sábado, 24 de abril de 2010

Ataque a Edson Portilho



Quinta-feira
O ataque no Twitter ao Professor Edson Portilho



Inegavelmente o Twitter é uma ferramenta nova e poderosa para a troca de informações e interatividade. Ainda terá um amplo campo de crescimento no Brasil, possivelmente ocupando um papel cada vez maior na difusão de informação.
O Twitter, aliado aos blogs e a outras redes de relacionamentos, permite uma situação de amplidão nas trocas livres de opiniões, notícias e todo e qualquer tipo de manifestação, e a tendência é que o uso da ferramenta seja ampliado e fortalecido pelo ineditismo da possibilidade de rompimento com o bloqueio dos grandes meios de comunicação, principalmente quanto ao acesso e difusão do conhecimento. Se, afirmam que caminhamos para uma “sociedade do conhecimento”, nada mais potencialmente “revolucionário” que a construção de meios que rompam com a própria hegemonia na reprodução dos saberes.
Mas, se existe esta potencialidade, ela ainda tem um caminho a ser trilhado e que por vezes, a velocidade da difusão, aliada a um instantaneísmo de pouca capacidade crítica, permitem que se gerem alguns “mal-entendidos” e interpretações errôneas de alguns fatos.
Um exemplo disso ocorreu quinta-feira, 22 de abril, quando o “Trending Topics” do Brasil ou TTBrs, que é uma lista em tempo real dos nomes mais comentados no Twitter no país, constava no topo o nome do Edson Portilho. Me causou de imediato uma certa estranheza, afinal, o Professor Edson Portilho, da cidade de Sapucaia do Sul (região metropolitana de Porto Alegre/RS) não tinha realizado nenhuma ação, nesses últimos dias, que tenha ganhado amplo destaque nos meios de comunicação gaúchos.
Ao verificar do que se tratava, constava da aprovação de uma lei do Deputado Edson Portilho que permitiria a tortura e o sacrifício de animais. Descobri que esta denúncia, aparentemente, teve orígem em uma noticia vinculada pela Agência de Notícias dos Direitos dos Animais (ANDA) no dia 19 de abril. A informação original era descontextualizada, com informações vagas e sem informar muita coisa, fechava fazendo um pedido: “Divulgue, para que Edson Portilho não se eleja para mais nenhum tipo de cargo.” Em seguida foi noticiada por outros blogs e sites em uma difusão crescente, sendo atendida em seu apelo e, dois dias depois de publicada era o tema mais comentado no Twitter.
Passada a estranheza inicial logo percebi que se tratava de uma grande confusão, e que ganhava, rapidamente, um corpo de “verdade”. Para começar, Edson Portilho não é mais deputado desde 2006, atualmente é vereador em seu município de origem.
A suposta lei da “tortura” ao animais foi aprovada em 2004, e é uma lei de âmbito estadual, já que o Professor Edson era deputado estadual da Assembleia Legislativa do RS. Logo, apesar das “informações” que alguns difundiam, não é uma lei nacional, além de que, nenhuma lei é aprovada por vontade de apenas um deputado, é necessária maioria em plenário.
A lei que gerou a “campanha” com tons de denúncia, não fala de tortura de animais, mas versa a respeito das religiões de matriz africana, onde os animais utilizados nos cultos não são “torturados” com requintes de crueldade (como alguns afirmaram) e nem é irrestrita para todo e qualquer espécie de animal.
Neste aspecto, não deixa de transparecer um forte componente de intolerância religiosa, que na época da aprovação da lei, geraram sim protestos de alguns segmentos, como os ligados aos evangélicos e alguns “ambientalistas”. Mal disfarçando a intolerância com as práticas e manifestações religiosas de matriz africana, que não chega a ser uma novidade para os adeptos destas religiões, perseguidos historicamente em todos os cantos do Brasil.
Estes e outros aspectos deste tema não foram levados em consideração pelas milhares mensagens no Twitter, a difusão em blogs e sites, a criação de micro-blogs, de uma campanha “Fora Edson” etc. já davam vasão a um fato que, no mínimo, estava descontextualizado. Sem haver o menor cuidado em um principio básico de se verificar de onde vem a informação
O saldo final não deixa de ser um tanto perverso e demonstra o mal-uso que uma potente ferramenta como o Twitter pode ter. Para muita gente, qualquer desmentido e recolocação dos fatos talvez não seja mais eficaz, pelo próprio caráter efêmero e instantâneo da “denúncia” e explicita o longo caminho que ainda temos para uma melhor capacidade crítica e cidadã da rede por um número maior de pessoas.

Postado por Erick da Silva às 18:02



Fonte: Blog Aldeia Gaulesa

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