
Medo de Mino Carta
Ruy Carlos Ostermann
De fato, tinha minhas boas razões para ter uma espécie de medo intelectual da entrevista com Mino Carta. Medo intelectual é respeito, mas é, também, incerteza, essa mesma que gera insegurança e muitas vezes nos deixa perplexos e imóveis mentalmente. O Mino era uma dessas limitações prévias que me impunha inconscientemente.
Tudo em nome do respeito, da admiração, do seguimento de tantos exemplos da revista Carta Capital, que é uma exceção ideológica entre as revistas nacionais - só isso me fazia estremecer moralmente e temer pela primeira frase.
O Encontros foi excepcionalmente numa terça-feira, a pedido dele: nos dias a seguir estaria envolvido com o fechamento da revista, e nada o tiraria de São Paulo. Foi bem complicado para me acalmar. Não pude ir ao aeroporto esperá-lo, não achei prudente seguir-lhe os passos pela cidade. A Paola (assessora de imprensa do Encontros) tratou disso com esmero, cuidado e carinhosamente. Foi a primeira trégua que percebi: Mino estava feliz, de paletó e gravata - um genovês elegante, como já me alertaram - e muito sorridente.
Estendi-lhe a mão, beijei seu rosto, eu estava me libertando das velhas inseguranças, ele não percebeu (deveria, suspeito, imaginar-me um jornalista à vontade, o que nunca fui), mas também nenhum tipo de surpresa. Fomos tomar cerveja. Mais tarde, chegaríamos ao tinto Carmenère. Comemos entrecot, mas ele prefere os peixes. E conversamos sempre.
Em dois minutos, éramos bons amigos.
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