O Estado de Israel é a origem do ódio
Li essa manhã um indignado artigo escrito pelo jornalista Sérgio Malbergier, intitulado “Ódio a Israel ameaça
palestinos”. O autor aborda o repúdio internacional contra o ataque israelense à frota humanitária que se dirigia a
Faixa de Gaza. “Como judeu, descendente de avós que perderam pais e irmãos no Holocausto nazista, é de embrulhar
o estômago ver a guerra mundial contra Israel”, afirma o colunista da Folha.com.
Temos pontos em comum. Também sou judeu. Meus avós, como os dele, igualmente perderam irmãos e parentes na
Europa ocupada pelo nazismo. Mas considero inaceitável e indigno que o Holocausto sirva de álibi para que o Estado
de Israel comporte-se com o povo palestino com a mesma arrogância e a mesma crueldade que vitimaram os judeus.
Onde Malbergier consegue ver “guerra mundial contra Israel”? Protestos e moções são comparáveis aos tiros que
receberam os passageiros das embarcações pacifistas? A tímida resolução do Conselho de Segurança das Nações
Unidas tem alguma equivalência com o terrorismo de Estado que se manifesta nas atitudes do governo israelense?
O problema talvez não seja de estômago embrulhado, mas de vista embaçada. Quem sabe o dr. Greg House possa
diagnosticar a cegueira que acomete meu patrício. Afinal, como deveriam reagir os homens e mulheres de bem a mais
esse ataque covarde? Batendo palmas? Aceitando as mentiras de Netanyahu?
Mas Malbergier não se contenta em justificar os crimes sionistas com o escudo do Holocausto. Recorre à surrada
fórmula do antissemitismo: “Não é possível distinguir o Estado judeu dos judeus. Odiando-se um, odeia-se os outros.”
Arvora-se o autor a falar em nome de todos os judeus? Não em meu nome. Tampouco no de incontáveis judeus que
deram suas vidas pelas boas causas da humanidade e jamais aceitariam ver sua biografia misturada a defesa de um
Estado comprometido até a medula com a opressão de outro povo.
Se Israel está se convertendo em uma nação pária, que Malbergier procure a responsabilidade por essa situação entre
os malfeitos do sionismo, pois foi essa corrente que construiu o Estado de Israel à sua imagem e semelhança.
Governo após governo, desde 1948, o Estado de Israel viola resoluções internacionais e dedica-se a expandir suas
fronteiras muito além da partilha da Palestina aprovada pelas Nações Unidas em 1947.
O primeiro dos atentados terroristas, realizado em abril de 1948, foi o massacre da aldeia de Deir Yassin, nas
proximidades de Jerusalém, quando mais de duzentos palestinos desarmados foram trucidados por forças sionistas
paramilitares. Dali por diante essa foi a marca do comportamento de sucessivas administrações israelenses.
Ao ódio colonizador do Estado sionista, os palestinos responderam com o ódio dos desvalidos. Muitos de seus atos são
injustificáveis e condenáveis, pois o terror contra a população civil é crime contra a humanidade. Mas o ovo da
serpente, onde tudo começou, está na recusa de Israel em aceitar o direito à independência e à soberania do povo
palestino.
A escalada da violência só irá terminar quando esse direito estiver assegurado. O Estado de Israel atravessou décadas
na ilegalidade porque sempre contou com a salvaguarda da Casa Branca para seus atos de pirataria. Apenas se sentará
com seriedade na mesa de negociações se essa proteção acabar.
O temor de muitos judeus que defendem o Estado de Israel é que, dessa vez, seu país de reverência tenha ido além da
conta. Diante do risco, ainda pequeno, de que a era da impunidade chegue ao fim, apontam seu dedo acusatório e
ameaçador contra as vítimas.
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