sábado, 8 de outubro de 2016

Derrota da Esquerda

 
VALTER POMAR,  da AE  do PT
 
 
TARSO GENRO- ex0p governador do RS e ex-ministro da justiça do governo Lula
 

DERROTAS DA ESQUERDA: O QUE 2016 TEM A NOS ENSINAR?

O ano de 2016 será marcado profundamente pelas derrotas das forças progressistas no Brasil. A primeira derrota por fora das urnas, com a consumação do Golpe em 31 de Agosto, a segunda derrota por dentro das urnas, nas eleições de 2 de Outubro. Tais derrotas são importantes em si mesmas, mas mais do que isso elas apontam para a reconfiguração política que está em curso em nosso país. Portanto, é fundamental que todas e todos os militantes de esquerda tiremos as lições delas.
1. Não podemos explicar a derrota eleitoral sem o Golpe
Muitas das avaliações sobre o pleito municipal de 2 de Outubro, tanto de intelectuais progressistas, mas principalmente dos analistas da grande mídia, tem atribuído a derrota eleitoral do PT, aos equívocos cometidos pelo próprio partido. Contudo, essa é uma análise um tanto superficial, pois ignora a conjuntura latino-americana de ofensiva neoliberal, e o contexto de linchamento político e de criminalização que o PT disputou essas eleições. A triangulação entre a grande mídia, o sistema jurídico-policial e direita partidária construiu um “consenso anti-petista” que inviabilizou a maior parte de suas candidaturas e de seus aliados. Isso significa que qualquer força política que estivesse no lugar do PT nessa correlação de forças estaria igualmente estrangulada por essa ofensiva neoliberal.
2. Não podemos reduzir essa derrota eleitoral ao Golpe
Ao mesmo tempo, não podemos justificar essas derrotas somente pelos méritos do inimigo. Não podemos isentar o PT, pelos erros que levaram ao Golpe, e consequentemente, as derrotas eleitorais nessas eleições municipais. O PT deixou de ser um instrumentos de organização política dos setores populares para a disputa de hegemonia na sociedade, e tornou-se mais uma máquina eleitoral para a disputa de espaços institucionais. Deixou um programa de reformas estruturais do Estado, pela gestão de politicas públicas que melhorassem a vidas das pessoas, desde que não gerassem conflitos. Nesse esforço foi mais amoldado pela lógica da administração pública, do que conseguiu moldá-la. Fez alianças pragmáticas, mas não construiu ao longo de sucessivos governos correlação para que pudesse prescindi-las, ao contrário, foi tornando-se cada vez mais refém dessas alianças. De modo que ao término de 13 anos de governos petistas qual o saldo de organização popular e consciência política que essa experiência legou? Portanto, a derrota de ontem não foi construída somente a partir do Golpe, ela foi consequência de uma estratégia equivocada. As responsabilidades sobre as derrotas de 2016 devem ser divididas entre os méritos do inimigo e os limites da estratégia hegemônica da esquerda.
3. A derrota do PT não favoreceu outras forças políticas de esquerda
A crise do PT tem estimulado as forças políticas de esquerda a se assanharem para assumir o lugar de força hegemônica no campo progressista. Contudo, o resultado das eleições de ontem não demonstra que o espólio eleitoral do PT esteja sendo capitaneado por alguma sigla. É certo que PC do B e PSOL tiveram candidaturas de destaque em centros políticos importantes. Mas as suas conquistas foram mínimas frente ao tamanho da derrota do PT. Analisando o número de vereadores eleitos, enquanto PC do B cresceu 4,8% (46 vereadores a mais), e o PSOL cresceu 8,2% (4 vereadores a mais), o PT perdeu 44% de sua representação nas câmaras municipais, o que significa 2.272 vereadores a menos. Ou seja, não está em curso a transição de um polo político de esquerda a outro, está em curso a perda de terreno institucional das forças progressistas. Portanto, essa derrota não deve ser vista somente como a derrota do PT, mas é uma derrota do campo progressista, que em muitos locais não conseguiu se apresentar como alternativa viável, deixando a disputa política entre frações burguesas. É uma derrota que se apresenta no plano institucional, mas suas raízes são mais profundas. De modo geral essa derrota é a expressão da incapacidade de todas as forças políticas progressistas constituírem força social, centrando suas energias no trabalho subterrâneo de formação política e organização do povo.
4. A Direita sai fortalecida em todas as suas matizes
O terreno perdido pelo PT tem sido conquistado por partidos conservadores. Em primeiro lugar destaca-se, na fumaça da fragmentação partidária que virou o sistema politico brasileiro, o crescimento das siglas menores (PSD, SD, PSC, PRB, etc). Essa pulverização só favorece a Direita, na medida em que os partidos conservadores maiores tem muito mais capacidade e afinidade política para agenciá-los na conformação de alianças eleitorais estaduais e nacionais.
Nesse emaranhado de siglas duas forças políticas conservadoras se fortalecem. A primeira é a direita fundamentalista, associada às Igrejas pentecostais, que já vinha numa curva ascendente no cenário político, mas com as restrições de financiamento e com campanhas mais curtas, tendem a se consolidar cada vez mais como uma força decisiva, convertendo seus fieis em milhares de cabos eleitorais. O destaque fica com o PRB, sigla vinculada a Igreja Universal, que apresentou candidaturas altamente competitivas em SP, e está no segundo turno no RJ.
A segunda força que despontou, foi a extrema-direita ideológica que embora não tenha assumido centralidade nas disputas, ganhou um terreno que não havia no histórico recente da política nacional. Esteve presente não só na votação expressiva do filho de Bolsonaro, na disputa a prefeitura do RJ, mas também em dezenas de candidaturas bem sucedidas à vereadores encarnadas por lideranças coxinhas do MBL, do Vem pra Rua e do Partido Novo.
Por fim, entre os partidos grandes, o PSDB saiu muito fortalecido, em especial, pela vitória surpreendente em São Paulo, e pela presença no segundo turno em várias capitais. O anti-petismo, de modo geral, fortaleceu a Direita em todas as suas matizes.
5. A rejeição ao sistema político foi capturada pela Direita
As jornadas de junho de 2013 constituíram-se num fenômeno que até hoje suscita várias interpretações. Contudo, é inegável que dentre as motivações daquelas mobilizações estava o sentimento de inconformidade com o atual sistema político, em especial na juventude. Não é por menos que entre as palavras de ordem mais entoadas estava o grito de “Não me representa”.
Esse sentimento de não representação, que permaneceu desde então, não necessariamente é um caldo conservador. De modo geral todas as pessoas progressistas não se vem representados no Congresso Nacional, sabem dos vícios do nosso sistema político, da ausência de participação popular direita, de como ele é vulnerável ao poder econômico, etc. Portanto, há uma dimensão potencialmente emancipatória na crítica a essa institucionalidade da democracia burguesa.
Contudo, de 2013 pra cá essa rejeição as instituições políticas foi sendo capturada pela Direita. Principalmente através da campanha midiática e das mobilizações “Fora Dilma”, foi se fortalecendo essa associação entre um sistema politico corrupto e o PT, que inicialmente se consolidou na classe média, mas atualmente transbordou para praticamente todos os segmentos da sociedade. O fato de o PT estar encabeçando o governo federal, e a incapacidade dessa experiência representar uma nova institucionalidade política, reproduzindo práticas do sistema ao invés de superá-las, favoreceu enormemente a ancoragem desse discurso.
Nessa eleição a rejeição ao sistema político ficou evidente em pelo menos dois aspectos. O primeiro foi no crescimento das abstenções, votos nulos e brancos, chegando a mais de 40% no RJ e em SP. O que representa claramente um ceticismo crescente com relação a efetividade do voto. O segundo aspecto foi no discurso das candidaturas conservadoras. Aqui se destaca a narrativa construída por Dória em São Paulo, que se afirmava como gestor e não como político. Não há como explicar o sucesso de sua candidatura, a não ser por essa capacidade de dissociar-se da política e dos políticos (e do imaginário a eles vinculado: corrupção, mentira, ineficiência). A mágica de Dória foi a de negar o status quo político, sendo ele um representante desse status quo.
A exceção desse processo de sequestro de discurso político, foi a campanha de Freixo no Rio de Janeiro. Esta foi uma das poucas candidaturas que conseguiu canalizar à esquerda essa subjetividade de alternativa ao modus operandi da política, que infelizmente não se apresentou em outras disputas.
6. Desafios para a construção de um novo ciclo da esquerda no Brasil
Essas derrotas anunciam o encerramento de um ciclo na esquerda brasileira. Isso não significa a dissolução do PT, mas significa que ele não terá mais o mesmo papel protagônico de antes. Esse processo de reorganização da esquerda nos coloca um conjunto de desafios.
O primeiro desafio é o da unidade. Estas eleições demonstraram a incapacidade da esquerda se unificar mesmo sob as condições políticas mais adversas. Para evitarmos o pior cenário que é o da dispersão da esquerda, será necessário superarmos o sectarismo e o hegemonismo.
O segundo desafio é de projeto. O fim da experiência neodesenvolvimentsta, e a implementação do neoliberalismo que tende a se aprofundar, exige que formulemos um novo projeto que seja uma alternativa popular para as crises que estão em curso. Esse novo projeto deverá apresentar além de um programa econômico e social, uma resposta à esquerda para a crise de legitimidade do atual sistema político. Por isso que a luta por uma Constituinte se coloca como uma bandeira essencial na perspectiva de refundarmos as instituições políticas no Brasil, garantindo efetivamente a participação popular no controle do Estado.
O terceiro desafio é organizativo. Diante da mudança do papel que o PT passará a exercer na esquerda, precisamos de uma nova engenharia organizativa que assuma o comando político. Na atual conjuntura nenhuma força isolada tem essa capacidade. Precisamos de um novo arranjo politico que congregue partidos, correntes, movimentos populares e militantes sociais. O embrião desse instrumento vem se forjando nas lutas desde 2015, e chama-se Frente Brasil Popular. Contudo, esta experiência permanece muito aquém das nossas necessidades. A Frente deverá se tornar um espaço de organização política e social de todos aqueles que se opõem ao programa neoliberal, capilarizado por todo território nacional.

Levante Popular da Juventude
 
REFORMA POLITICA, JÁ!
por Joao Pedro Stedile
in revista Caros amigos, outubro 16
Passada a ressaca  eleitoral,  circulam muitas avaliações, analises e comentários.   Cada quem  tem  todo o direito, de a partir de  sua posição de classe ou  interesses  ideológicos tirar as conclusões que melhor lhe aprouver, para  os objetivos que defende.
Vi  diversas  analises comentando a derrota da esquerda,  a derrota  do petismo, o fim de um ciclo, a vitoria dos tucanos, etc .e tal.
Me  atrevo  também a citar reflexões pontuais : 
a)      Foi a campanha e eleição mais despolitizada de todos os tempos, apesar da sociedade viver uma de suas piores crises , econômica, política, social e ambiental. Mas ninguém debateu isso. Como se as cidades estivessem em outro planeta.  Na despolitização de propostas, prevaleceu o dinheiro ou o carisma pessoal.
b)      As campanhas se resumiram a  interesses pessoais e de grupos locais.  Por isso proliferaram vitorias das pequenas e desconhecidas siglas, que nem partidos são.
c)       A mídia burguesa  foi vencedora, pois conseguiu  iludir os trabalhadores e os mais pobres, de um ceticismo político e de um anti-petismo doentio, jamais visto.  Só comparado com os tempos da  guerra fria  e do Macartismo nos Estados Unidos.
d)      O poder judiciário e a autopropalada  “Republica de Curitiba”   fez seu papel de boca de urna conservadora,  reacionária, discricionários, prepotentes cometendo todo tipo de atropelos ilegais.   Nenhuma palavra sobre os processos contra Aécio, tucanos, PP e PMDB  tão ou mais envolvidos  na operação lava-jato do que o PT.
e)      O nível de abstenção absurdo, que chegou em média a  25% e que somados com brancos e nulos, nas grandes cidades superou  a todos votos recebidos pelos vencedores, revelam  que há uma maioria da população insatisfeita com tudo.
f)       A mídia burguesa focou suas analises apenas na vitoria da direita em São Paulo, para projetar  já o candidato  Alkmin a presidência da Republica.   Sem citar as contradições que isso vai  gerar dentro do próprio tucanato.  E nenhuma palavra sobre as derrotas do PMDB e do Sr. Jose Serra.
g)      Os resultados das capitais, deu de tudo.  Não se pode  concluir com uma tendência ou posição  hegemônica. De nenhum partido.     E espera-se que a esquerda ainda  ganhe em Aracaju, Recife, Belem e Rio de janeiro.  
Mas as campanha s eleitorais  despolitizadas  com alguns vencedores sem nenhuma representatividade social,  se transformam sempre em efêmeras, e logo logo  as contradições  e as insatisfações da população aflorarão.    Porque esses métodos   de manipulação da mídia burguesa  para seus candidatos,  tolhem  a ampliação da democracia  e a participação popular.
Todo esse processo  fajuta  e nojento,  evidenciou mais do que nunca de que a sociedade brasileira precisa mesmo de uma REFORMA POLITICA.   Uma reforma verdadeira, que  recoloque a nec essidade de  partidos  com programas, ideologias, para a sociedade.   Que devolva ao povo o direito da participação e decisão real sobre os bens públicos.   Sobre o estado, sobre os governos. Que dê ao povo o direito convocar plebiscistos sobre todos os temas de interesse popular, inclusive a revogação de mandatos de todos cargos que nao cumprem o programa prometido.
Há diversas propostas de reforma política interessantes apresentadas por entidades nacionais,  que dormem nas gavetas do congresso, por desinteresse de sua maioria conservadora e corrupta.    Por isso, a maioria dos movimentos populares defendemos a necessidade de convocação de uma assembléia constituinte exclusiva, para fazermos uma reforma política de fato, que garanta democracia participativa e o respeito a vontade do povo.
Que se iludam os vencedores, enquanto o povo não tiver  poder real,  a crise política  e a farsa prevalecerão.   E o povo buscará certamente,  outros canais de mobilização e expressão de sua vontade política.
 

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