quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ruy Carlos Ostermann



Aprender com os cachorros
Ruy Carlos Ostermann


Já tive muitos cachorros e nunca me arrependi. Não é que seja o companheiro do homem como se repete toda vez que falam de cachorros em casa ou no pátio. É bem mais do que um amigo de baixa exigência se não as afetivas e as da atenção. Exige o olhar, a mão, às vezes o colo ou o abraço - essa é toda atenção que cobra. Se não late as suas canções de abandono ou ronrona a certa distância, sempre para não se intrometer demais.

Mas é uma relação que precisa ser construída afetivamente. Ela não é espontânea ou súbita e nem fica à espera de que nos fatos se confirmem. Ela está represada, posta à disposição, mas sem movimento, é sempre uma possibilidade da convivência. Esse aprendizado de parte a parte, do homem e do cachorro, se faz por clareza de objetivos recíprocos, com rigoroso respeito pelo espaço de um e de outro.

Verdade que o cachorro tem uma percepção mais nítida dessa relação carinhosa, sabe esperar e, dificilmente, toma uma decisão equivocada ou apressada, sem sentido. Por isso, é naturalmente mais calmo do que o homem e olha com maior interesse e fidelidade para o que possa acontecer nessa relação frente a frente.

Sair para fazer outra coisa na sala ao lado significa uma suspensão e só pode ser substituída pela resignação do cachorro ou por sua curiosidade em saber do que se trata.

Há muito o que aprender com os cachorros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim