segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Stédile Cobra Reforma Agrária




Stédile cobra reforma
agrária do governo Dilma
Fundador e coordenador do MST avalia que momento é de refluxo do movimento popular
Há mais de 30 anos na luta dos trabalhadores rurais sem
terra, João Pedro Stédile, um gaúcho descendentes de
italianos, ficou conhecido pela forma direta como manifesta
suas opiniões políticas. Nesta entrevista exclusiva ao ABCD
MAIOR, o coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) avalia que o Brasil passa por um refluxo
no movimento popular. Stédile dá nota oito para a presidente
Dilma Rousseff e cinco para todo o governo, que para ele
reúne setores da burguesia e dos trabalhadores.
1. Vocês enquadram a gestão do PT dentro do modelo do neo-desenvolvimentismo? Por que?
A formulação que os movimentos sociais fazemos, entre eles o MST, a via campesina, é que de os governos Lula e Dilma são fruto de uma frente política de classes da sociedade brasileira. Dela participam desde a grande burguesia até os mais pobres. E isso dá estabilidade e popularidade ao governo, porém o mantém como governo de composição de classes, com decisões heterogêneas e, às vezes, até contraditórias, ora beneficiam a burguesia, ora os trabalhadores, ora os mais pobres. No plano econômico, o próprio governo tem se auto-definido como neo-desenvolvimentista. É uma alternativa importante ao projeto tucano e do imperialismo, o neoliberalismo.  O neo-desenvolvimentismo procura desenvolver políticas que gerem crescimento econômico e distribuição de renda.  Isso é importante, porém insuficiente.  Os problemas graves da sociedade brasileira, como emprego para todos, terra para todos sem terra, universalização da educação, moradia digna para todos, e acesso à cultura, somente conseguiremos resolver com reformas estruturais. E elas somente serão viáveis com a retomada da mobilização de massas e se tivermos, dentro do governo, uma correlação de forças de partidos mais compromissados com os trabalhadores.
2.Em relação à reforma agrária, quais os avanços e recuos durante estes dez anos?
Nos últimos dez anos, não houve avanços em termos de reforma agrária.  Reforma agrária é uma política publica que leve a democratização da propriedade da terra, como bem da natureza, ao maior numero possível de seus cidadãos.  Nos últimos dez anos, se ampliou a concentração da propriedade da terra.  E pior, concentrou inclusive nas mãos de empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma não conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas, algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o governo Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do agro-negócio, que produz, ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e aumenta a pobreza no campo.
3. Como você o avalia o governo Dilma do ponto de vista ideológico: de um a 10, qual a nota?
A presidenta Dilma tem um bom desempenho pessoal e ideológico, daria  oito. A composição de seu governo, formada pelas forças políticas que detêm o controle dos ministérios, é bem pior do que no governo Lula. São prepotentes e desconhecem as prioridades do povo.  Ainda estão navegando com as políticas sociais do governo Lula.  Daria 5 para eles.
4. Gestões municipais progressistas podem ajudar o fortalecimento de organizações como o MST que defendem a agricultura familiar e a economia solidária?
Nós somos devotos de Santo Antonio Gramsci, o mais interessante dos santos italianos, sobretudo porque foi um sábio e comprometido com os trabalhadores.  E ele dizia que a luta de classes ocorre em todos os espaços da sociedade moderna.  Seja nas disputas eleitorais, seja em muitos espaços de pequenos poderes, que ele chamava de “estado ampliado”.   Por tanto, todos os espaços, um jornal, uma rádio, uma televisão comunitária, um sindicato, uma prefeitura, um governo do estado... Todos são espaços que podem acumular forças para o projeto da classe trabalhadora ou podem acumular forças para os capitalistas e os exploradores. Nós acreditamos e defendemos que as prefeituras podem e devem ser espaços importantíssimos para desenvolver políticas públicas a favor das necessidades do povo, democratizar a participação popular nas decisões municipais, etc.
5. Há partidos e organizações de vanguarda preocupados com esta construção? Que movimentos você enxerga como atores políticos no futuro imediato e de médio prazo?  
Infelizmente, no sentido genérico e incluindo todas as categorias do campo e da cidade, vivemos um período de refluxo do movimento de massas.  E isso retirou força política para a classe atuar nas disputas da sociedade.   Porém, esses períodos são limitados, em algum momento virá um novo processo de acenso.   Ninguém sabe quando, nem como.   E somente nos períodos de reascenso é possivel  rearticular formas organizativas e forças políticas-ideológicas. Por isso que agora estamos vivendo uma pasmaceira, em termos de organização política, que nos leva apenas a disputar eleições.  Que são necessárias, porém insuficientes para o projeto da classe trabalhadora. Então, em períodos difíceis como esse, temos de investir na formação de militantes, no estímulo da luta social, e na construção de meios de comunicação alternativos...até que a maré mude..

6. O MST há muito denuncia a judicialização da política no Brasil. Esta ofensiva de direita em torno da exploração política do mensalão, como ferramenta de combate ao PT, é parte do mesmo processo de subordinar direitos políticos ao judiciário?
Claro.  A classe dominante brasileira é muito esperta e experiente. Não é por nada que manda há 500 anos.  Ela sabe que não tem hegemonia no governo federal.  Participa, mas não manda.  Então, para se contrapor às forças da classe trabalhadora, nos últimos dez anos, a prioridade da burguesia, além de ganhar dinheiro na economia, tem sido utilizar-se do judiciário e dos meios de comunicação para combater as idéias e os programas da classe trabalhadora.  E o episódio recente do STF é apenas um capítulo  dessa ofensiva e controle hegemônico que a burguesia tem sobre o judiciário e o usará contra todos os que assumirem compromissos claros com a classe trabalhadora.
7. Que peso você atribui à regulação da mídia na construção de um país democrático e socialmente justo?
A classe dominante tem no controle hegemônico da mídia, uma de suas principais armas para manter o controle da população, enganá-la e fazer a luta de classes contra o povo e os trabalhadores. Por isso, é fundamental trabalharmos em duas direções: primeiro, lutar pela democratização dos meios de comunicação. Segundo, construirmos nossos próprios meios de comunicação populares, para fazer essa disputa de idéias, de forma democrática, mas com as mesmas condições.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim