Jocel tem o nome do pai, está vestido de abrigo, usa tênis, chupa uma laranja. Não fala comigo, me olha e solta uns grunhidos, sorridente. Levanta a perna direita, faz um giro com ela e volta a acomodá-la no piso de lajotas. Continua sorrindo e não diz nada. Senta então, baixa os olhos para a ponta dos pés, me olha outra vez.
Estão todos comovidos com o pequenino Jocel. Tem dois anos, acompanha o pai que é jardineiro, mas não pede nada para ninguém e nem precisa de companhia para ficar no pátio, à beira da piscina e debaixo de uma sibipiruna, que já foi preciso cortar um galho para que não tomasse a lateral da casa e cumprisse com uma sombra ainda maior.
Busquei um abacate bem maduro e brilhante de tão amarelo. Ele me reparou demoradamente, não sorriu mais, nem estendeu o braço. Jocel estava sentado na pequena escadaria de pedra que vai para o jardim. Insisto com o abacate, é bom, acrescento, mas não faço imitações, criança não deve ser tratada como animalzinho de estimação ou retardado mental. Sei que agradece mas não quer a fruta e nem revela curiosidade.
Vou buscar a máquina fotográfica. Ela é pequena, não tem flash e estava à mão. Voltei logo e ele imóvel na escadaria, me espiando, com a mãozinha levantada. Não como se quisesse que eu parasse onde estava. Continuava carinhosamente me aceitando no grupo.
Não disse nem pediu qualquer coisa. Apenas abri discretamente a máquina e a coloquei na direção dele. E então, sem outro sorriso, assumiu uma posição com os ombros levantados, as duas mãos entrecruzadas no colo e manteve um olhar distraído, posto em algum lugar que não era ali.
Jocel, agora, como todo mundo, estava posando. E eu o perdi.
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