
Ficar entre os livros: uma decisão simples
Ruy Carlos Ostermann
Foi uma decisão simples com efeitos maravilhosos, boa parte deles incontroláveis, mas todos cabendo numa estante de bom porte, dessas que dão a volta e se fecham contra a última parede, servindo tudo nelas.
Já faz mais de uma semana de dias contados, um depois do outro. Fui a Passo Fundo na Jornada Literária. O Ignácio de Loyola Brandão, poeta, cronista, contador de histórias inigualável, é que proferiu a verdade de todo mundo que lá esteve: não há outro acontecimento mais verdadeiro em defesa da leitura, do livro e da conversação. Não há no Brasil e alhures também.
E emendei a Jornada com a Feira do Livro de Porto Alegre, sem respirar, fui bravo no calor de lá e no calor de cá, quase derretido. Ontem, foi um dia turvo, sem sol, anunciando chuva. Cético, pensei que não bastasse o calor de quase 40 graus agora ainda estaríamos na chuva, como pintos, só prejuízo.
Advertem-me que mais uma vez estou enganado: a Feira está praticamente coberta, ninguém se molha se tiver um mínimo de cuidado nas passagens. Olho para cima, sou mesmo um cético desastrado.
Perdi parte dos balaios, que é a grande conquista dos primeiros dias (e há preciosidades já algum tempo fora dos roteiros preferenciais das livrarias, livros preciosos, que só fazem bem pelo preço e pelas promessas de leitura). Mas me recupero rapidamente: já fiz escolhas, comprei alguns como o último Saramago, que repensa a ascensão irresistível do Mal entre nós – “Caim” é o nome do livro. E ainda têm Elias Canetti com uma triologia insuperável, todos os meus amigos que escrevem e publicam, para cada um deles tenho espaço e atenção.
Foi uma decisão, de fato, simples: ficar entre os livros o tempo todo. Sinto-me mais leve, quase sem sapatos.
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