segunda-feira, 3 de maio de 2010

Campeões Regionais


Opinião] Campeões!
03 de Maio de 2010 13:52
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Por Mauro Beting, colunista do Yahoo! Esportes

Fora o jogaço do Pacaembu, quando o Santo André mostrou que poderia ser campeão de muitos estaduais (mesmo o Paulista), foi a mais previsível final estadual de todos os tempos. O clássico cearense ainda trouxe alguma emoção. No mais, por motivos regulamentares, e mesmo com as vitórias de Bahia e Inter, deu quem tinha de dar.

Mas o que importa mesmo a todos que ainda estão na Libertadores e Copa do Brasil é jogar mais do que sabem e do que podem. Como o Cruzeiro, quem melhor jogou entre os brasileiros, que venceu bem o Nacional, e deve se classificar. Diferentemente do Inter, que ainda deve bola em 2010, e que terá sérias dificuldades para vender o certinho time do Banfield.

Incerto é qualquer palpite para Corinthians e Flamengo. Se Ronaldo teve a mais bisonha partida da vida na batalha naval do Maracanã, ainda é Ronaldo.

Como o Flamengo voltou a ser Flamengo, e tem um resultado para especular no contragolpe contra um Corinthians que tem mais time, mais bola, e mais torcida. Mas uma pressão absurda pela Libertadores e pelo centenário.

O São Paulo irritou Dalai Lama com a atuação medíocre contra um Universitário deprimente. Mas se classifica com goleada, até se continuar jogando mal.

SP-10 - A maioridade dos Meninos da Vila 3.0 que conquistaram o Paulistão e um lugarzão na história. Santos foi brilhante em todo o campeonato, mas foi dominado pelo rival em dois jogos, e teve de ser raçudo para suportar a pressão de um Santo André que teve mais chances de gols nos dois jogos (20 contra 14 santistas) e foi um dos vices mais campeões da história.

Os Meninos da Vila ainda não "haviam ganho nada"? Agora, ganharam tudo que já disputaram. E como gente grande. E contra um Santo André que foi um gigante, como em quase todo o SP-10.

Foi um senhor título. E um título de um senhor craque: Giovanni. O Messias. O profeta. O maior craque do jejum santista. O meia que não pôde dar a volta olímpica porque foi demitido no início do SP-06. O ídolo que poderia ter sido campeão brasileiro em 1995 no mesmo Pacaembu onde não conseguiu se despedir porque o Santo André mais uma vez foi um gigante: ganhou por 3 a 2, e terminou com dez bravos guerreiros contra oito heróis santistas.

Giovanni já havia sido o nome mais aplaudido dos 18 à disposição de Dorival Júnior para a decisão. O único que teve o nome gritado antes do jogo. E o veterano foi uma criança no banco comandando de fora o que outro paraense genial fez, até no antijogo no segundo tempo - Ganso.

Não foi só o título do melhor time do campeonato, que joga o futebol mais vistoso e brilhante do país. Foi uma vitória do futebol brasileiro. O melhor do mundo quando quer. Quando joga brasileiro. Como historicamente joga o santista. O primeiro do Brasil a marcar 10 mil gols. O primeiro paulista a anotar 100 gols em apenas 16 jogos do Campeonato de 1927, com Omar, Camarão, Siriri, Arakém e Evangelista. O primeiro ataque infernal a inspirar a belíssima companhia de Ganso, Robinho, André e Neymar. Mas que, em 180 minutos, criou menos que o brilhante Santo André. E teve de apelar ao antijogo depois de infantis expulsões. Mas que mostraram a maturidade da turma para segurar o tranco e o ótimo rival, na segunda etapa.

Ramalhão que, com 25 segundos, fez um golaço, em bola de Branquinho (em atuação de gala) para Cicinho limpar Felipe, e Nunes abrir o placar. Mas, em terra e em time de Rei Pelé, quem tem um olho só é Neymar.

Sem óculos de proteção, mas com a antevisão do craque, recebeu belo passe de Robinho, passou pelo goleiro, pelos zagueiros, e fez outro golaço, aos 3 minutos.

Mais não fez o Santos. O Santo André continuou em cima, teve um lance de gol muito mal anulado de Rodriguinho (impedimento inexistente de mais de metro de Carlinhos), aos 16, e fez o segundo com Alê, escorando escanteio de Bruno César, que Durval e Felipe nem passaram perto.

A atrapalhada arbitragem involuntariamente ajudou o Santos, tirando Nunes (nem tanto Léo), aos 23. Dorival trocou o lado de Pará, tentou colar Mancha em Bruno César. Mas Branquinho seguia livre. Como Ganso, aos 31, recebeu de Robinho e, de calcanhar, serviu Neymar para fazer outro golaço. De costas, o meia santista tem jogado mais que qualquer reserva de Dunga. Mas, caindo tantas vezes no gramado, Neymar pode cavar mais a cova na Copa-10 que um lugar entre os 23 de Dunga.

Foto: AE

Mas o Santos seguia nervoso. Marquinhos deu uma tesoura em Branquinho e foi expulso, aos 37. Seis minutos antes do meia receber de Bruno César e marcar o terceiro, na sétima chance andreense no primeiro tempo, contra apenas duas alvinegras.

Sérgio Soares voltou com Rômulo para atacar pela lateral direita e não levar o amarelo que Cicinho já tomara. Dorival precisava marcar Branquinho, e orar para Mancha achar e marcar Bruno César. Mas só tinha Brum no banco para tanto. Dorival trocou a marcação dos volantes. Mancha foi seguir Branquinho, que virou atacante. Arouca, incansável, tentou parar Bruno César.

Duas mexidas infelizes de dois ótimos treinadores (Robinho e Branquinho não poderiam sair) deixaram a partida muito mais um antijogo dramático, bem conduzido por Ganso, que fez o que poucos sabem, até para segurar o rival que só chegou duas vezes: uma que Arouca salvou aos 4, outra que a trave de Felipe tirou de Rodriguinho, aos 44.

Houve um pênalti para discutir em Arouca, aos 19. Mais um vermelho para Brum, aos 37. Mas mesmo perdendo gente e bola, ainda havia o santista para empurrar o Santos à frente e ao título.

Santos que marcou 6,2 gols por jogo em 1927, e nem campeão foi. Em 1959, também não conquistou o Supercampeonato paulista. Mas marcou inacreditáveis 151 gols em 38 jogos, com Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. A base que, em 1958, marcou 143 gols e foi campeã paulista, com Pelé marcando 58 vezes. Ou em 1961, quando Dorval, Tite, Coutinho, Pelé e Pelé anotaram 113 gols. No ano seguinte, quando o Santos ganhou tudo e mais um tudo, foram 102 gols de Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. Mais que os 100 gols de 1960, quando Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe fizeram a marca centenária.

Histórica.

Como os 72 gols do Santos de 2010. Uma equipe que levou adversários à exaustão pela intensidade do jogo, à irritação pela irreverência dos dribles, à exaltação pela qualidade que não se mede hoje. Mas que em qualquer campo e tempo pode ser repetida se um talentoso grupo for bem preparado, bem focado e muito bem ensaiado e ensinado para atacar sempre. Para tentar quase sempre marcar no campo adversário. Para tentar repetir uma história que desde 1927 os campos paulistas e do Brasil começaram a conhecer. E que o Pacaembu, nos dias em que celebra 70 anos, teve a honra de receber uma equipe para a história. Para a glória. Para o Santos Futebol Clube. Campeão paulista em 18 anos. O título da maioridade dos Meninos da Vila 3.0.

RS-10 - O melhor time do turno, o mais eficiente do RS-10, a equipe que mereceu vencer o jogo que acabou sendo decisivo, no Beira-Rio, foi campeã. Mesmo perdendo a decisiva para o rival, em casa, e desfalcado de cinco titulares.

O Inter mandou no Olímpico, no primeiro tempo, com o gol do redivivo Giuliano. Uma escalação remendada, um time mais precavido, e foi melhor que o Tricolor que não teve a fluência de outros jogos, com Leandro abaixo do bom nível, e Douglas bem marcado.

Hugo ajudou a reequilibrar o clássico e definir o segundo tempo e o título merecido. Se o Grêmio teve muitas partidas discutíveis em 2010, indiscutivelmente foi muito superior ao rival, atolado com uma campanha abaixo da média e da crítica na Libertadores. Mas que pode ter algum alento pela vitória no Olímpico. Mesmo que de Pirro. Mesmo que vice-campeã.

Mas melhor escreve o coração tricolor e campeão de Thiago Ceconello Sebem:

Não vou falar do título, em si, mas do principal personagem dele.

"Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Valhala!"

É aludindo à Santíssima Trindade que um cristão dá princípio à sua oração. É entoando uma cantiga ou um brado de guerra que um guerreiro busca alento para adentrar no campo de batalha. O homem sempre teve a necessidade de iniciar a sua luta, a sua prece, de maneira especial e emblemática. No caso dos cristãos, citar a Santíssima Trindade antes da prece é um ato poderosíssimo que impulsiona a fé. Entretanto, no caso dos guerreiros, entoar um cântico ou grito de guerra é um ato que pode envolver dois significados: proteção e, sobretudo, vaidade.

Entoar um cântico ou um grito de guerra fortalece e motiva o lado psicológico do guerreiro, mas também não deixa de ser uma investida desesperada de conseguir, por meio de palavras, a imortalidade. Afinal, as palavras, e Don Pedro sabia muito bem disso, são "Independência ou morte". Em alguns casos, são a independência sem morte; em outros, são a independência pela morte; ou, em casos especiais como o de Lara, são a imortalidade pela morte.

Não pensem vocês, advogados dos dogmas tradicionais, que o desígnio de quem vos escreve é transformar esse texto insignificante em homilia, epopeia ou oração. Não sou Padre Antonio Viera, tão pouco Homero. Sou apenas um homem de fé que acredita na força das trindades e na força das palavras. Falando em fé, quem diria que justamente ela seria usada covardemente como pretexto para afirmar que um homem, por tê-la demasiadamente, não seria capaz de conduzir uma religião onde as trindades de santíssimas nada têm? Pois saibam que o homem de fé foi feito justamente para estar ao lado dos mais fracos e dos pecadores, ensinando-lhes bons preceitos e conduzindo-lhes para as boas vitórias.

O melhor lugar para o homem de fé é estar ao lado de Douglas, Borges e Jonas. É estar ao lado, e acreditar, em Mário, Hugo e Neuton. Essas humanas trindades da religião Grêmio que cospem, dão carrinho, falam palavrões e pecam. Essas trindades de carne e osso, de qualidades e pecados, que nasceram, estão vivendo e um dia morrerão. São guerreiros do submundo do futebol, guiados por um homem de fé que busca colocar os seus fiéis escudeiros na história do planeta. Não o planeta terra, mas o planeta Grêmio. O planeta de milhões de apaixonados, o planeta imortal onde reinam em seus castelos suntuosos Lara, Lupicínio, Gessy e tantos outros que, com paciência e sapiência, aguardam a chegada de novos ídolos-reis e novas "bandas loucas" para alentar e dar compasso à festa.

Santo Agostinho, grande teólogo e sábio da Igreja, esforçou-se exaustivamente para compreender e revelar o enigma da fé. Após muito tempo de reflexão, empenho e trabalho, chegou à conclusão que nós, devido à nossa mente extremante limitada, nunca abrangeríamos e assimilaríamos de modo pleno a grandeza (infinda) de Deus unicamente com as nossas próprias forças e o nosso juízo. Então, concluiu que a compreensão plena e factual deste inextricável enigma só é possível quando, na vida eterna, encontrarmo-nos frente a frente com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Foto: AE

Aplicando a teoria de Agostinho na nossa realidade, podemos dizer que algumas pessoas preconceituosas e intolerantes, que julgaram o Silas pelo fato de ele ser religioso, só irão compreender plena e definitivamente o enigma da fé de Silas quando, na vida eterna, estiverem ao lado das trindades humanas tricolores rememorando esse momento mágico e sublime dizendo: - Foi coisa de Deus.

Silas, o homem de fé, além de aniquilar preconceitos e assegurar um espaço precioso para os seus escudeiros neste planeta seleto e fantástico chamado Grêmio, também plantou a esperança de que muitos outros títulos poderão vir. Silas deu aos seus comandados a imortalidade pela vida, pela luta, pela garra. E, se continuar deste jeito, não restam dúvidas: muitas taças virão.

Transcrevendo as primeiras palavras de Silas depois do título:

Glória a Deus!

Glória, também, aos deuses tricolores!

Valhala e Amém!

MG-10 - Poucos, no Brasil, torcem como o atleticano. Raros atletas que tiveram o privilégio de serem apoiados por essa massa merecem o aplauso e o reconhecimento pela bola e pela luta como Marques. Nenhum outro jogador merecia tanto fazer o último gol do MG-10. O gol do 40o. título estadual do Galo, em belíssimo passe de Ricardinho. Como Correa já havia achado Muriqui, que deu a Diego Tardelli o primeiro gol, aos 25 do segundo tempo de quatro tempos inteiramente atleticanos contra o bravo Ipatinga. Gols nascidos do contragolpe de uma equipe cada vez mais veloz e letal, bem armada e focada por Luxemburgo. Gols rápidos de um bom ataque bem articulado pelo meio-campo operário, e de uma defesa que se firma.

Mas o que vai ficar mais uma vez na história é o gol do título. O de Marques. Aos 42 minutos do segundo tempo, ele tirou a camisa junto ao poste de escanteio, ali na ponta esquerda, onde tantas vezes arrancou jogadas, aplausos e suspiros. Ali no escanteio ele vestiu o poste com sua camisa suada e sagrada. Colocou na ponta, arrancou o objeto do gramado, e tremulou a camisa como se fosse uma bandeira atleticana. Ele que é a própria bandeira atleticana. E acabou sendo a mais linda desfraldada entre tantas que fizeram mais uma festa do Galo.

Não muitos jogadores fizeram tudo que Marques já fez pelo Atlético, até nos momentos ruins. Mas raríssimos foram tão torcedores quanto ele. Quantos dos tantos alvinegros não quiseram ser jogadores para fazer os lances pela esquerda, e os gols que Marques marcou e ofereceu aos companheiros? Mas quantos podem celebrar um gol e um título como Marques? Como um torcedor?

Feliz o atleticano que vibra com o título. E com um torcedor-jogador como Marques.



Mauro Beting é colunista do jornal Lance! e da Revista Fut, é comentarista da Rádio e TV Bandeirantes e da Rádio e TV Lance!. Mauro também é apresentador do Bandsports e do Esporte Interativo. Ele escreve semanalmente para o Yahoo! Esportes. Contato: maurobeting@ymail.com.br.
Fonte: Yahoo

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