). Colocar o povo para decidir  depois da Constituição ser rasgada é colocar a cereja no bolo dos golpistas.  
 
A inclusão no plebiscito da pergunta sobre a  constituinte da reforma política, na linha de comtemplar gregos e troianos, foi  rejeitada na reunião de senadores e movimentos com a presidenta nesta  terça-feira. Ou seja, na prática, o que está em debate é apenas o plebiscito da  nova eleição. Embora no papel as duas propostas caibam, são concorrentes  enquanto bandeira para saída da crise. No fundo, expressam táticas e estratégias  distintas. Enquanto alguns defendem mudanças estruturais e desejam mobilizar o  povo brasileiro em torno delas, outros acreditam que é possível sobreviver  dentro da estrutura que está aí por meio de acordos e composições.  
 
Companheir@s, ficam esses elementos para a  reflexão. Para encerrar, um registro importante: os setores que se opõem à  proposta de nova eleição são justamente aqueles que há mais de 10 anos apontam  os limites políticos do projeto lulista e já, de certa forma, previam esse  desfecho como uma revanche da luta de classes. 
 
Não resolveremos a crise política, econômica,  social com um “jeitinho”, um “acordo de gabinete”, um “acerto por cima”, que é a  tradição da política brasileira de resolver os problemas de costas para o povo  brasileiro. 
 
Ou como diz Florestan: “Um ‘acordo de  cavalheiros’, por melhor que seja, satisfaz aos cavalheiros, especialmente se  eles se atribuem muita importância e encarem suas deliberações como substitutas  da vontade coletiva média ou aproximada do povo”.
 
Abs, 
 
Igor Felippe
 
 
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