

TRAGÉDIA NA BALADA
Pistola da BM foi usada em crime
Polícia apura se munição que matou universitário também era do EstadoA bala que matou o universitário Wagner Boeira Cardoso, 26 anos, na madrugada de domingo, na Capital, foi disparada por uma pistola calibre .40 de propriedade do Estado. A arma era empunhada pelo soldado da Brigada Militar (BM) Thiago de Lima Garcia Vieira, há seis anos na corporação e que trabalhava como segurança da casa noturna Roseplace, no bairro Moinhos de Vento.
O policial de 26 anos teria perseguido o jovem por duas quadras e, após agredi-lo a socos e pontapés, efetuado disparo que atingiu a cabeça da vítima. A polícia apura se a munição era de propriedade do Estado.
Tudo teria começado na fila do caixa. Amigo de infância de Cardoso, o universitário Ricardo Paz Gross, 28 anos, também agredido pelos seguranças, conta que a dupla se preparava para deixar a casa noturna quando um incidente teria deflagrado a violência.
– Dois caras tentaram furar a fila na hora de pagar, aí a gente reclamou. Na saída, um deles me deu um encontrão e, em seguida, uma cabeçada. Mas não reagimos. Então, cerca de seis seguranças nos tiraram para fora a socos e chutes – conta o estudante.
As agressões continuaram no lado de fora da boate, localizada na Rua 24 de Outubro. Os jovens tentaram correr até o estacionamento onde estava o carro deles, há cerca de duas quadras do local, na Rua Doutor Timóteo, mas foram seguidos por três seguranças, entre eles, o soldado Thiago.
– Caímos no chão e continuaram dando coronhadas. Estavam enlouquecidos. De repente, pararam e saíram correndo. Quando olhei, vi ele baleado na cabeça. Entrei em pânico e pedi socorro a um taxista que passava – revela Gross.
Imagens de câmeras podem auxiliar nas investigações
A indignação de familiares levou-os a um protesto ontem à tarde em frente à casa noturna. Na esquina onde ocorreu o crime, fizeram um oração para a vítima, estudante de Administração, que estava no último ano da faculdade e trabalhava como auxiliar administrativo na Vonpar.
– Ele havia passado nos últimos concursos do Banrisul e da Trensurb. Era um garoto tranquilo, feliz, que morava com os pais, e aguardava ser chamado em uma das duas seleções – lembra a prima da vítima Jaqueline Boeira Izzolotto, 38 anos.
O PM Thiago foi preso no domingo, em Osório, para onde havia se refugiado. Conforme o delegado de Homicídios, Arthur Teixeira Raldi, um segundo soldado do 9º BPM, também autuado em flagrante, teve a liberdade provisória concedida pela Justiça.
– Isso não quer dizer que ele também não seja indiciado, já que, como PM, teria a missão de evitar o homicídio. Estamos buscando identificar quem seria o terceiro segurança envolvido – ressalta o delegado.
Em depoimento, Thiago afirmou que o disparo teria sido acidental. Conforme o coronel Antero Batista, comandante do Policiamento da Capital (CPC), o PM disse que a vítima teria tentado pegar sua pistola.
– Segundo o PM, nesse momento, a arma teria disparado. Foi isso que disse à Brigada e à Polícia Civil, que investigará o caso – explicou.
O oficial reagiu indignado ao ser informado de que a arma usada no crime era da corporação:
– A Brigada não compra arma para PM fazer bico.
As imagens das câmeras de segurança da casa noturna já foram encaminhadas ao Departamento de Criminalística para serem analisadas. O delegado espera, até quarta-feira, receber ainda cópias das câmeras de rua e de um estacionamento próximo.
– Por enquanto, não tenho elementos para apontar responsabilidade criminal dos donos da casa noturna, mas temos muitas pessoas para ouvir ainda. Quero concluir o inquérito na próxima semana – adiantou Raldi.
francisco.amorim@zerohora.com.br
FRANCISCO AMORIM
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