sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Somos Todos Palmares

ARTIGOS
Somos todos Palmares, por Deivison Campos*Há 37 anos, a Zero Hora do dia 20 de novembro publicou uma Revista ZH especial, com oito páginas, sobre a proposta do Grupo Palmares de Porto Alegre para a adoção da data como Dia do Negro. O jornal estava em seu oitavo ano de circulação e possuía uma tiragem de aproximadamente 28 mil exemplares nos dias úteis. A publicação chamou a atenção para o grupo e suas propostas em âmbito local. Também seria por influência desse caderno que nos dois anos seguintes um jornal de circulação nacional publicaria um novo manifesto do grupo, nacionalizando a proposta do 20 de Novembro. A data seria aprovada em 1978, com a fundação do Movimento Negro Unificado, como o Dia da Consciência Negra.

O caderno publicado em Zero Hora continha um manifesto no qual constavam os princípios para uma nova forma de buscar a plena cidadania para a imensa população negra. As propostas do grupo podem ser sintetizadas pela releitura da história do país, valorizando a contribuição negra, o acesso e qualificação do Ensino Fundamental, a reelaboração da identidade étnica e o diálogo com os movimentos negros na diáspora e na África. A proposta da data teria como objetivo substituir a ideia de liberdade concedida (13 de maio) por uma de liberdade conquistada (20 de novembro).

As discussões sobre a data se iniciaram em 1970 na Rua dos Andradas por um grupo de jovens negros que costumavam se reunir em frente à loja Masson. O primeiro ato evocativo a Palmares, organizado pelo grupo, ocorreu em 1971 no extinto clube Marcílio Dias, que ficava na Avenida Praia de Belas, próximo do Hospital Mãe de Deus. Naquele dia, 11 pessoas participaram da atividade. Um ano depois, as discussões realizadas até aquele momento foram sistematizadas no caderno e ganharam dimensão estadual. Era a consolidação do projeto de construir um “quilombo simbólico”, ou seja, um novo lugar de negociação para a cidadania plena com a sociedade brasileira.

A partir da proposta articulada no início dos anos 70 em Porto Alegre pelo Grupo Palmares, o movimento social e a população negra têm tido avanços em seu processo de socialização. Oliveira Silveira, que dedicou sua vida a reconstruir o quilombo, costumava dizer que o objetivo sempre foi o coletivo, Palmares, simbolizado no dia da morte de Zumbi. Florestan Fernandes escreveu que o movimento negro tomou para si a função de “provar que os homens precisam identificar-se de forma íntegra e consciente, com os valores que encaram a ordem legal escolhida”. Passados 120 anos da República, a democracia ainda é um projeto no Brasil. A ONU tem advertido que o país só atingirá o desenvolvimento com a promoção da população negra. A imprensa, como lugar de socialização e de canal das reivindicações, tem um importante papel no processo. Assim como fez Zero Hora, sejamos todos Palmares.



*Jornalista, coordenador do curso de Jornalismo da Ulbra

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim