Prezada Dra Ana Varaschin, MD Presidente do PMDB de Vacaria
Prezado Dr Eclair Dumoncel da Rosa, Digno Coordenador da
Campanha da Coligação Juntos por Vacaria
Meus caros amigos
Deus sabe o quanto está sendo doloroso para mim este momento.
Convidado a disputar o cargo de Prefeito de Vacaria, reconheci a importância do
que me estava sendo solicitado, reconheci o empenho dos companheiros na
construção de uma alternativa política ao que se apresentava na cidade, e disse
sim. Não estabeleci condições, não fiquei remoendo lembranças nem cobrando
coisas do passado, não perguntei quem estaria comigo. Apenas pensei que,
naquele momento, minha participação estava sendo importante para a cidade e
disse sim. E comecei a trabalhar. Era sabedor das dificuldades que enfrentaria,
porquanto o candidato adversário vinha de mais de três anos de campanha, com
todas as armas disponíveis, algumas éticas outras nem tanto. Não tive medo, e
disse sim.
A unidade do PMDB local se construiu com muita facilidade.
São poucos aqueles que se recusaram a abraçar a candidatura, cada qual com suas
razões, que respeito. Nos partidos coligados, especialmente no PP, a acolhida
foi generosa, como se velhos companheiros fôssemos. A escolha do vice foi um
processo complexo, e minha participação me obrigou a penetrar no âmago do
partido, a conhecer suas forças e fraquezas, sentindo-me, por isto, ainda mais
responsável pela construção da unidade da coligação, unidade que a cada dia dá
mostras de ser profunda e sólida.
Eu não desconhecia a existência de problemas jurídicos
resultantes de minha passagem pela Prefeitura entre 2005 a 2008. Ainda tramita
o processo do Pronto Atendimento; no Consórcio da Rota dos Campos tenho
apontamento no Tribunal de Contas por ter o Presidente, o Prefeito Itamar, perdido um
prazo no ano de 2005, e dois meses daquele ano são de minha responsabilidade;
tenho um processo ordenando devolução de horas extras pagas a médicos; na
construção da Escola Pedro Álvares Cabral, a falência da Construtora Gabarito
deixou pendências pelas quais sou responsabilizado solidariamente com outros.
Consultei, através de assessores jurídicos, os bancos de dados disponíveis e
confirmei a inexistência de restrições à candidatura. Só não podia antever a
condenação a que fui submetido um dia após a inscrição. Entendeu a Senhora
Juíza que houve dolo no processo de contratação do serviço de atendimento
médico do plantão 24 horas que instituímos e condenou-me à perda dos direitos
políticos. Não é aqui o local para argumentação de qualquer espécie. Cabe recurso,
e ele será interposto nos canais que a Justiça estabelece. Porém o estrago já
está feito. O estrago está feito porque grande parcela da população tem
dificuldade de perceber o que é uma decisão de primeira instância, e para esta
parcela da população o velho adágio de que "onde há fumaça há fogo" é
suficiente para fazê-la descrer da honestidade do gestor público, agora réu,
como muito bem salientado em diversas mídias. A conduta ilibada na função, a
rigidez ética, o esmero no trato da coisa pública, nada disto aparece nesta
hora. Apenas a desconfiança paira como nuvem negra sobre a cabeça de quem não
teve outra motivação para o ato a não ser prestar um serviço de saúde que a
população necessitava, e cujo único consolo neste momento é saber que muitas pessoas
dele fizeram uso, mitigando alguma dor ou evitando a morte, sabe Deus de que
mal estavam acometidas aquelas cerca de 90 pessoas que acorreram diariamente ao
serviço durante os quase dois meses em que foi mantido em operação até ser
suspenso.
O estrago está feito também porque muitos companheiros sofreram,
por este fato, um desestímulo em sua atuação política. Campanha política se faz com garra, com fé,
com entusiasmo, com motivação. Qualquer coisa que abale estes sentimentos está
condenando a campanha ao fracasso. Quando os companheiros se perguntam se não
seria melhor trocar de candidato, já estão também dando a resposta. É da crença
deles que o candidato se alimenta.
Valem-se desta situação os adversários. Salientam a decisão
da Justiça como atestado de desonestidade ou, no mínimo, de incompetência de
quem o praticou. Num jogo em que qualquer elemento pode fazer pender a balança
para um dos lados, é mais um estrago que a sentença produziu.
Neste quadro, a lógica me indica que é melhor que me retire do
processo, e é isto que estou fazendo neste momento. Renuncio à condição de
candidato a Prefeito a que o Diretório de meu partido me elevou. Faço-o em
caráter irrevogável, e sob minha inteira responsabilidade, não desejando de
forma alguma reparti-la com quem quer que seja. Ouvi, é bem verdade, muitas
pessoas, algumas diretamente outras indiretamente, até porque precisava me
assegurar de que a substituição do candidato é legalmente possível. Ouvi,
também, muitas entrelinhas. Ouvi até o que não foi dito. Senti em algumas
pessoas o desejo de dizer e o medo de ferir. No final, eis-me aqui, nesta longa
noite de reflexão, nesta já madrugada, a tomar, ponto por ponto, tudo o que
percebi nestes tumultuados dias e a ver que é melhor para todos que me afaste e
que abra para a coligação a possibilidade de encontrar outros caminhos,
enquanto ainda é cedo.
Temos muitos nomes para acompanhar Francisco Appio, meu atual
companheiro de chapa, dinâmico e combativo companheiro, diga-se a bem da
verdade. Lembro que no dia do lançamento salientei que tínhamos muitos nomes, e
que apenas as circunstâncias estavam a colocar-nos naquele lugar. Pois bem,
agora as circunstâncias estão a tirar-me deste lugar para que outro o ocupe,
possivelmente com mais brilho do que eu o faria.
Conclamo os companheiros da coligação a manterem-se firmes e
unidos. Que a batalha não é fácil, sabemos desde o princípio. A máquina
publicitária difundiu uma crença de que estamos no melhor dos mundos, onde o
atual prefeito fez muitas coisas. Se insistimos em saber quais coisas a maioria
das pessoas responde "não sei, mas dizem que fez muitas coisas". Tudo
está bem, também dizem, mas se perguntamos da satisfação com respeito aos
serviços de saúde, o descontentamento é grande e generalizado. Ou seja,
precisamos falar com TODOS os vacarianos, um por um, fazendo com que se
desvinculem da mensagem massificadora que lhes foi imposta, e que deem espaço
para a própria reflexão. Precisamos hastear uma bandeira que outros hastearam
no passado e agora esquecem, a bandeira da educação libertadora, a fim de que o
povo se livre da dominação das consciências a que está submetido, tanto pela
massificação da informação quanto pelo uso de certos aparelhos ideológicos e de
cooptação do mundo público.
De minha parte continuarei a lutar como venho fazendo, sem
esmorecer. Saio da linha de frente porque quero o melhor para o conjunto das
nossas forças e percebo a fragilidade da minha situação neste momento. Mas não
abandono o barco e fico de peito aberto e cabeça erguida respondendo, agora com
maior veemência, aos ataques que me sejam feitos. Nosso sonho é uma Vacaria
melhor, é por isto que lutamos. Mas tem que ser melhor de fato, melhor de
verdade, um melhor palpável, não um melhor imaginário, onírico, fantasioso,
inventado. Vamos, juntos, fazer com que a realidade se imponha. Depois, juntos,
vamos mudar esta realidade.
Deus nos ilumine nesta jornada.
Vacaria, 20 de julho de 2012
José
Aquiles Susin
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