quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Homofobia

Compas.,

       Para os que ainda têm a ilusão de que o "cordão de isolamento" da classe média e a pretensa "liberdade" (cujo preço todos nós conhecemos e poucos podem despender) da Frei Caneca eram garantia de segurança, este último ataque homofóbico (matéria abaixo) deve soar como algo estarrecedor. Mesmo eu, que nunca tive esta ilusão, mas sou morador da Frei há anos,  confesso que me surpreendi com a ousadia dos "skins". Não porque moro, literalmente a poucas dezenas de passos do local onde ocorreu o ataque de domingo, mas porque está evidente que a história foi planejada e "arquitetata". Para quem não sabe, o ataque ocorreu diante de uma das saunas mais frequentadas da cidade, a única "24 horas", e, consequentemente, ponto ideal para uma "emboscada" covarde na madrugada. 

      O fato é que estamos, indiscutivelmente, diante de uma "onda" de ataques. Uma "onda" que, apesar de toda cobertura da mídia e as muitas declarações de repúdio de todos os cantos, ainda não foi encarada com a devida e necessária seriedade pela "comunidade" e pelo movimento GLBT e, também, pelos movimentos sociais em geral. Os ataques estão crescendo numa proporção infinitamente maior do que a reação do movimento. E não dá pra negar: parece que os homofóbicos criminosos só estão começando.

      E tenho plena certeza que isso não irá acabar, de forma alguma, pelas mãos das forças de repressão do Estado. Quem me conhece sabe que não estou entre aqueles que os vejo como aliados na luta contra qualquer coisa, particularmente a homofobia e agressão física despropositada e criminosa. Devemos, sim, exigir que eles façam o que for necessário para colocar estes covardes na cadeia. Contudo, como já disse, somente a própria comunidade e movimento GLBT podem reverter esta história. E não sozinhos. É preciso buscar o apoio de nossos verdadeiros aliados na luta contra os skins e homofóbicos em geral. É preciso que negros, mulheres, trabalhadores e juventude (e suas entidades no movimento) se juntem a gays, lésbicas, travestis, bi e transgêneros para mandar um recado contudente para esse povo: que estes ataques atingem a todo e qualquer um que acredita na liberdade, na dignidade e numa sociedade realmente justa. E mais: que, ao nos sentirmos atacados, não reagiremos como "vítimas"; mas como gente indignada, disposta a lutar não só para manter o pouco espaço que conquistamos, mas também para conquistar (ou arrancar, se for necessário) tudo aquilo que merecemos.  

      Por fim, por mais que entenda que num momento como este, é evidente que precisamos juntar forças, não poderia acabar esta minha "nota de indignação", sem um comentário. Até mesmo porque acho que seria um tanto hipócrita se não o fizesse. E acredito veementemente que a hipocrisia é uma das mais lamentáveis e frequentes rimas que alimenta a homofobia. O fato é que não posso deixar de notar que parte da falta de uma reação mais forte aos ataques talvez tenha a ver com o que veio a cair por terra com o ataque na Frei Caneca: a ilusão de segurança dentro das fronteiras da classe média ou da "liberdade concedida". Afinal, até o momento, os ataques estavam "restritos" às redondezas da Túnel -- e na Paulista-sentido-Bairros --, cujos frequentadores são, com irritante frequência, vítimas de um asqueroso preconceito de classe (e também de raça, consequentemente), sendo desqualificados ou ridicularizados, inclusive dentro da própria "comunidade" GLBT. Isto merece, no mínimo, um momento de reflexão num momento político em que a maioria das direções dos movimentos sociais está emaranhada com os que estão nos centros de poder e passeiam pelos espaços "supostamente liberados", enquanto, nas margens a degradação não para de aumentar. E a verdade que gente da laia dos skins não nos deixar esquecer é que, enquanto isto, a barbárie só avança.

      Beijos,

      Wilson


09/12/2010 - 20h06

Polícia investiga novo caso de agressão e homofobia na região da avenida Paulista

RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Imagens do circuito de segurança de um imóvel revelam um novo caso de agressão na região da avenida Paulista (centro de São Paulo). O caso ocorreu na madrugada do último domingo (5) na rua Frei Caneca, região famosa por abrigar casas noturnas voltadas à comunidade gay.
Na ocasião, por volta das 4h20, dois homens andavam na via quando um homem, ainda não identificado, se aproximou e agrediu as vítimas com um soco inglês.
As imagens, obtidas pela polícia, mostram que, em seguida, uma mulher impediu que o homem continuasse as agressões. Para a polícia, a moça seria namorada do agressor.
As vítimas registraram a agressão na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) no domingo (6) e prestaram depoimento no mesmo dia. Segundo a polícia, os homens são homossexuais e há suspeita de que o crime tenha sido motivado por homofobia.
AGRESSÕES
No último sábado (4), dois homens de 28 anos disseram que foram alvo de um grupo homofóbico formado por quatro homens e duas mulheres, na avenida Paulista, região central de São Paulo. Um retrato falado do suspeito foi divulgado pela polícia.
No dia 14 de novembro, um grupo de cinco jovens atacou três pessoas em dois momentos diferentes.
As vítimas prestaram queixas na Polícia Civil e quatros suspeitos foram detidos. Todos foram levados para uma unidade da Fundação Casa. O único que está livre é um maior de idade que foi indiciado pela polícia por tentativa de homicídio. A prisão dele não foi decretada.
No fim de semana, uma quarta vítima desse grupo se apresentou no 5º DP (Aclimação) informando que apanhou de dois dos cinco suspeitos em março, também na região da avenida Paulista.
Após os ataques, a Polícia Militar decidiu reforçar o policiamento da região durante a madrugada. Desde segunda-feira (6), cerca de 30 PMs estão fazendo rondas nas proximidades de boates gays, em ruas como Frei Caneca, para tentar evitar que mais agressões ocorram.
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