quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Encontros com o Professor






Livros da memória e outros
Ruy Carlos Ostermann


Não foi minha a decisão de mexer nos livros e reorganizar a biblioteca. Está quase tudo de pernas para cima, há pilhas de livros por todos cantos e, a rigor, só agora, um mês depois, começa a pegar forma a parte na qual a obra completa do Erico Verissimo serve de referência definitiva. Em torno dele estão todos os outros, a começar por Machado de Assis.

Tenho muita dificuldade em lidar com tudo isso. Desenvolvi uma espécie de afeto por aqueles objetos regulares. Alguns estão perdendo a capa, as primeiras folhas, alguns já desabaram, vítimas das traças e dos cupins, mas continuam lá, no seu lugar, de pé mesmo que escorados em outros livros mais resistentes.

Já conversei com meus amigos a respeito dos nossos livros. Tivemos a ideia de doá-los para a formação de uma biblioteca pública, que levaria o nome de cada um na parte que lhe correspondesse. Mas não passamos disso. Tenho certeza de que eles acabaram fazendo o que também fiz: ficar na frente das estantes e ter orgulho delas. Afinal, é uma história simples de nossa vida intelectual – reencontro velhas edições em que ainda tinha o hábito juvenil de fazer uma anotação de certa extensão, alusiva à data ou à pessoa, e assinar Ruy Carlos. Faz tempo.

Agora sento na minha poltrona, espicho as pernas e fico a adivinhar onde possa estar Carlos Drummond de Andrade. A Nilse faz as mudanças, apaixonada que está pela restauração de livros, eu apenas sofro e só hoje me atrevi a escrever, que é quando também se muda de ideia.

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