quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ibsen Pinheiro


Ibsen faz análise da mini-série "O Brado Retumbante" e defende vida pública
"Vi redundância na definição corrente dos políticos como uma grande massa de mal-intencionados"

Ex-deputado Ibsen Pinheiro, atual presidente do PMDB gaúcho, critica, em artigo publicado no jornal Zero Hora, dia 31 de janeiro, o que classifica como "a demonização da vida pública". O texto analisa a recente mini-série da Rede Globo "O Brado Retumbante" , como segue:







BRADO REDUNDANTE

Ibsen Pinheiro*

Acompanhei a mini-série da Globo com a desatenção que merecem os detalhes protocolares ou legais -- presidente e vice não viajam na mesma aeronave nem o presidente da Câmara é sucessor na vaga presidencial -- mas com todo o interesse na fidelidade que a ficção deve à realidade humana que a cerca, inclusive a política.

Não vi novidade no tratamento ficcional. Vi redundância na definição corrente dos políticos como uma grande massa de mal intencionados e desonestos se impondo a uma minoria de éticos impotentes, passando sólida a definição de uma triste regra a sufocar honrosas exceções. Com um agravante: o mocinho morre no fim.

É difícil testemunhar em contrário. Quem o fizer, cairá fatalmente na classificação das duas únicas categorias disponíveis, cúmplices ou ingênuos, especialmente se cometer a audácia de contestar a idéia dominante de que só os malfeitores são eficientes. Escrevi ideia dominante, talvez devesse dizer noção generalizada. No tratamento da vida política nacional, temos uma poderosa e indiscrepante imprensa única na demonização da atividade pública.

Leio e ouço dizer, com orgulhosa reiteração, que imprensa é oposição, ou deve ser. Mas oposição a quem? Se é aos governos, reconheço a procedência da afirmação. Mas o foco é outro. Espécie de rebeldes a favor, há os que combatem governos para e apoiar o poder, numa lógica de mercado que atribui ao Estado o papel subsidiário de botar policia na porta, bancar a saúde e abrir escolas, sem se meter no mundo dos negócios, salvo, é claro, quando necessário pagar, com o dinheiro de todos, a quebradeira geral de uma crise do capital como a que hoje assola o chamado primeiro mundo.

Um exemplo dessa lógica? O tratamento benevolente, ou no mínimo discreto, à sonegação fiscal, estimada em 200 bilhões de reais anuais, conforme recente e fundamentada reportagem da Folha de S. Paulo. É corrente, ainda que não comprovada, a lenda urbana de que a cada real arrecadado, outro é consumido pela sonegação somada ao custo da máquina arrecadatória.

Sem falar no pouco lembrado desperdício, geralmente destinado a favorecer corporações poderosas e intocáveis, do trabalho ou do capital, cujas lideranças se aliam gostosamente na privatização do Estado.

Compare-se essa benevolência com as poderosas manchetes sobre as diárias de um vereador ou o as viagens de um deputado - manchetes merecidas, se as práticas forem fraudulentas, mas merecedoras, pelo menos, de tratamento isonômico com os malfeitos do poder privado.

Não imagine o leitor que prego ou aceito qualquer espécie de restrição estatal sobre essa unanimidade midiática. A experiência histórica e mundial na matéria indica que o controle governamental sobre os excessos da liberdade de imprensa não cura a doença, mas no geral mata o paciente, a liberdade de imprensa. Eu já me contento havendo contraponto, por acreditar que não há melhor remédio do que a própria liberdade, como o demonstra a simples publicação deste texto.


* Jornalista, ex-deputado e presidente do PMDB/RS
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro - Diretório Estadual - Rio Grande do Sul. Av. Farrapos, 2646
Porto Alegre, Cep 90220-002. Fone (51)3357.1500 Fax (51)3357.1528
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