quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Angola





Holden Roberto morreu «sem o reconhecimento devido» Lusa

Partidos angolanos na oposição consideraram hoje, em Luanda, que Holden Roberto (na foto), fundador e presidente da FNLA, não teve o «reconhecimento devido» pelo seu papel na «libertação de Angola».

«Apesar dos meios existentes, não teve o reconhecimento que deveria ter tido e viveu com algumas dificuldades. Merecia ter tido outro tipo de apoio», disse à Agência Lusa, o porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto da Costa Júnior.

«A UNITA há dois anos realizou uma cerimónia muito particular onde prestou homenagem a Agostinho Neto, Jonas Savimbi e Holden Roberto, mas trata-se apenas de um partido e não bastava, gostaríamos que fosse o próprio Estado» a homenageá-los, salientou.

Para o presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Eduardo Kuangana, Holden Roberto como o único sobrevivente dos três subscritores dos Acordos de Alvor deveria ter sido tratado «com outro respeito».

«O próprio Estado devia ter dado outro tratamento, um estatuto especial. Deveria ter tido outro tratamento porque depois de Agostinho Neto e Jonas Savimbi, era o único que vivia», disse Eduardo Kuangana.

De acordo com o presidente do PRS, Holden Roberto foi um herói, uma das primeiras pessoas que despertaram a consciência dos angolanos para a luta de libertação nacional.

«Deixou um grande vazio, porque era uma pessoa a quem de vez em quando recorríamos para algumas consultas, ideias e alguns pensamentos. Ajudou muitos partidos, o país e África em geral», frisou.

Aos membros da FNLA, Eduardo Kuangana faz um apelo para que, agora com a morte do líder daquele partido, estejam unidos para enfrentarem novos desafios.

«Esperamos que a nova FNLA seja unida, que possa resolver os seus problemas internos e que consiga trabalhar para os desafios que se aproximam», afirmou.

Por sua vez, o presidente do Partido Democrático para o Progresso de Aliança Nacional Angolana (PDPANA), Sediangani Mbimbi, disse que Holden Roberto foi um grande combatente pela luta de libertação nacional, tendo feito sacrifícios pessoais para que hoje os angolanos «beneficiassem daquilo que ele próprio não beneficiou».

«Sacrificou-se para que muitos pudessem beneficiar de muita coisa que ele próprio não beneficiou. Os dirigentes deste país não souberam dar dignidade a esse homem», disse Sediangani Mbimbi.

Para o PDPANA, Holden Roberto foi «um pai político», o maior expoente e pilar dos pilares da luta do nacionalismo e libertação de Angola.

«O Holden também foi pai político para muitos dirigentes do MPLA e da UNITA, que passaram por movimentos de libertação como a UPA e depois a FNLA», disse.

Sediangani Mbimbi apela aos militantes da FNLA para que dêem continuidade à obra deixada pelo seu líder, para poderem dar a honra devida a Holden Roberto.

«Os militantes devem dar continuidade à obra de Holden com responsabilidade, coragem, determinação e espírito de união, só assim poderão dar honra a esse heróis da luta de libertação», disse, acrescentando que «devem estar unidos independentemente das suas divergências».

Já o secretário-geral do MPLA, partido no poder desde a independência, Julião Mateus Paulo «Dino Matross», disse que a morte de Holden Roberto deixa um vazio não só dentro do seu partido, mas também entre os angolanos.

«Como angolano, deu o seu contributo para a independência de Angola, lutou contra o colonialismo português e para fortalecimento da democracia deste país. É uma perda irreparável e por isso rendemos homenagem ao seu desaparecimento» , disse.

Recorde-se que o líder historio da FLNA, Álvaro Holden Roberto, faleceu quinta-feira, em Luanda, depois de um longo período de doença, na sua residência, aos 84 anos.



Holden Roberto
Morreu, no dia 2 deste mês, Holden Roberto, último signatário vivo dos acordos de Alvor. Não consta que alguma vez tenha estado no Quitexe, mas influenciou de forma determinante a vida desta povoação. Herói, terrorista, patriota, comunista, reaccionário, agente do imperialismo americano, nacionalista, déspota, conciliador, corrupto, amante da paz. Todos estes epítetos podemos encontrar escritos sobre este homem, tão divergentes e díspares eram as opiniões conforme o ângulo de quem as emitia.

Para o povo angolano e para a História de Angola ficará, sem dúvida, como um dos seus maiores heróis, iniciador e dirigente da luta de libertação nacional.

Para os portugueses e angolanos (nomeadamente Bailundos) que sofreram na carne a revolta sangrenta do 15 de Março terá sido um líder sanguinário, racista e tribalista.

Para os povos do norte de Angola que se rebelaram em 61 era o grande líder, que os libertaria da opressão do colonialismo português, como Lumumba fizera no Congo, com os colonialistas belgas.

Para os guerrilheiro do MPLA dizimados pela acção do exército da UPA/FNLA quando tentavam chegar às suas áreas de guerrilha era um traidor, aliado dos colonialistas e um agente zeloso do imperialismo americano.

Para muitos militantes da FNLA que com ele se incompatibilizaram terá sido um déspota, corrupto e autoritário.

Para os que em Luanda declararam a independência de Angola era um traidor, fantoche nas mãos de Mobuto e da CIA.

Para Savimbi, seu antigo ministro no GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio), Holden Roberto apenas foi útil enquanto teve força militar. Quando em 75 a FNLA foi derrotada no Norte de Angola, deixou de servir na sua estratégia pessoal de conquista do poder.

Para muitos angolanos Holden Roberto passou a ser uma referência recusando a guerra fratricida em que se empenharam o Governo e a UNITA.

Com a sua influência cada vez mais reduzida, com a sua base de apoio restringida ao seu grupo étnico (apenas venceu as eleições de 92 na sua província natal do Zaire, e com escassa margem, tendo sido relegado para o quarto lugar a nível nacional), com grande parte dos seus antigos companheiros a integrarem-se no MPLA, sem apoios internacionais e sem conseguir a unidade no seu próprio partido o Velho Holden, por opção própria, ou por força destas circunstâncias soube granjear o respeito da maioria dos angolanos, optando pela paz, mas mantendo a coerência dos seus princípios, a independência da sua voz e o prestígio devido a um velho combatente.

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