terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cinema Nacional



Esta semana, estamos trazendo para o Porradão o cineasta José Padilha, que acaba de bater, com Tropa de Elite 2, todos os recordes do cinema brasileiro. Padilha fala sobre o BOPE, política, afirma que a Lei do Ficha Limpa foi o fato mais importante das últimas eleições e diz que Garotinho é um politico nefasto. Com vocês, José Padilha.


01 - Quem é esse tal de Padilha que está sacudindo o Brasil ?
Não sei se estou sacudindo o Brasil, mas sou um cara que gosta de ficar em casa com a família, que nunca sai à noite, que joga bola com o filho sempre que possível, que lê mais do que vê TV, que ama o cinema e que não perde um jogo do Flamengo.




02. Na época do seqüestro do ônibus 174, toda a população passou a ver o Sandro do Nascimento e meninos como ele, como os grandes vilões da sociedade. O que te levou a querer contar a história do Sandro?

Justamente a idéia de que estes meninos não são inerentemente violentos.

Se manifestam violência, como o Sandro fez no Ônibus 174, é porque na maioria das vezes são pacientes de processos sociais que as tornam violentas.



03. Muitas pessoas dizem que o Tropa de Elite 2 deveria ter sido lançado antes das eleições. Você concorda que o filme poderia influenciar?

Não faço cinema para influenciar campanhas políticas, e não acredito na arte como instrumento de política partidária. Acho, ao contrário, que um artista que associa a sua criação a dados partidos políticos tem, na maioria das vezes, muito a perder.



04 - Mas Tropa de Elite 2 faz alusões declaradas, positivas e negativas, a políticos conhecidos, como Wagner Montes, Anthony Garotinho e Marcelo Freixo. Essa não é uma forma de fazer associações políticas?

Não, é uma forma de fazer cinema, onde roteirista, diretor e atores se inspiram em suas memórias afetivas, em pesquisas e entrevistas no mundo real, e compõe um filme de ficção que funciona, também, como crítica e crônica social.

05 - Você escolheria o filme "Lula, o filho do Brasil" para representar o Brasil no Oscar?

Não vi o filme, mas imagino que seja muito bom para ter sido escolhido.

Dos filmes que vi, ficaria com o da Lais Bodanski, As melhores coisas do mundo.
06. - A pirataria trouxe algo de positivo para o seu trabalho? Na sua opinião, qual seria a solução para esse problema?

Não. A pirataria é crime, envolve sonegação fiscal, corrupção policial, desrespeito a direitos trabalhistas e concorrência desleal. Isso só pode ser resolvido com mais educação e leis mais severas.


07 -  Estima-se que o número de pessoas que assistiram ao filme pirata foi de 25 milhões de pessoas, não acha que esse fato contribuiu para o sucesso de Tropa de Elite 2?

O público do Tropa 1 certamente contribuiu para o sucesso do Tropa 2, mas não se pode reduzir este público ao público da pirataria, por maior que ele seja. Primeiro, porque não sabemos qual seria o público de cinema sem a pirataria. E depois, porque existe também o público que viu o Tropa 1 na TV a cabo, na TV aberta e nos DVDs.



08. No Tropa de Elite 1, em alguns momentos, você disse que era ficção para evitar polêmicas, no entanto, o que você mostrou era 40% do que acontece de fato. Você não acha que tinha que assumir?

O Tropa de Elite é um filme de ficção, assim como é o Tropa de Elite 2. São filmes que narram a trajetória de personagens fictícios, criados a partir de extensas pesquisas para representar tipos sociais que encontramos na realidade carioca. Em suma: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Mas nem por isso os filmes deixam de ser ficção.



09-  No Tropa de elite 2 vocês dizem que uma parte é ficção, no entanto, todos nós sabemos que a ficção é, no máximo, em relação aos nomes dos personagens, pois é tudo verdade. Você não acha que o filme não provocou mais ações concretas por vocês não terem assumido isso?

Não. Acho que a ficção, quando ancorada em boa dramaturgia, é um instrumento poderoso, talvez mais poderoso do que a notícia, para fomentar o debate a ações concretas no longo prazo.

10. Tropa de Elite 2 tem uma carga política acentuada. Você sofreu algum tipo de retaliação dos políticos por causa do filme?

Até agora, nenhuma. Político não é bobo, não bate de frente com a opinião do público a toa.


11.  Você chegou a lançar uma nota negando seu apoio à Candidata do PT, Dilma Rousseff. Porque você acha que citaram seu nome no Manifesto?

Porque o Tropa de Elite 2 está tendo ótima aceitação do público, e por uma boa dose de falta de organização dos responsáveis pela lista.
12. O que você acha da presidente eleita, Dilma Roussef? Porque não assinou o Manifesto?

O fato mais importante desta eleição independeu dos candidatos: foi o ficha limpa, um fato que muda a regra do jogo na direção certa. De minha parte, nesta eleição me interessei pouco por este ou por aquele candidato ou partido político. Acho que todos faziam parte de um processo político viciado, e por isto não aderi a nenhum deles. O mais importante para mim é mudar as regras do jogo eleitoral, do sistema de financiamento eleitoral, que favorece políticos que ancoram suas campanhas em atividades e financiamentos questionáveis.



 13- Você trabalhou muito a questão da Corporação Militar, incluindo as UPPs. Qual a sua crítica em relação à ocupação das favelas?

Acho que as UPPS são a metade mais fácil de um plano de segurança pública.

O mais importante, e difícil também, e reformar as polícias.



14 -  O que falta para o cinema nacional ter a mesma bilheteria que os filmes estrangeiros têm?
Mais bons filmes e mais coragem na distribuição.

15. Qual a maior dificuldade em se fazer um filme no Brasil?

O roteiro e dinheiro.



16. Qual cineasta é sua referência?

Martin Scorcese. "



17. O que mudou na sua visão sobre o BOPE antes e depois de fazer o Tropa de Elite?

Muito pouco. O BOPE é um sintoma de doença social. Uma sociedade pacífica jamais teria um batalhão como este.


18. Você acredita que as milícias vão parar de crescer?

Não no curto prazo, e não sem uma reforma séria da polícia.



19. Luiz Eduardo Soares e todos os autores dos livros homônimos sofreram ameaças. E você? 

Eu não atendo números que não reconheço!



    20. Fale sobre:  

Marcelo Freixo – um político honesto, que coloca as questões sociais a frente do cálculo eleitoral, e um amigo que admiro.

Anthony Garotinho - um político nefasto e desonesto

Wagner Moura – o maior ator do Brasil

Rodrigo Pimentel – um grande amigo, um sujeito corajoso, um cara inteligente e muito desorganizado

Sergio Cabral – não é o governador dos meus sonhos, mas é muito melhor do que os últimos governadores que tivemos

Beltrame – me parece ser um secretário honesto, que quer fazer um trabalho sério, mas que reluta em admitir que as organizações que comanda são organizações falidas e que precisam ser reformadas total e urgentemente.

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