quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Fernando Henrique na Academia Brasileira de Letras

Ex-presidente FH toma posse na Academia Brasileira de Letras
Político e acadêmico foi eleito por maioria absoluta
Mauricio Meireles (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 10/09/13 - 22h03
Atualizado: 10/09/13 - 22h44

2013091058484.jpgRIO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tomou posse, na noite desa terça-feira, da cadeira número 36 da Academia Brasileira de Letras (ABL), vaga desde março, após a morte de João de Scantimburgo. A cadeira tem como fundador o poeta Afonso Celso, e como patrono Teófilo Dias. A cerimônia acontece no Palácio Petit Trianon, sede da ABL, e foi cercada por um forte esquema de segurança: ninguém podia entrar na rua se não fosse para o evento. Ao chegar ao Petit Trianon, Fernando Henrique teceu considerações sobre sua eleição à Academia:

— A ABL funciona como uma tocha olímpica. Ao passar uma cadeira para outro, os membros mostram continuidade. Agradeço o convite e a honra de me sentar nessa cadeira. Não foram poucas as vezes que participei de momentos cheios de significados — afirmou. — Os imortais podem me ajudar em muita coisa. A ABL tem uma diversidade de formações, com gente da literatura e até do cinema. O fundamental na vida é manter a curiosidade. Estarei sempre pronto para o diálogo. Espero que meu espírito não esteja assim tão caquético (risos).

Mesmo morando em São Paulo, FH garantiu que participará dos eventos culturais promovidos pela ABL.

— Tinha um certo constrangimento de me candidatar, por ter sido presidente. Não queria que confundissem essa função política com meu estado de intelectual. Agora que o tempo passou, todo mundo sabe que eu não quero ter poder, estou em outra.

Em seu discurso de posse, Fernando Henrique fez menção às manifestações que vêm ocorrendo desde junho.

— Os partidos desdenham da relação direta com as comunidades. Eles não tomam partido diante de questões controversas da sociedade e abdicam crescentemente da função fiscalizadora do Executivo, que a Constituição lhes garante. Abrem, assim, espaço para um "rolo compressor" do Executivo. Quantas vezes eu fiz isso!

O discurso da posse tinha 16 páginas, e sua leitura durou 50 minutos. FH também criticou a postura das legendas políticas brasileiras.

— O corporativismo (dos partidos) é o cupim da nossa democracia.

Estavam presentes à posse, entre outros, José Serra e Aécio Neves, companheiros de Fernando Henrique no PSDB, a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie e o ministro do STF Marco Aurélio Mello. No início de seu discurso, ele citou Afonso Celso, o fundador da cadeira, e Teófilo Dias, o patrono.

FH foi eleito no fim de junho por maioria absoluta: 34 votos de um total de 39, com quatro em branco e uma abstenção, a do dramaturgo e romancista paraibano Ariano Suassuna. A votação foi conduzida pela escritora Ana Maria Machado, presidente da Academia.

Com a posse, Fernando Henrique Cardoso passa a ser o terceiro ex-presidente a ocupar uma cadeira na ABL. Os outros foram Getúlio Vargas, eleito em 1941, e José Sarney, eleito em 1980. FH ainda estará junto a dois antigos membros do seu governo: Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, e Marco Maciel, ex-vice-presidente. Lafer, a propósito, foi quem entregou a carta que oficializou a candidatura do novo imortal.

Sarney e a escritora Nélida Piñon foram um dos principais articuladores da candidatura de FH. Nélida já havia comentado que desejava a eleição do ex-presidente desde 1997, mas que, na ocasião, não pode propô-la, por ser presidente da Academia.

Sempre que um intelectual de fora da literatura é eleito para a Academia Brasileira de Letras, surge a dúvida de que, por não ser romancista ou poeta, o candidato poderia ter sido escolhido. A presidente Ana Maria Machado explica que, pelo regimento, não há essa obrigação.

— Muita gente fala sem conhecer o regimento. Para se eleger, é preciso que seja um expoente da cultura brasileira. Mas mesmo o inimigo mais empedernido de FH vai reconhecer que ele é um intelectual importante, que escreve bem e é respeitado no mundo inteiro. Não à toa, sua conferências são sempre muito concorridas. Ele tem uma contribuição de alto nível ao debate intelectual do país — disse Ana Maria.

Político e acadêmico

FH é doutor em sociologia e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), de onde foi aposentado, compulsoriamente, pelo regime militar, em 1968. Fundou, junto com outros professores cassados, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), entidade de pesquisas sobre o Brasil.

Sua produção passa por áreas como a sociologia e a ciência política, além de economia e relações internacionais. Seu livro “Dependência e desenvolvimento” (1969) é um dos marcos dos estudos da teoria do desenvolvimento e foi traduzido em 16 idiomas. FH é autor ou coautor de mais de 20 livros e artigos acadêmicos.

Ele recebeu o título de doutor honoris causa em mais de 20 universidades do mundo, como Cambridge, Oxford e London School of Economics. É membro do The Elders, grupo de dez líderes globais criado por Nelson Mandela para promover a paz e os direitos humanos. Em 2004, ele criou a Fundação Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), com o objetivo de produzir e disseminar o conhecimento sobre os desafios do desenvolvimento no Brasil.

FH é considerado o pai do Plano Real, que acabou com a inflação e estabilizou a economia brasileira nos anos 90. Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil de 1995 a 2002.

FONTE:  O Globo Rio
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