Ensaio de escritora nigeriana convida: 'Sejamos todos feministas'
Autora de 'Americanah', Chimamanda Ngozi Adichie reflete sobre os esterótipos que massacram meninas e meninos pelo mundo. "E se criássemos nossas crianças ressaltando seus talentos e não seu gênero?"
por Redação RBA publicado 06/10/2014 16:34, última modificação 06/10/2014 17:52
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“A questão de gênero, como está definida hoje em dia, é uma grande injustiça”, afirma Chimamanga Ngozi Adichie
Publicado há pouco tempo no Brasil, Americanah (Cia. das Letras, 520 págs., R$ 54), de Chimamanda Ngozi Adichie, é um romance de leitura saborosa e que traz ainda críticas sociais ao tratar de questões ligadas à imigração, ao preconceito racial e à desigualdade de gênero. Conhecida como a principal autora nigeriana de sua geração, Chimamanda retoma agora a questão de gênero a partir de sua experiência pessoal.
No ensaio Sejamos Todos Feministas, que acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras, a autora reflete sobre o que precisa ser feito para que as meninas não anulem suas personalidades para atender as expectativas dos outros, e que os meninos se sintam livres para crescer sem a necessidade de se enquadrar nos estereótipos de masculinidade.
O livro de apenas 24 páginas, disponível para download gratuito, foi adaptado do discurso feito por Chimamanda no TEDxEuston, em 2012, cujo vídeo teve mais de 1 milhão de visualizações e parte da mensagem foi sampleada na música Flawless, da cantora pop Beyoncé.
Em Sejamos Todos Feministas, a nigeriana coloca em questão o que significa ser feminista no século 21 e por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres. "A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente", propõe.
A autora não se esquece até hoje da primeira vez que foi chamada de feminista por um de seus melhores amigos de infância, Okoloma: “Eu tinha 14 anos. Um dia, na casa dele, discutíamos, metralhávamos opiniões imaturas sobre livros que havíamos lido. Não lembro exatamente o teor da conversa. Mas eu estava no meio de uma argumentação quando Okoloma disse: 'Sabe de uma coisa? Você é feminista!' Não era um elogio. Era como se dissesse: 'Você apoia o terrorismo!'”.
Como na época ela não sabia exatamente o que isso significava, foi atrás e abraçou termo e a filosofia para a vida. Em resposta aos que estereotipavam (e ainda estereotipam) seus adeptos, hoje ela se define “feminista feliz, africana, que não odeia homem e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.
O discurso feminista de Chimamanda permeia toda sua obra (traduzida para mais de 30 línguas) e suas palestras. Apesar de a condição feminina ainda está longe de ser justa ao redor do mundo, a escritora tem esperanças: “A questão de gênero, como está definida hoje em dia, é uma grande injustiça. Estou com raiva. Devemos ter raiva. Ao longo da história, muitas mudanças positivas só aconteceram por causa da raiva. Além da raiva, também tenho esperança, porque acredito profundamente na capacidade de os seres humanos evoluírem”.
Nascida em Enugu, em 1977, Chimamanda vive hoje entre os Estados Unidos e seu país natal, a Nigéria. Além deAmericanah e Sejamos Todos Feministas, ela lançou Hibisco Roxo (2011) e Meio Sol Amarelo (2008), que rendeu à autora o Orange Prize e um filme homônimo, dirigido pelo nigeriano Biyi Bandele, ainda sem data de lançamento no Brasil.
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