quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Rede de Prostituição

Redes de prostituição aliciam menores na porta da escola
Nossos repórteres viajam ao Mato Grosso do Sul e encontram meninas que foram convencidas a fazer programas.
O Fantástico mostra agora detalhes de um crime que deixa a gente indignada: o aliciamento de menores de idade para a prostituição.

Em Mato Grosso do Sul, nossos repórteres encontraram meninas que foram abordadas na porta da escola e convencidas a fazer programas.
Alunas de escola pública, bonitas e com 15 anos, no máximo. Segundo a polícia, ao encontrar meninas com esse perfil, uma mulher entrava em ação.

“Falava que era dinheiro fácil, que não precisava trabalhar muito”, revela uma jovem.

Uma adolescente, de 14 anos, conta que foi abordada na porta da escola, na periferia de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

“Da primeira vez, eu não quis. Na quarta vez que ela foi atrás de mim, eu aceitei”, conta a adolescente.

A insistência era para que ela fizesse programas sexuais. Mariana Brandão, a aliciadora, foi presa esta semana, acusada de comandar uma rede de prostituição de menores de idade.
Adolescente: Ela vinha buscar perto da minha casa. Aí depois levava pra casa dela e os homens iam lá e escolhiam a menina.

Repórter: Você chegou a ficar com mais quantas meninas?

Adolescente: 15 meninas.

Repórter: Todas com menos de 18 anos?

Adolescente: Todas.

Repórter: Qual a menina mais nova que você chegou a ver na casa?

Adolescente: Foi 12 anos de idade.
A adolescente diz que foi convencida pela aliciadora a vender a virgindade.
Adolescente: Era pra ela separar as meninas que eram virgem. O homem foi me escolheu.

Repórter: Quanto custou a sua virgindade?

Adolescente: R$ 150. R$ 50 pra ela.

“Nem faço mais nada disso. Depois que eu fiquei sabendo que essa guria era de menor”, contou a aliciadora Mariana Brandão.

Durante três semanas, o Fantástico investigou as redes de prostituição em Mato Grosso do Sul e descobriu que o aliciamento ocorre até por anúncios de jornais.

Uma produtora do Fantástico ligou para os telefones que aparecem nos classificados, simulando interesse em ser garota de programa.

Fantástico: Como que é o serviço?

Aliciador: Primeiro eu tenho que ir até você ou você vir até mim, ver se você se encaixa naquilo que nós queremos.

Fantástico: Tá.
Aliciador: Se você se encaixar, você está feita pelo resto da vida.

“Normalmente se criam situações na relação entre esse cafetão e essa menina que envolvem normalmente dívidas que são criadas por esse marginal de modo que ela, sempre devendo dinheiro a ele, não consegue sair dessa vida”, explica o juiz da Infância e da Juventude de MS, Carlos Alberto Garcete de Almeida.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos fez um ranking das denúncias recebidas nos últimos seis anos pelo Disque 100, sobre abuso e exploração sexual de menores. Mato Grosso do Sul aparece em segundo lugar, atrás apenas do Distrito Federal.

As investigações mostram que em Campo Grande, os encontros sexuais com menores acontecem durante o dia, quando os pais estão trabalhando. Segundo a polícia, os programas costumam ser feitos em moteis. Os donos são suspeitos de participar do esquema de prostituição.

Outra adolescente, de 14 anos, que também diz ter sido aliciada na porta da escola, conta que ninguém perguntou a idade dela quando entrou no motel com um cliente.

“Ele conhecia o dono do motel. O dono do motel já sabia que ele saía com menores”, contou outra jovem.

No motel, ninguém quis comentar a denúncia.

A Delegacia de Proteção à Criança de Campo Grande recebe em média 80 denúncias por mês de exploração sexual de menores.

“Normalmente os clientes são homens mais velhos, 40,50, 60. Um desses clientes tinha 79 anos de idade. Clientes de classe média, classe média alta”, diz a delegada do departamento de Proteção à Criança e Adolescente/MS, Regina Rodrigues da Mota.

A mãe de uma menina aliciada diz que a filha seria levada para outro estado com documento falso.

“Eles iam levar porque eles estavam preparando a documentação. Uma menina de 14 anos com RG de 18”, conta a mãe.

Os aliciadores oferecem vaga para acompanhantes no interior de São Paulo e em Umuarama, no Paraná. No anúncio de Umuarama, o aviso só para maiores de 18 anos, mas por telefone o dono da boate propõe uma alternativa.

Fantástico: Se eu quiser levar uma amiga também pode?

Dona da boate: Pode sim.
Fantástico: Ela faz 18 em setembro.
Dona da Boate: Se ela tivesse um RG falso, uma coisa assim. Eu não sou obrigado a saber se o documento é falso ou verdadeiro, compreendeste?

Com uma câmera escondida, uma produtora do Fantástico entrou na boate do Paraná, a 600 quilômetros de Campo Grande. Na semana passada, havia sete garotas de programa no local. O Fantástico conseguiu falar com uma delas. A jovem não revelou a idade, mas deixou escapar que é bem nova.

“Agora estou me soltando mais. Nunca fiz programa, comecei agora”, diz a jovem.

A boate funciona como vitrine do sexo. Quem se interessa pelo programa é levado por um caminho interno, para dentro do motel. Basta andar um pouco, passar por um portão e já está no motel.
Sem apresentar nenhum documento, é possível ir para um dos quartos com a garota de programa. Procurado pelo Fantástico, o dono da boate preferiu não gravar entrevista. Ele se justificou por telefone: “Eu tenho uma casa registrada dentro dos parâmetros legais. Dentro da minha casa, não se pratica sexo. Se elas saem para fora, se o cliente leva ela para o hotel, leva ela para um motel, ela vai porque ela quer, elas são maiores”, afirma.

Aliciadores e donos de boates podem responder por crimes como favorecimento à prostituição, tráfico interno de pessoas e exploração sexual de menores. As penas chegam a 23 anos de cadeia.

“É um crime extremamente difícil de ser investigado, porque as adolescentes não se comportam como vítimas”, explica a delegada do departamento de Proteção à Criança e Adolescente, Regina Márcia Rodrigues da Mota.

“O que a gente precisa é que as famílias, os professores, comecem a perceber como que essas crianças estão circulando no seu território, qual o tipo de lazer que estão frequentando”, alerta Estela Scandola, do Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade.

“Tirou a inocência da minha filha. É uma criança”, fala uma mãe.

Repórter: E agora? O que você quer para o seu futuro?

Adolescente: Estudar, fazer uma faculdade, trabalhar um trabalho digno
Fonte: Fantástico/Rede Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim