domingo, 19 de setembro de 2010

Guerra dos Farrapos parte 2


Os Farrapos
Farrapos ou farroupilhas foram chamados todos os que se revoltaram contra o governo imperial, e que culminou com a Proclamação da República Rio-Grandense. Era termo considerado originalmente pejorativo, já utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para designar os sul-riograndenses vinculados ao Partido Liberal, oposicionistas e radicais ao governo central, destacando-se os chamados jurujubas. O termo, oriundo do parlamento, com o tempo foi adotado pelos próprios revolucionários, de forma semelhante à que ocorreu com os sans-cullotes à época da Revolução Francesa. Seus oponentes imperiais eram por eles chamados de caramurus ou camelos[6], termo jocoso em geral aplicado aos membros do Partido Restaurador no Parlamento Imperial.
Em 1831, no Rio de Janeiro, havia os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca dos Farroupilhas. Em 1832 foi fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luís José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva(tio de Luís Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), casa esta que era sede também da Sociedade Continentino. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre. [16].
Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.
No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho. A maçonaria sulista teve importante papel nos rumos tomados, tendendo aos ideais republicanos.[17]
[editar] A Revolta Farroupilha

Lenço decorado usado pelos Farroupilhas. Acervo do Museu Júlio de Castilhos
No ano de 1835 os ânimos políticos estavam exaltados. O descontentamento de estancieiros, liberais, industriais do charque, e militares locais promoviam reuniões em casas de particulares, destacando-se a figura de Bento Gonçalves. Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, chegara ao posto pela indicação de Bento Gonçalves e, apesar de ser rio-grandense, passara tanto tempo servindo o Império na Europa e nos Estados Unidos, logo após seus estudos em Coimbra, que não tinha laços suficientemente sólidos estabelecidos no Rio Grande. [18] Fernandes Braga, apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, logo entrou em atrito. Na sessão inaugural da Assembleia Provincial, perante uma plateia majoritariamente hostil acusou os liberais extremados de planejarem separar o Rio Grande do Sul do Império e uni-lo ao Uruguai[19], mencionando Bento Gonçalves[14] e referindo-se também a Lavalleja e ao seu mentor, o indigno Padre Caldas[12]. Houveram protestos e contra-protestos em sessões seguidas, Fernandes Braga ainda tentou corrigir-se e apaziguar os ânimos, mas já era tarde demais.[14]
Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos, (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento e futuro presidente da República Rio-Grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Sousa Neto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com os ideais republicanos) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Antônio Rodrigues Fernandes Braga.
Em várias cidades do interior as milícias foram alertadas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Brancas, hoje cidade de Guaíba.[14] Gomes Jardim e Onofre Pires comandavam os farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha[14], o atual cemitério São Miguel e Almas. Também mantinham, no dia 19 de setembro de 1835, um piquete com 30 homens nas imediações da ponte da Azenha[5], comandado por Manuel Vieira da Rocha, o cabo Rocha, que aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila. Porém Fernandes Braga ouvira alguns boatos e desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° visconde de Camamu, fazer um reconhecimento durante à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas imperiais se deixaram notar e foram atacados pelo piquete republicano e fugiram, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio visconde, sujo e ensanguentado alertou Fernandes Braga da revolta.[14] Eram 11 horas da noite de 19 de setembro de 1835.

Regente Imperial Padre Feijó
Fernandes Braga ainda tentou organizar uma resistência, ao amanhecer estava junto ao arsenal de guerra, hoje ponta do Gasômetro, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade, pois o 8° Batalhão de Caçadores, comandado por João Manuel de Lima e Silva havia se declarado revolucionário[14]. Vendo a escassez de armas e munição, Braga resolve fugir[5] a bordo da escuna Rio-Grandense[20][14], seguido pela canhoneira 19 de Outubro, indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais.
Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835[11], chegam às portas da cidade Bento Gonçalves e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários. No resto da província apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados.
A Câmara Municipal reuniu-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vices-presidentes imediatos, assume o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro.[21] Em 25 de setembro Bento Gonçalves expede uma carta ao Regente Imperial, padre Diogo Antônio Feijó, explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente e comandante das armas.[14] Os revoltosos davam, então, o conflito por encerrado.[14]
[editar] A reação imperial
De Rio Grande, Fernandes Braga embarca para o Rio de Janeiro em 23 de outubro[5], capital do Império do Brasil. Uma vez na Corte, Braga passa a sua versão da história, bastante diferente da carta enviada por Bento Gonçalves. O novo indicado José de Araújo Ribeiro[21], veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra: onze brigues e escunas, além de diversas canhoneiras, lanchas e iates[20], carregados de armamento e muitos soldados imperiais, sob o comando do capitão de mar e guerra John Pascoe Grenfell.
Araújo Ribeiro chegou a Porto Alegre no início de dezembro, devendo tomar posse em 9 de dezembro.[14] Uma confusão em relação ao papel de Pereira Duarte no apoio à causa farroupilha fez com que fosse adiada a posse, retirando-se Araújo Ribeiro para Rio Grande, com intenção de retornar à Corte.[14] Lá foi convencido por Bento Manuel e outros amigos a permanecer, com a promessa de apoio à Presidência[14], tomou então posse perante a Câmara Municipal de Rio Grande, em 15 de janeiro de 1836[5]. Bento Manuel, que havia apoiado a revolta inicial e ainda iria trocar de lado na disputa duas vezes, desloca-se para o interior e depois para Porto Alegre com o intuito de cercá-la.[14] Os liberais receberam a posse de Araújo Ribeiro como declaração de guerra, reunindo seus soldados que estavam dispersos desde outubro, sob a presidência de Marciano Ribeiro.[14]
Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunindo oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas, como João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o Chico Pedro ou Moringue), Manuel Marques de Sousa, mais tarde conde de Porto Alegre, Bento Manuel Ribeiro[22], Manuel Luís Osório (hoje patrono da cavalaria do Brasil), e até mesmo contratando mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembleia Provincial, e destituiu Bento Gonçalves do comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano José Pereira Ribeiro, desautorizando-o. Inicia aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.
Em abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva, prende o major Manuel Marques de Sousa, que é trazido junto com os demais prisioneiros para o navio-prisão Presiganga. Na noite de 15 de junho de 1836, com a ajuda de um guarda corrupto, os prisioneiros são soltos, e sob o comando de Marques de Sousa, com ajuda de Bento Manuel os Imperiais retomam a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas.[5][14] São presos Marciano Ribeiro, Pedro Boticário e mais 32 revoltosos.[14]
Dias depois, Bento Gonçalves tenta retomar a capital, é rechaçado, e começa um sítio ao redor da cidade que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840. Sem o controle da capital e do único porto marítimo da província, os revoltosos estabeleceram quartel-general na cidade de Piratini.
Em 21 de agosto, as tropas navais de Grenfell têm sua primeira vitória, com as tomadas do forte do Junco[23]. e do forte de Itapoã, num desembarque comandado pelo capitão-tenente Guilherme Parker, [20].
[editar] A proclamação da República
Ver artigo principal: República Rio-Grandense

Proclamação da República Piratini, 1915, por Antônio Parreiras.
No início de setembro de 1836 Antônio de Sousa Neto desloca-se à região de Bagé, onde o imperial João da Silva Tavares, vindo do Uruguai, mantém o desassossego entre os farroupilhas residentes.[14] A Primeira Brigada de Neto, com 400 homens atravessa o arroio Seival e encontra as tropas de Silva Tavares (560 homens) sobre uma coxilha. Era a tarde de 10 de setembro de 1836 quando começa a batalha do Seival. Silva Tavares desce a coxilha em desabalada carga. Neto ordena também a carga de lança e espada, sem tiros. As forças se encontram em sangrento combate. Silva Tavares foge e seus homens são derrotados[5]. Os farrapos ficam quase intactos, enquanto do outro lado há 180 mortos, 63 feridos e 100 prisioneiros.
Donos do campo, os farroupilhas comemoram vibrantemente a vitória. Cresce a vontade separatista de conquistar e manter um país rio-grandense independente, entre as nações do mundo. À noite as questões ideológicas são revistas. Lucas de Oliveira, Joaquim Pedro, republicanos ardorosos catequizam Neto.[14] Argumentam que não há outra saída a não ser enveredar pela senda da independência, não há outro desejo popular a não ser o desejo de liberdade, de abolição da escravatura e de democracia sob o sistema republicano. Se tivesse que acontecer, a hora era aquela, a hora da vitória, do júbilo, da afirmação. Neto passa a simpatizar com a ideia, mas resiste diante de uma provável reprovação de seus pares. Pensa que tal proclamação de uma nova República deveria partir de Bento Gonçalves, o grande comandante de todos os farrapos. Contrapuseram que Bento já se decidira pela República e que hierarquia rígida era coisa do Império. O sistema republicano centra-se no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa.
Finalmente, aquiescendo o Coronel Neto, passaram a escrever a Proclamação da República Rio-Grandense que seria lida e efetivada por ele, perante a tropa perfilada, em 11 de setembro de 1836[11].

Azevedo Dutra: Retrato de Antônio de Sousa Netto, século XIX. Acervo do Museu Júlio de Castilhos
Após a cerimônia de Proclamação, irrompem todos em gritos de euforia, liberdade, e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chega à galope o tenente Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé. Passa então a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-Grandense, comemorando sua independência.
Foram conclamadas as demais províncias brasileiras a unirem-se como entes federados no sistema republicano[14], foi criado um hino nacional e bandeira própria do novo estado, até hoje cultivados pelo Estado do Rio Grande do Sul. Também foi estabelecida a capital na pequena cidade de Piratini, donde surgiu uma nova alcunha, República de Piratini.
A partir deste momento, ocorre a falência imediata da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos, propriamente dita. A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata.
Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da República independente.
Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.
O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).
Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.
Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);
A república Riograndense tinha escasso apoio nas áreas colonizadas pela recente imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado na desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo em colônias cedidas pelo Império, no Vale do Rio dos Sinos. Em Porto Alegre, apesar da simpatia de parte das camadas médias, não recebia o apoio popular, que mobilizava outras cidades da Província de São Pedro do Rio Grande. Inicialmente sua base social era originária de liberais, militares, industriais do charque e, especialmente de estancieiros com capacidade de liderar exércitos particulares de "peões", vaqueiros que lhes prestavam serviços ou deles dependiam para subsistência e defesa e cuja obediência e fidelidade era garantida por traços feudais da cultura local; e por escravos, que no meio rural eram incluídos no convívio social dos peões. Como havia interfaces com o Uruguai, também eram contratados elementos de lá provenientes. Os exímios cavaleiros forjados nas lides campeiras, chamados "gaúchos" formavam corpos de cavalaria de choque aptos a travar uma guerra de guerrilha. Esses exércitos dispunham de alta mobilidade e conhecimento do terreno, mas sem dispor de infantaria nem adequada artilharia, os Farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas do Rio Grande e Porto Alegre, e pouca capacidade de defesa das praças que controlava.

Fonte: Wikipédia

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