domingo, 26 de junho de 2016

Antecipação de Eleições

Debate virtual da proposta de ANTECIPAÇÃO DE ELEIÇÕES
 
Por Igor Felippe, desde Brasilia, 16 de junho 2016


Caros amigos e amigas,
Em primeiro lugar, é muito importante o Fórum 21 estimular o debate sobre a antecipação da eleição presidencial, que se configura no principal debate sobre a saída política para a crise política que estamos vivendo.
Para começar, há uma palavra de ordem que unifica os setores populares e democráticos, que é “Fora Temer!”. Por trás dessa palavra de ordem, tem duas premissas consensuais que compõem a coluna vertebral da nossa resistência desde que Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment: que 1- O afastamento da Dilma da presidência se configura em um golpe e que 2-o governo temer será um retrocesso para o país e para o povo brasileiro.
A proposta de realização de um plebiscito para a antecipação da eleição contradita com o caminho que trilhamos até aqui, porque surge como divórcio dessas duas premissas, porque responde objetivamente apenas à reação ao governo Temer, deixando de lado ou até mesmo abandonando a denúncia do golpe.
A resistência ao golpe foi, justamente, a bandeira que aproximou as forças democráticas e populares da sociedade brasileira. A luta contra o golpe levou artistas, intelectuais e personalidades, que se afastaram nos últimos anos, a se aproximar do nosso campo político. O exemplo mais recente é a declaração do ator Wagner Moura, denunciando em entrevista nos Estados Unidos o golpe.
Pois bem. A proposta de plebiscito de antecipação da eleição, que surgiu como um raio em céu de brigadeiro como uma solução mágica, ainda não foi aprovada em espaço nenhum de articulação dos movimentos sociais.
Na Frente Brasil Popular, MST, CMP, Levante Popular da Juventude, Consulta Popular e amplos setores de CUT e PT são contrários à proposta.
A Frente Povo Sem Medo não fechou posição sobre o tema e, pelas diferentes leituras internas, dificilmente chegará a um consenso. Intersindical, Brigadas Populares, MES/PSOL, por exemplo, são contra nova eleição presidencial.
Ou seja, essa proposta vai prejudicar a unidade da esquerda e restringir a resistência a um dos polos, a oposição ao governo Temer, negociando a luta pela democracia.
Pois bem, vamos ao debate de mérito. Essa proposta não parece ser factível.
Para começar, essa proposta - que tem como premissa arregimentar votos para derrotar o impeachment - não parece que terá um peso decisivo para sensibilizar o número necessário de senadores. Muito se fala mas ninguém apresenta a lista dos senadores que mudarão de lado por causa dessa proposta de forma específica.
O Senado Federal está dividido em três grupos, se não aconteceu uma purificação imperceptível para as maiorias: aqueles que são contra o impeachment, aqueles que são a favor e aqueles que estão negociando demandas não muito republicanas com Temer e Dilma – como indicação para cargos, embaixadas, apoios eleitorais etc.
A proposta do plebiscito pode, de certo, ter certa influência na disputa do setor fisiologista, no entanto, não será o fator decisivo. Em última instância, será o argumento para o senador justificar uma mudança de posição para as suas bases, mas a razão será a insatisfação com o governo Temer (pelo não atendimento das demandas) ou a perspectiva de atendimento com o retorno de Dilma, mas não será a motivação.
Vamos fazer um exercício. Em caso de derrota do impeachment, essa proposta não parece factível pelos prazos.  Quando aconteceria o plebiscito? Parece ser impossível realiza-lo em outubro, porque a Dilma retornaria em agosto. Em dois meses, o Congresso teria que aprovar o projeto do plebiscito (em meio a eleição municipal) e o TSE presidido por Gilmar Mendes operacionalizar.
Se não for em outubro,  vai ser quando?  No ano que vem?  Aprovado o plebiscito, teria que aprovar a PEC, em dois turnos, nas duas Casas. Pouco provável que esse processo aconteça em menos de seis ou setes meses.  Ou seja, essa eleição vai acontecer no final de 2017 ou em 2018...
Ao mesmo tempo, algumas coisas ficam em aberto: até lá, o que impede de cassarem a Dilma no TSE do Gilmar Mendes? O que impede de a OAB entrar com o pedido de impeachment que está na gaveta? Diante dessas manobras, como ficaríamos nós? Nessa altura, teríamos aberto mão da luta contra o golpe para ficar à mercê de um acordo de salão, tendo perdido uma bandeira que tinha nos unido e melhorado nossas condições de sensibilizar a sociedade.
Alguns poderão dizer: se o plebiscito atrasar, é bom, porque a Dilma fica na presidência... Aí retomo as palavras do Wanderley Guilherme dos Santos: é abusar da disposição democrática do povo brasileiro.
Outros poderão dizer: não, pelo menos barraremos o programa ultraneoliberal do Temer! Será? Dilma voltará fraca, afiançada pela promessa de sair, e não terá nenhuma autoridade para enfrentar as forças neoliberais no Congresso nem de liderar a resistências nas ruas. E desmoralizada ao admitir que não tem condições de governar.
Pois bem, vamos supor que dê certo, o plebiscito aconteça em outubro e a eleição aconteça o mais rápido possível.
(Uma questão que não vou me alongar é sobre o plebiscito: qual será a nossa posição? Vamos ficar pela permanência da Dilma ou pela saída? Ou vamos nos dividir? Uma proposta que no passo seguinte nos divide não parece muito consequente...)
Plebiscito feito, vamos à eleição. Uma pergunta básica: quais os cenários para esse pleito? Qual a chance de a esquerda ganhar essa eleição? Em primeiro lugar, no meio dessa crise de cenários imprevisíveis, muitos querem aproveitar e, de forma legítima, se colocar à disposição. Ou seja, esquerda dividida, assim como em 1989.
Lula é um candidato eterno, Ciro tem apresentado suas ideias (embora seja contra novas eleições), Requião olha a crise no PMDB e vê oportunidade, Luciana Genro tem o recall da outra eleição (embora defenda eleições gerais), outros sonham com Boulos como uma nova liderança...
Com a eleição, tem dois cenários. A esquerda ganhar! A pergunta seguinte: como vai governar com esse mesmo Congresso que derrubou a Dilma? A crise vai continuar.  Em segundo lugar, é a esquerda perder.  E teremos um presidente eleito democraticamente, com a legitimidade das urnas para implementar o programa neoliberal, em um quadro de maior estabilidade institucional.
Não é melhor enfrentar um governo golpista, ilegítimo, em frangalhos, atingido pela Operação Lava Jato, que tem propostas que a sociedade rejeita (como mostra a pesquisa Vox Populi)?  Eu acho que sim. Será que a mobilização nas ruas vai aumentar se entregarmos a cabeça de uma pessoa honrada e honesta como a presidenta Dilma? Não me parece.
O resultado das pesquisas de opinião, que mostra apoio à nova eleição, engana os companheiros comprometidos com um debate honesto. Essas pesquisas demonstram o ceticismo da população com a política institucional.
O cidadão comum, perguntado sobre o governo Dilma ou Temer, vai desaprovar. No meio dessa crise, nova eleição parece uma saída lógica. No entanto, a pergunta que falta é: você acredita que o próximo governo será melhor? A resposta será não.
Essa argumentação de que “o povo deve dar a última palavra”, na verdade, esconde que o povo já deu a palavra quando elegeu a presidenta Dilma e o seu programa (ou promessas). Colocar o povo para decidir depois da Constituição ser rasgada é colocar a cereja no bolo dos golpistas.
A inclusão no plebiscito da pergunta sobre a constituinte da reforma política, na linha de comtemplar gregos e troianos, foi rejeitada na reunião de senadores e movimentos com a presidenta nesta terça-feira. Ou seja, na prática, o que está em debate é apenas o plebiscito da nova eleição. Embora no papel as duas propostas caibam, são concorrentes enquanto bandeira para saída da crise. No fundo, expressam táticas e estratégias distintas. Enquanto alguns defendem mudanças estruturais e desejam mobilizar o povo brasileiro em torno delas, outros acreditam que é possível sobreviver dentro da estrutura que está aí por meio de acordos e composições.
Companheir@s, ficam esses elementos para a reflexão. Para encerrar, um registro importante: os setores que se opõem à proposta de nova eleição são justamente aqueles que há mais de 10 anos apontam os limites políticos do projeto lulista e já, de certa forma, previam esse desfecho como uma revanche da luta de classes.
Não resolveremos a crise política, econômica, social com um “jeitinho”, um “acordo de gabinete”, um “acerto por cima”, que é a tradição da política brasileira de resolver os problemas de costas para o povo brasileiro.
Ou como diz Florestan: “Um ‘acordo de cavalheiros’, por melhor que seja, satisfaz aos cavalheiros, especialmente se eles se atribuem muita importância e encarem suas deliberações como substitutas da vontade coletiva média ou aproximada do povo”.
Abs,
Igor Felippe
 

Danny Glover


DANNY GLOVER: APOIO O DIREITO DE DILMA GOVERNAR

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O  ator norte-americano Danny Glover visitou a presidente eleita Dilma Rousseff, nesta segunda (20), no Palácio da Alvorada; ele declarou apoio a ela e à democracia brasileira; "Foi um encontro importante. Lamentamos o que está acontecendo com a democracia", disse
20 DE JUNHO DE 2016 ÀS 20:31
247 - O  ator norte-americano Danny Glover visitou a presidente eleita Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (20), no Palácio da Alvorada. Ele declarou apoio a ela e à democracia brasileira.
"Foi um encontro importante. Apoio os brasileiros e o direito dela (Dilma) de governar. Lamentamos o que está acontecendo com a democracia", disse.

--
Ana Moraes
55 61 81148077

Outras Palavras


http://www.outraspalavras.net

Boletim de atualização - Nº 669 - 20/6/2016



Varoufakis: o mundo após a morte do Minotauro Global
Em livro recém publicado no Brasil, ex-ministro grego sustenta: ordem econômica presidida pelos EUA não se recuperará. Mas todas as alternativas seguem incertas e insatisfatórias. Por Yanis Varoufakis (Outras Palavras)

Para compreender os riscos de desmonte do SUS
Além de toda a prevenção, sistema realiza 95% das cirurgias cardíacas, oncológicas e de transplante no país. Desarticulá-lo devastaria Saúde pública, em benefício de interesses mercantis. Mas como salvá-lo? Por Amélia Cohn, no Brasil Debate (Outras Mídias)

Brasil: a “democracia” que o dinheiro pode comprar
Como nossas eleições tornaram-se as mais caras do mundo. Por que seu preço absurdo põe "representantes" nas mãos das empresas. Primeira matéria de série sobre a Reforma Política. Por Vinícius Mendes, no Calle2 (Outras Mídias)

Na incrível PEC-65, as garras das empreiteiras
Parlamentares ameaçam emendar novamente a Constituição -- agora para "facilitar" licenciamento de obras públicas. Projeto afasta sociedade de decisões estratégicas e será votado por parlamentares financiados por construtoras. No site da Artigo 19 (Outras Mídias)

A humanidade como um fio da teia da vida

A política como subjetivação: seminário debate transição a outro desenvolvimento e aponta para feminismo, direitos da natureza e espiritualidade. Por Inês Castilho (Outras Palavras)

Em Trago Comigo, a resistência à ditadura sem chavões
Filme de Tata Amaral foge do lugar comum ao enxergar período sem sentimentalismo ou mistificação. "Outras Palavras" exibirá obra nesta quarta-feira, com presença da diretora. Por José Geraldo Couto (Outras Palavras)

A Desinvenção, por Antonio Prata
Na pequena Salitre, interior do Ceará, vive Anderson Motta do Nascimento, físico quase ignorado no Brasil. Sua súbita celebridade internacional deve-se a uma revolucionária desinvenção. Ela tem potência para mudar o mundo Curadoria e narração: Alexandre Machado (Blog da Redação)

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Poder Judiciário no Brasil


“Não há um poder Judiciário no Brasil, mas 17.000 magistrados”

Em uma semana pulou de 37 para 45 o número de processos movidos por juízes e membros do Ministério Público do Paraná contra jornalistas da Gazeta do Povo, que publicaram uma série de reportagens, em fevereiro deste ano, tratando de supersalários no Judiciário do Estado. Mas outras novidades relacionadas ao caso também aconteceram: o trabalho da equipe do jornal recebeu o prêmio Liberdade de Imprensa da Associação Nacional de Jornais (ANJ), de 2016, e o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) declarou que a moção das ações é um “suicídio institucional”.
A entrevista é de André de Oliveira, publicada por El País, 19-06-2016.
Apesar das boas notícias para os jornalistas, contudo, a disputa judicial continua. Na entrevista o cientista político e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luciano Da Ros, fala sobre problemas históricos do Judiciário brasileiro que, segundo ele, explicam em parte as ações movidas contra a Gazeta do Povo. Dedicando-se a diferentes campos de pesquisa, Da Ros tem um trabalho que foca na eficiência da Justiça no Brasil, levantando dados sobre gastos, transparência, celeridade etc.
Eis a entrevista.
Você tem apontado que o Judiciário brasileiro é hoje o mais caro do mundo e que há muito pouco incentivo para que os Tribunais controlem seus gastos. Isso é uma exclusividade desse poder?
Não. É uma realidade comum à burocracia de forma geral, só que isso acaba sendo mais verdadeiro no caso de órgãos que têm uma autonomia muito grande, como é o caso do poder Judiciário no Brasil. Por exemplo, quando falamos em ajuste fiscal ou reformas no Estado, pensamos logo no Executivo, e nunca entram na lista o Legislativo ou o Judiciário. Quem acaba pagando a conta é o funcionalismo público do Executivo. Por quê? Porque existe certa facilidade no controle que vem de cima, da chefia do Executivo. Ou seja, dos governadores, prefeitos e presidentes eleitos. Só que esse comando centralizado e legitimado pela população não existe no poder Judiciário, até porque, em quase todos os casos, a liderança desses órgãos é eleita por seus próprios pares. A falta de incentivo para controle de gastos é generalizada, mas em órgãos com muita autonomia, cresce.
Nesse ponto, a imprensa tem papel de controle, não?
Sim. Eu diria que a maior parte das grandes reformas que a gente teve no Brasil para a melhoria da eficiência do poder Judiciário, que não envolvem apenas orçamento, mas também gestão de processos e outras coisas, não partiram de dentro dele. Posso exemplificar a partir de dois casos significativos. O primeiro, e mais recente, é a criação do Conselho Nacional de Justiça [CNJ]. Idealizado como um órgão de controle externo do Judiciário, sua criação fez parte da campanha presidencial de Lula, em 2002, e teve como principal defensor o ex-ministro da JustiçaMárcio Thomaz Bastos. Só que a criação desse órgão era um tema que já tinha sido colocado lá na Constituinte, em 1988. O segundo, e mais antigo, é a implantação dos Tribunais de Pequenas Causas, hoje chamados de Juizados Especiais. A ideia por trás disso era dar maior celeridade e menor custo para o Judiciário. Embora existissem iniciativas em um ou outro Estado, o esforço para nacionalizar esse modelo partiu, assim como no caso da CNJ, de fora do Judiciário. Veio do então Ministério da Desburocratização. Ou seja, no caso do Judiciário, os esforços para reformas de grande impacto têm partido tanto do Executivo como a partir de mobilizações da opinião pública. As reformas aprovadas por iniciativa do próprio poder Judiciário existem, mas são mais incrementais. Aí, para voltar à questão, os meios de comunicação têm o papel fundamental de chamar a atenção para ineficiências da Administração pública e provocar o debate.
Como você avalia, então, a disputa judicial envolvendo magistrados do Paraná e jornalistas da Gazeta do Povo após a publicação de uma reportagem sobre rendimentos de servidores que acabam extrapolando o teto constitucional?
Diz-se, em todo o mundo, que a liberdade de imprensa deve estar apoiada em um Judiciário independente. E vice-versa: que a imprensa ajuda na autonomia da Justiça, enquanto o Judiciário garante que não haverá interferência de outros poderes no trabalho do jornalista. Se a abertura dessas múltiplas ações no Paraná é, ou não, caso pensado para intimidar a imprensa, o fato é que elas estão dificultando o trabalho desses repórteres. Seja como for, esse episódio faz a gente pensar se no Brasil essa relação entre Judiciário e imprensa não é o contrário do que deveria ser.
E o que está na raiz dessa briga judicial?
Acredito que é o fato de que nós tivemos avanços pontuais na Justiça, mas que algumas questões básicas e fundamentais ainda não foram resolvidas. Uma delas é o fato de que o elevado nível de autonomia individual dos membros do Poder Judiciário no Brasil, que é benéfico para manter sua isenção e imparcialidade, pode ao mesmo tempo se tornar prejudicial para a boa administração da Justiça se não for acompanhado de mecanismos de transparência e responsabilização. Só isso é capaz de explicar tanto esse tipo de ação individualizada dos juízes do Paraná, que tem sido vista por setores da sociedade como cerceamento de liberdade de imprensa, como também um dos motivos do custo desproporcional que o Judiciário brasileiro tem.
Como assim?
Um dos efeitos desta enorme autonomia individual dos magistrados é que cada juiz decide da forma que entende e, desse modo, é impossível ter posições claras de como o Judiciário, institucionalmente, decide. A melhor forma de ilustrar isso é dizer que não existe um Poder Judiciário propriamente dito no Brasil, e sim 17.000 magistrados. Quer dizer, toda a ideia do poder Judiciário é que haja independência exatamente para que os juízes tenham isenção de julgar sem que seus próprios interesses afetem o conteúdo da decisão. Para isso, é necessário um bom salário e garantias de que o magistrado não será exonerado ou removido de seu cargo. Contudo, isso não significa que, necessariamente, cada juiz pode decidir um caso da forma como ele sozinho acredita que deve ser decidido. Ele tem que obedecer a legislação, mas também tem que levar em conta as decisões anteriores que foram tomadas em casos idênticos. No Brasil, como esses mecanismos de controle da jurisprudência são recentes e o grau de autonomia dos magistrados individuais é muito alto, ocorre de um juiz decidir de uma forma e, em uma vara vizinha, outro juiz decidir um caso idêntico de outra forma. Isso é terrível, porque toda a ideia de que precisamos da independência do juiz é para que ele possa aplicar a mesma lei aos mesmos casos, para que haja igualdade e não diferença.
Você disse que isso é capaz de explicar as ações dos juízes e também o alto custo do Judiciário. Como entra essa segunda questão?
Hoje no Brasil em diversos casos vale mais a pena tentar a sorte na Justiça do que compor uma solução negociada fora do poder Judiciário. Isso porque as partes envolvidas em um processo não tem segurança sobre qual é ou será a posição do Judiciário a respeito de um determinado conflito, pois não há posições únicas dentro do próprio Judiciário sobre um mesmo tipo de caso. Isso é seguramente uma das causas da explosão de processos no país. Em 1990 eram cinco milhões de novos processos a cada ano, agora são 30 milhões. Para se ter uma ideia, hoje existe cerca de um processo em andamento para cada dois habitantes. Por fim, isso acaba produzindo uma carga de trabalho enorme e a consequência é o Judiciário mais caro do planeta. Enquanto os gastos de países comoEspanha, EUA e Inglaterra ficam entre 0,12% e 0,14% do PIB, o do Brasil está na casa do 1,3%.
Você acredita que esse aumento no número de novos processos também está refletido na alta influência do Judiciário na vida política brasileira?
Com certeza. O professor Conrado Hübner Mendes, da Universidade de São Paulo, diz uma coisa muito verdadeira sobre o STF [Supremo Tribunal Federal] que é que não há um Supremo como instituição, mas 11 ministros e cada um deles têm enormes possibilidades de interferência sobre os processos com pedidos de vista, votos individuais, prazos pouco claros para levar os casos a julgamento, para incluí-los na pauta etc. Isso é visto no sistema judicial como um todo e é em parte por isso que os políticos têm levado as questões para a Justiça. É a mesma lógica: já que não se tem certeza das posições do Judiciário, vale arriscar. O problema é que existe pouca política institucional e muita atuação individual.
Mas então onde o Judiciário brasileiro tem sido bem sucedido?
Comparativamente com outros países da América Latina, por exemplo, ele é considerado um dos poderes mais bem estruturados, com maiores recursos, com garantias mais fortes de independência. Quer dizer, nós temos um Judiciário altamente profissionalizado. Há muitas discrepâncias regionais, claro. Por exemplo, no Estado doMaranhão, o primeiro concurso público para servidores aconteceu apenas em 2005, só depois do CNJ ser criado. Mas, de forma geral, temos um Judiciário que tem garantias de independência e atua com muitos recursos. Veja bem, a grande questão é que há pouco controle, pouca transparência e que, quando existe, essas práticas são muito recentes. Ninguém estuda, por exemplo, como funcionam as corregedorias da Justiça. Ou seja, como é que se punem magistrados para além do CNJ? Que tipos de punições existem? Há poucos estudos sobre isso e são questões essenciais para se compreender como se constrói um Judiciário íntegro e probo.

Salário de juízes federais em comparação ao PIB per capita do brasileiro em início e fim de carreira 
A independência, então, é essencial, mas, ao mesmo tempo fonte de problemas.
Se não houver controle e transparência, sim. Outro exemplo de uma coisa boa, mas que pode ter um reflexo ruim se não houver uma forma de fiscalização eficaz é a facilidade de acesso ao Judiciário. Nosso acesso ao poder Judiciário se ampliou muito ao longo dos últimos anos. E isso é ótimo. Ainda que vários problemas persistam, vários mecanismos foram criados ou se expandiram, como a assistência judiciária gratuita e a própria defensoria pública. Só que ao se diminuir as barreiras para se ter acesso ao Judiciário, um outro problema ficou escancarado: a desigualdade do tratamento de diferentes partes. Veja, por exemplo, a desigualdade expressa na dificuldade em condenar definitivamente um político por corrupção, por um lado, e o fato de que hoje temos 200.000 presos sem julgamento no Brasil, por outro. Esse tipo de desigualdade de tratamento é extremamente danoso em um poder do Estado que deve primar pela igualdade de tratamento. Enfim, para resumir, eu destacaria como pontos bons, embora longe de resolvidos: grau de independência, recursos e acesso. Pontos negativos: desigualdade de tratamento e ineficiência.
Alguns observadores têm apontado que o Judiciário é um dos poderes menos democráticos do Brasil. Isso teria raízes históricas relacionadas à ditadura militar. Você concorda?
A ditadura militar no Brasil operou, grosso modo, com essa arquitetura institucional do Poder Judiciário que está hoje aí, tanto que a LOMAN [Lei Orgânica da Magistratura Nacional] é de 1979. De igual forma, não houve grandes expurgos na magistratura durante a ditadura e basicamente essa máquina que existia agora, existia lá atrás. O nosso Judiciário, então, conviveu com a ditadura, mas conviveu em um sistema de acomodação. O Judiciário foi em grande medida conivente com a ditadura e a ditadura foi conivente com abusos dentro do Poder Judiciário, permitindo remunerações enormes, nepotismo, sistemas de loteamento de cargos e um conjunto de práticas que herdamos e que estamos tentando resolver até hoje.
E houve algum avanço?
Sim. Vem havendo uma enorme renovação dos quadros da magistratura, de forma que hoje a grande maioria dos integrantes do Poder Judiciário ingressou depois de 1988. Há uma mudança gradual da cultura institucional e uma diversificação crescente na magistratura, mas a arquitetura e as práticas institucionais ainda são herdeiras desse sistema de acomodação com os militares. Agora, o nosso Judiciário não é menos democrático necessariamente por ser fruto da ditadura. Ele é um poder menos democrático porque, em suma, ele é o mais independente e menos sujeito a controle. E isso, como já dito, é uma faca de dois gumes. Por fim, ele também é o único dos três poderes que não tem ninguém eleito. Não há mecanismos de legitimação popular. Em alguns países, como nos Estados Unidos, existem eleições, por exemplo. E em vários outros países, o Judiciário funciona por um sistema de indicações, como é com o nosso STF, que é um mecanismo indireto de legitimação popular dos juízes. No nosso sistema Judiciário isso ocorre para apenas alguns cargos. Na maior parte deles, é o próprio Judiciário que seleciona seus integrantes.

Filmes

Compas,
tem circulado na internet algumas listas de filmes para debater alguns assuntos de extrema importância. Não vi todos, mas a maioria são ótimos filmes. Compartilho com vocês.
Segue abaixo 4 listas:
- 28 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER RACISMO.
- 17 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER ISLAMOFOBIA E O RACISMO CONTRA ÁRABES*
- 14 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER CAPITALISMO
- 13 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER CULTURA DO ESTUPRO E FEMINICÍDIO
Se tiverem mais contribuições, enviem!
seguimos!
Abraço,
Luara.
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28 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER RACISMO.

1) Olhos azuis
https://vimeo.com/67460531

2) Chacinas nas periferias
https://www.youtube.com/watch?v=53rQggrAouI

3) The Colour of Money - A História do Racismo e do Escravismo
https://www.youtube.com/watch?v=0NQz2mbaAnc

4) Raça Humana
https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo

5) O negro no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=zJAj-wGtoko

6) Ninguém nasce assim
https://www.youtube.com/watch?v=6H_xfUCLWBY

7) Racismo Camuflado no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=zJVPM18bjFY

8) Negro lá, negro cá
https://www.youtube.com/watch?v=xPC16-Srbu4

9) Vidas de Carolina
https://www.youtube.com/watch?v=AkeYwVc2JL0

10) Negros dizeres
https://www.youtube.com/watch?v=yjYtLxiVQ7M

11) Mulher negra
https://www.youtube.com/watch?v=WDgGLJ3TPQU

12) Negro Eu, Negro Você
https://www.youtube.com/watch?v=lpT17VJpnX0

13)A realidade de trabalhadoras domésticas negras e indígenas
https://www.youtube.com/watch?v=s4UsjpFg2Vg

14) Espelho, Espelho Meu!
https://www.youtube.com/watch?v=44SzV2HSNmQ

15) Open Arms, Closed Doors
https://www.youtube.com/watch?v=uXqpOFBXjBs

16) The Brazilian carnival queen deemed 'too black'- A Globeleza que era negra demais
https://www.youtube.com/watch?v=3yp4Fg_eT_c

17) Boa Esperança - minidoc
https://www.youtube.com/watch?v=3NuVBNeQw0I

18) Você faz a diferença
https://vimeo.com/27014017#at=70

19) Memórias do cativeiro
https://www.youtube.com/watch?v=_Hxhf_7wzk0

20) Quilombo São José da Serra
https://www.youtube.com/watch?v=f0asl1-SpP4

21) 7%
https://www.facebook.com/usp7doc/

22) Menino 23
https://www.youtube.com/watch?v=4wmraawmw38

23) Pele Negra, Máscara Branca
https://www.youtube.com/watch?v=sQEwu_TJi0s

24) Introdução ao pensamento de Frantz Fanon
https://www.youtube.com/watch?v=mVFWJPXscm0

25) Invernada dos Negros
https://www.youtube.com/watch?v=TCyu-Tb6D1o

26) A negação do Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=jJFCEpc7aZM&list=PLIZ9Dyq1zKSpZhKAvbk3Pa-UxD9FoQ3Vw

27) Sua cor bate na minha
https://www.youtube.com/watch?v=gm-WjcZwgvg

28) História da Resistência Negra no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=68AApIpKuKc

17 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER ISLAMOFOBIA E O RACISMO CONTRA ÁRABES*
1) Filmes Ruins, Árabes Malvados Como Hollywood transforma um povo em Vilão
https://www.youtube.com/watch?v=lI_qYcxe5_g
2) Somos franceses
https://vimeo.com/97124824
3) This is Palestine - Shadia Mansour
https://www.youtube.com/watch?v=wuj8lrE-9Qs
4) Versos migrantes
https://www.youtube.com/watch?v=hDGsbGHddYU
5) Malala
https://www.youtube.com/watch?v=cug1-eTOVSk
6) A Palestina Ainda é a Questão/Palestine Is Still The Issue
https://www.youtube.com/watch?v=EYvOQHExhnY
7) Os palestinos nos livros escolares de Israel (Como se faz a desumanização de um povo)
https://www.youtube.com/watch?v=GCcV7AtYgwo
8) Terror Sionista em Gaza
https://www.youtube.com/watch?v=8N6ZLcoSnlU
9) Tears of Gaza
https://www.youtube.com/watch?v=6LMAF1z4RiE
10) Fogos Sobre o Mármara
http://www.dailymotion.com/…/xj5bfw_fuego-sobre-el-marmara-…
11) Budrus
https://www.youtube.com/watch?v=ff7rScVrbos
12) Atirar num elefante
https://www.youtube.com/watch?v=3UxKkDv3CTE
13) As crianças de Gaza
Parte 1 https://www.youtube.com/watch?v=0lbz3ptEpPs
Parte 2 https://www.youtube.com/watch?v=cwri-nDlu94
Parte 3 https://www.youtube.com/watch?v=tgSydBW8fCw
Parte 4 https://www.youtube.com/watch?v=8xBahIOoKMA
14) Ocupação 101
https://vimeo.com/23631320
15) Promessas de um novo mundo
https://www.youtube.com/watch?v=YkQmb37fxts
16) Islamophobia: Cause & Effect
https://www.youtube.com/watch?v=XEXl_sYwW8U
17) The Square
https://www.youtube.com/watch?v=twB2zAOzsKE
*"Apesar de muitas vezes serem tomados um pelo outro, esses três termos não são sinônimos. Certamente podem ter mais de um sentido, dependendo do modo como são empregados mas, geralmente, os encontramos utilizados a partir de uma distinção básica: o termo "árabe" geralmente é utilizado no sentido da língua, da cultura, da política ou da etnia e não no sentido religioso; o termo "islâmico" guarda o caráter da religião, mas também do Estado ou da cultura e não da etnia; o termo "muçulmano", aplica-se às pessoas adeptas da religião islâmica, mas que não são, necessariamente, árabes." - do livro Falsafa: a filosofia entre os árabes, de Miguel Attie Filho


14 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER CAPITALISMO

1) Capitalism: A Love Story / Capitalismo: uma história de amor
https://www.youtube.com/watch?v=FaMRSjiL4IE

2) O Fim da Pobreza? / The End Of Poverty?
https://vimeo.com/69464025

3) Migrantes
https://www.youtube.com/watch?v=Laf1BwcGpgI

4) Man - Homem
https://www.youtube.com/watch?v=5XqfNmML_

5) História das Coisas
https://www.youtube.com/watch?v=x_PmgSf3LSs

6)Consumismo, Capitalismo e Neoliberalismo
https://www.youtube.com/watch?v=ZhSBHmDlxs8

7) 97% Owned - 97% Privado
https://www.youtube.com/watch?v=XcGh1Dex4Yo

8) Catastroika
https://www.youtube.com/watch?v=RXYAJF9ZmkY

9) A Corporação
https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY

10) O mundo global visto do lado de cá
https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM

11) A Ascensão do Dinheiro
https://www.youtube.com/watch?v=LPnn2OBYIRY&list=PL0VcnQ92XNVYQatJF5bBZIhmoOl2j7kgs

12) A ponte
https://vimeo.com/14814248

13) Da servidão moderna
https://www.youtube.com/watch?v=Up8tjRRne_0

14) WalMart O Custo Alto do Preço Baixo
https://www.youtube.com/watch?v=YvURUfKLeG0



13 DOCUMENTÁRIOS PARA DEBATER CULTURA DO ESTUPRO E FEMINICÍDIO

1)Justiceiras de Capivari
https://www.youtube.com/watch?v=49pUMIPABBY

2) India's Daughter
https://www.youtube.com/watch?v=JoGtGv2KS48

3) Índia, Um País Que Não Gosta De Mulheres
https://www.youtube.com/watch?v=8BhojKJSrD8

4) Canto de cicatriz
https://www.youtube.com/watch?v=DHYt-a5say8

5) The Hunting Ground
https://www.youtube.com/watch?v=GBNHGi36nlM

6) A Guerra Invísivel
https://www.youtube.com/watch?v=M_yZ9ywEOMk&feature=share

7) Ghost Rapes of Bolivia - Os estupros fantasma da Bolívia
Parte 1 https://www.youtube.com/watch?v=TSlc_Zib2nw
Parte 2 https://www.youtube.com/watch?v=eCwMxAatmbg

8) Entrevista Gabriela Manssur
https://www.youtube.com/watch?v=bU9yOFvZNbU

9) A cada 11 minutos, uma vítima
https://www.youtube.com/watch?v=UdhlxCrx9Pc

10) Desumanidades
https://www.youtube.com/watch?v=NFPSS3qoWeU

11) The breast ironed girls
https://www.youtube.com/watch?v=4Jwl7QPf_vU

12) A Girl In The River
https://www.youtube.com/watch?v=gRuYdzPpMWU

13) It's a girl! É menina!
https://vimeo.com/100378967