Talvez fosse aconselhável ver de novo. A cumplicidade inicial feita de leituras e admiração foi suficiente para seguir o filme documentário com uma respiração normal. As imagens remetiam para invenções da leitura e tornavam cada passo mais simples e ainda mais comprometido. Uma solidariedade a cada fotograma.
Não fiz nenhuma preparação, nem li de último momento alguma coisa de Saramago. Leio sempre que posso, e sem a preocupação de concluir, mas, sim, de avançar e parar. Mas fui ao cinema de leitura antiga e nem me informei sobre o que era mesmo de que se tratava. Poderia ser uma breve biografia limpa, um trecho divertido ou dramático, alguma coisa pertinente ao grande escritor.
E sempre é preciso que se diga, com exagero ou simples verdade pessoal, que entrei emocionado e saí ainda pior, com frêmitos nos braços e outra sensibilidade nos dedos das mãos. Era bem mais do que poderia imaginar tão pronto sentei e abri bem os olhos e os ouvidos. Um documentário de dias inteiros do casal José e Pilar, dois amantes irônicos e sempre solidários. Ele deixando fluir uma ordenança no casal, uma iniciativa de amável complementação, doces sussurros de conivência e compreensão.
A cumplicidade do espectador me parece importante. Nem todo mundo que vai ao cinema sabe quem é Saramago e nem imagina que seja um cidadão de noventa anos como se tivesse quarenta, ou um pouco mais apenas. Ficou o olhar transfigurador de José ao lado da fidelíssima Pilar passando para o outro lado da experiência.
Só não chorei porque não devia. Entende-se, suponho.
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