
A diferença do discurso
Ruy Carlos Ostermann
Estive esta semana em Florianópolis e Tubarão para duas palestras, também chamadas de conferências ou bate-bapos, no ofício que me mandaram com o convite e detalhes chamaram até de aula magna. Tudo é a mesma coisa, isso é um momento privilegiado em que devo assumir minha estatura, meus braços e pernas, não curvar as costas, ajustar os óculos e falar.
Nada pode ser muito prevenido, o máximo que se faz nessas circunstâncias é delimitar o campo dos discursos. Também se trata disso, de um discurso. Nada é mais individual, próprio de uma pessoa, o que sai como fala é o que vem de dentro e é reelaborado como pensamento e diz respeito ao que está geralmente escondido.
Não se faz um discurso sem antes reparar em todos os olhares, as posições de quem está sentado, e é indispensável perceber algum tipo de satisfação prévia. A suspeita de um sorriso. Ou, enfim, simples curiosidade. Mas é o que basta.
Devo ter feito dois discursos e, embora pensasse em reproduzir um só nas duas universidades, tinha certeza de que seria impossível. Porque não era o mesmo lugar, as mesmas pessoas, a luz do alto, a janela do lado, e eu mesmo já seria outro. Pouco vale o esforço de ser igual porque não há como. O fato mais extraordinário da vida, de um discurso a outro que seja, é que continuamos sendo diferentes. Ainda bem.
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