Prezado David
Nossa longa amizade, mesmo que não presencial, me permite responder este seu e-mail-propaganda do governo, dando a minha sincera opinião sobre o que acho da notícia sobre a "boa ação do governo Dilma, em relação aos orgânicos".
Estamos há doze anos do que alguns chamam eufemisticamente de um "governo popular dentro de uma etapa de alianças com setores progressistas da burguesia e seus representantes". O Agronegócio recebeu cerca de R$1 mil a cada R$1 destinado a agricultura familiar, e R$0,1 para a Agricultura Orgânica.
Assim como a Reforma Agrária, bastava uma penada desta presidente, assim como a do outro, para que as coisas se aprumassem, mesmo dentro de um conflito estabelecido que, a meu ver, seria propositivo para que a sociedade saísse da passividade em que se encontra e discutisse coisas importantes, além do neto da presidenta.
Esta medida que anuncias, a meu ver, é pífia, insuficiente e apenas um arremedo pré Rio + 20, enquanto o governo tenta engambelar a todos com aqueles suspeitos e confusos vetos ao Código Florestal, sem que nada ficasse estabelecido, e ainda com a fala da ministra Isabela que "nossa intenção é retomar a proposta do senado, através de medidas provisórias", nos levando de novo para um projeto indecente como aquele, e nos colocando nas mãos deste congresso mais indecente ainda.
O enfoque de "diminuir os preços dos orgânicos nas gôndolas dos supermercados" é um equívoco e atende apenas aos interesses daqueles atacadistas que querem depreciar ainda mais o preço pago ao produtor, que não tem culpa pelo sobrepreço absurdo que seus produtos sofrem nos supermercados, ainda mais levando-se em conta a logística difícil e cara para pequenos produtores. E querendo passar a idéia que os orgânicos, na atual conjuntura, poderão ter preços competitivos aos do agronegócio e não éticos (ética custa grana e investimentos)
Se este governo tivesse um mínimo de vergonha na cara, o que, a meu ver, não tem nenhuma, baixaria uma determinação executiva de polpudas verbas para que as Compras de Estado (federal, estaduais e municipais), nesta área de alimentos dessem real prioridade aos orgânicos, com um Programa (e não mais um pacotinho deste aí) de Fomento competente (muito diferente daquela baboseira restritiva do atual), com largas verbas do BNDES, BB, Caixa Econômica e outros fomentadores, tendo como justificativa os estudos e proposições que temos (nós do ramo) feito há décadas, além de restrições ao uso de agrotóxicos, fertilizantes e correlatos, também baseados nos estudos conclusivos sobre os malefícios destes. Até O Globo estampa hoje grande matéria sobre o assunto.
Assim, caro amigo David Hathaway, esta notícia-propaganda de governo apenas me mostra que falta seriedade e competência a este governo, no trato deste assunto, e ainda achando os burocratas, que nosotros somos trouxas ou iletrados.
Um grande abraço deste seu amigo de longa data e que te respeita muito, mas diverge substancialmente, mas sempre aberto ao diálogo
Raymundo
De: David Hathaway
Para: David Hathaway
Enviadas: Terça-feira, 22 de Maio de 2012 22:49
Assunto: Governo prepara projeto de incentivo aos orgânicosFolha Online,22/05/2012 - 06h00
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1093713-governo-prepara-projeto-de-incentivo-aos-organicos.shtml
Governo prepara projeto de incentivo aos orgânicos
NATUZA NERY, DE BRASÍLIA
O governo anuncia nas próximas semanas medidas para estimular a produção de alimentos orgânicos, mercado que movimenta mais de R$ 100 bilhões no mundo.
O foco do plano é alavancar a produção nacional de orgânicos e tornar a agricultura tradicional brasileira mais sustentável.
Para isso, o Executivo vai ampliar o volume de crédito disponível, reduzir juros, estimular o desenvolvimento de tecnologia e atrair novos consumidores.
Um dos desafios é intensificar a cultura do consumo e reduzir o preço nas gôndolas de supermercado, em média 30% mais altos, segundo dados da Associação Brasileira de Orgânicos, a Brasilbio.
A Folha teve acesso a detalhes da proposta em discussão pelo governo.
Serão ampliados os limites de financiamento com juros mais baixos e fixados prazos mais longos de pagamento.
Uma das linhas permitirá empréstimos de até R$ 1 milhão de reais por produtor com taxa anual de 6,75%.
Os ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia também anunciarão mais investimento em pesquisa.
O governo quer, ainda, ampliar os bancos de sementes no país. A meta é passar dos 300 atuais para 800 até 2015.
O volume total de recursos para bancar a política nacional ainda não foi definido, mas a intenção do governo é fechar o programa a tempo de ele poder ser anunciado pela presidente Dilma Rousseff durante a conferência Rio+20, na segunda quinzena de junho.
CRESCIMENTO
No Brasil, a produção de orgânicos tem crescido, mas ainda engatinha.
Hoje, há cerca de 15 mil produtores orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura, número considerado muito baixo frente ao dado mundial de 1,6 milhão.
Veja aqui onde é possível encontrar feiras de orgânicos
Na Índia, há mais de 400 mil produtores. Em área, a Argentina está bem à frente do Brasil. O vizinho produz mais de 4 milhões de hectares, contra 1,5 milhão no Brasil.
Mão de obra
Um dos grandes gargalos ao crescimento de produção no Brasil, segundo especialistas, é a falta de mão de obra para esse segmento. As escolas hoje costumam formar técnicos com a visão tradicional da agricultura.
Resultado: produtores orgânicos não encontram pessoal qualificado para desenvolver e aumentar a lucratividade de suas lavouras.
Entre as ações definidas no plano do governo estão também a ampliação de cursos em instituições federais de ensino para a formação de profissionais especializados no setor, como agrônomos e veterinários orgânicos.
O foco do plano em estudo é o mercado interno, já que o país, segundo o próprio governo, ainda não tem condições de cobiçar, de forma agressiva, os consumidores internacionais.
Conforme especialistas, o conceito de produto orgânico não diz respeito apenas ao cultivo livre de agrotóxico, mas envolve também preocupações sociais e com o ambiente.
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