sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

NPC


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Boletim do NPC para o Projeto Memória da Oposição Metalúrgica
Especial Caravana da Anistia
São Paulo - Dezembro de 2012 



Memória


Cartaz convocatório do evento
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66ª Caravana da Anistia julga casos de militantes da OSM-SP 
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Foto: Jesus Carlos
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Destaques na plenária da Caravana: Ferreira, Gaúcho, Vito, Martinelli e Zé Luiz (1ª fila)
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Sábado dia 8 de dezembro foi realizada em São Paulo, no Memorial da Resistência, antiga sede do DOPS/SP, a 66ª Caravana da Anistia. O local foi escolhido como um símbolo da reparação às torturas e mortes que foram executadas por agentes da repressão a serviço do capital para impedir às forças populares e especificamente a força da classe trabalhadora de construir outra sociedade. Uma sociedade sem dominação, opressão e exploração.
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Nas paredes das celas parcialmente restauradas, pode-se ler nomes de lutadores do povo que passaram por lá. Muitos destes só saíram daquelas masmorras mortos, como Eduardo Leite Bacuri, Olavo Hansen, Luiz Hirata e milhares de outros que foram barbaramente torturados como Frei tito.
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A 66ª Caravana foi planejada para julgar dois blocos de casos. O primeiro foi o do padre José Eduardo Augusti, um dos tantos lutadores defensores da prática da Teologia da Libertação. O outro bloco foi o de nove militantes metalúrgicos da Oposição Sindical.


REPARAÇÃO
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Foto: Claudia Santiago
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Paulo Abrão pede desculpas ao padre Augusti, em nome do Estado brasileiro 
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A sessão da Caravana iniciou-se às 10h e às 11h teve uma homenagem e o julgamento do requerimento da Anistia do padre Augusti. Às 14h começou a cerimônia de homenagem e julgamento dos requerimentos de anistia dos operários metalúrgicos perseguidos, presos e torturados pela Ditadura Civil-Militar implantada em 1964.



Anistiados da Oposição Metalúrgica de SP
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Foto: Jesus Carlos
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Alexandre, Neto, Iria, Mancha, Salvador, Jorge
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A cerimônia do julgamento dos metalúrgicos foi aberta com um vídeo produzido pelo Projeto Memória da Oposição Metalúrgica de São Paulo que, em 13 minutos, recupera a luta da Oposição contra os patrões da FIESP, contra a Ditadura Militar e contra os pelegos amigos ideológicos ou vendidos aos dois. Em seguida, três depoimentos caracterizaram toda a cerimônia. Falaram duas jovens filhas de metalúrgicos e o mais velho metalúrgico da Oposição, Waldemar Rossi.
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Waldemar Rossi
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Luciana Dias, filha de Santo Dias
Santos Dias, companheiro da coordenação da Oposição em 1979, um dos organizadores da greve de outubro de 1979. Foi no segundo dia desta greve, num piquete na frente da fábrica de lâmpadas Sylvania que Santo, junto com vários companheiros como Vicente Ruiz (Espanhol), João Pereira (Porrada) e outros foram impedidos pela violência policial de distribuir o panfleto da greve. Não aceitaram a imposição e Santo foi assassinado com dois tiros nas costas por um PM.
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Natália Szermeta, filha de Stanislau
Suas palavras, firmes, cheias de indignação e decisão de lutar encheram os olhos de lágrimas de muitos presentes, jovens, de meia idade e de terceira idade. Foram a reafirmação que a luta da Oposição não terminou. Outras mãos, outros corações a levam e a levarão adiante. Esse foi o recado comovente da Natália.
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A Comissão de Anistia julgou os seguintes requerimentos:
. Alexandre Giardini Fusco // . Antonio Fernandes Neto // . Iria Molina Farinazzo // . João Prado de Andrade // . Jorge Luiz dos Santos Oliveira // . Luiz Carlos Prates (conhecido como Mancha) // . Maria Arleide Alves // . Salvador Pires // . Sebastião Lopes Neto
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"Estes companheiros e companheiras, casualmente, mas com grande valor simbólico, representaram a rica variedade de visões plurais que sempre compuseram a Oposição Metalúrgica. Esta pluralidade foi como uma concretização de um dos valores-chave da Oposição de querer ser uma Frente de trabalhadores e não um ajuntamento amorfo de tendências", afirma Vito Giannotti, membro da Oposição Metalúrgica e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação.
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Todos foram contemplados com anistia política e reparação econômica pela perseguição sofrida. Um caso não foi concluído (João Pedro), e outro, Sebastião Neto, irá recorrer da decisão. Sobre os membros da Oposição Sindical, o presidente da Comissão da Anistia Paulo Abrão, afirmou: "além de terem sido presos em razão de suas manifestações, foram demitidos arbitrariamente de seus empregos, tiveram seus nomes colocados em listas-sujas - o que dificultou que encontrassem novos empregos - e, principalmente, tiveram seus direitos legítimos a um projeto de vida interrompidos", disse Abrão.
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O ritual da Comissão de Anistia incluiu para cada caso o pedido oficial de desculpas em nome do Estado brasileiro, pelo que estes cidadãos sofreram nas mãos de funcionários do Estado no exercício de suas funções.



Pérolas


Poema de Natália Szermeta em homenagem ao pai 
Quando menina
Sentia raiva!
Raiva! da ausência
Raiva! das reuniões intermináveis
Raiva! do discurso
Raiva da raiva! 
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Quando jovem
Sentia simpatia!
Simpatia pela a sua rebeldia!
Simpatia pela sua coragem!
Simpatia pela liberdade! 
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Hoje Mulher
Sinto orgulho
Orgulho de ter um pai e não um saco de batatas (apesar de polonês)
Orgulho da ousadia
Orgulho de conviver com a história viva
dos tempos de horrores,
ainda em forma de resistência e luta 
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Orgulho de não ter acumulado muito na vida, 
além das convicções e a certeza de que não é impossível,
Orgulho do meu velho comunista que hora é bravo,
hora é puro coração
Orgulho do vermelho que me ensinastes ser a cor mais bonita 
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Orgulho de dizer que és comunista!
Sem medo!
Sem constrangimento
e que na historia de minha vida
és um importante guia.
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Faço minhas as palavras, talvez, já um pouco batidas:
Sempre haverão os que lutam e isso é bom! Muito bom!
Mas aqueles que lutam a vida toda, ah! Estes são imprescindíveis!
Vida longa! 
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Os versos acima foram lidos por Natália Szermeta durante a 66ª Caravana da Anistia. Eles foram compostos em homenagem a seu pai, o militante político Stanislaw Szermeta, que na década de 1970 participou das lutas de resistência à ditadura militar.  Ele foi preso no Rio Grande do Sul e transferido para São Paulo, onde ficou preso e foi torturado pela Operação Bandeirante (OBAN). Após ser libertado, continuou com as lutas para a conquista dos direitos dos trabalhadores. Participou da resistência operária dentro das fábricas como integrante da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.  
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É possível assistir ao vídeo do momento da homenagem.  


Luciana Dias, filha de Santo Dias
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Foto: Jesus Carlos
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Neto, Natalia, Luciana e os membros da Comissão: Rita, Suely, Paulo, Egmar.
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"Sua morte [Santo Dias] foi um choque para nossa família, mas ao mesmo tempo, minha mãe conseguiu levar essa memória do meu pai e a gente conseguiu que ele não fosse enterrado clandestinamente. [...] Acho que não podemos desanimar jamais e recuperar toda essa história, porque foi muito bonita e muito forte para todos nós.
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Trecho da homenagem de Luciana Dias ao pai, o líder operário Santo Dias, vítima da violência policial por se dedicar à luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Ele foi assassinado no dia 30 de outubro de 1979, durante uma manifestação na frente da fábrica Sylvânia. Assista ao vídeo.



De Olho Na Vida


O que são as caravanas da Anistia
As Caravanas da Anistia consistem na realização de sessões públicas itinerantes para a apreciação de requerimentos de anistia política, seguidas de atividades educativas e culturais promovidas pela Comissão da Anistia do Ministério da Justiça. Trata-se de uma política de educação em direitos humanos. Seu objetivo é resguardar, preservar e divulgar a memória política brasileira, em especial a da repressão durante o período de ditadura militar. Pretende estimular e difundir o debate junto à sociedade civil sobre temas como a anistia política, a democracia e a justiça de transição.
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As Caravanas percorrem as regiões do Brasil onde ocorreram perseguições políticas. Com base em uma ampla participação da sociedade civil, busca estimular a reapropriação do sentido histórico do conceito de anistia. Procuram recuperar a memória de um período em que houve amplas mobilizações sociais em defesa da democracia. Estas caravanas contam com o apoio de órgãos dos poderes Legislativos, Executivo e Judiciário.
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Os testemunhos dos perseguidos políticos ou de seus familiares e procuradores contribuem para tornar público o legado de perseguições, muitas vezes desconhecidas.
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Além disso, pretendem formar uma consciência crítica dos participantes sobre o autoritarismo que ainda persiste.
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Em resumo, as Caravanas têm o papel de dar voz aos que foram perseguidos e de sensibilizar os diversos setores da sociedade, incluindo o público jovem, para o tema da anistia política. 
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A plenária exibe fotos de militantes da Oposição Metalúrgica que foram assassinados pela repressão ou que já morreram.
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PROJETO MEMÓRIA DA OSM-SP
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CONTATOS: (11) 971102474 / memoria@iiep.org.br


Expediente



Boletim NPC para o Projeto Memória da Oposição Metalúrgica
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Jornalista responsável: Claudia Santiago (MTB.14915)
Redação: Sheila Jacob e Vito Giannotti
ColaboraçãoSebastião Neto (IIEP), Milena Fontes (IIEP)


Se você não quiser receber o Boletim do NPC, por favor, responda esta mensagem escrevendo REMOVA.


ÍNDICE
Clique nos ítens abaixo para ler os textos.

Memória
Cartaz convocatório do evento
66ª Caravana da Anistia julga casos de militantes da OSM-SP 
REPARAÇÃO
Anistiados da Oposição Metalúrgica de SP

Pérolas
Poema de Natália Szermeta em homenagem ao pai 
Luciana Dias, filha de Santo Dias

De Olho Na Vida
O que são as caravanas da Anistia

Expediente
Boletim NPC especial para o Projeto Memória Oposição Metalúrgica

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