sábado, 3 de abril de 2010

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31/03/2010 - 07h15
Ex-zagueiro Argel coleciona vitórias e posições polêmicas como técnico de futebol
Daniel Cassol
Em Porto Alegre
O gaúcho Argélico Fucks, ou simplesmente Argel, sempre foi conhecido pelo jeito viril em campo. Zagueiro de pouca técnica e muita raça, conquistou as torcidas de Internacional, Palmeiras e Santos. Agora, em seu terceiro ano como técnico, vem empreendendo uma cruzada contra o que considera “frescura” do futebol moderno: não fecha treinos, dispensa psicólogos e permite que seus jogadores tomem uma cervejinha depois das partidas. Polêmico e de fala franca, já coleciona êxitos. O último deles causou grande repercussão: vitória por 3 a 0 de seu São José sobre o time titular do Internacional no domingo.

AS MÁXIMAS DE ARGEL

Eu sou simples. Dou liberdade para o jogador e cobro responsabilidade

Joguei com jogadores que fumavam e, na hora do jogo, corriam 15 quilômetros. Vou dizer o que para um jogador desses?

Não quero jogador para meu genro. Quero que ele se comporte como profissional

Não sou a favor de psicólogo no futebol. Time de futebol não é clínica. Quem tiver algum problema, que procure uma clínica

Vejo preconceito contra o jogador. Por causa da origem, porque ele ganha muito bem e as pessoas não admitem. Mas o futebol é isso

Trabalho olho no olho, com franqueza. Comigo não tem panelinha. Quem estiver bem, joga

O problema dos traficantes armados não é do Love, isso é um problema social

A imprensa pensa que todo jogador de futebol é igual ao Kaká
Envolvido em discussão com D'Alessandro, Argel mostrou seu lado polêmico. Com estilo motivador, do tipo que fica em cima dos jogadores até mesmo nos alongamentos após os jogos, vem conquistando resultados: venceu nove de 14 partidas com o São José no Campeonato Gaúcho.

O técnico recebeu a reportagem do UOL Esporte na semana passada, após uma hora e vinte e cinco minutos de treino, antes do empate em 2 a 2 contra o Universidade pelo Gauchão.

Gravador ligado, poucas perguntas são necessárias para que Argel, sentado à sua mesa na modesta sala onde trabalha no estádio Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre, desande a falar.

“Tenho minha maneira de trabalhar e até este momento só tenho vitórias. Eu falo a linguagem do jogador. Eu sei o que ele pensa e o que ele não pensa, porque eu já estive lá dentro. Não adianta eu ser politicamente correto”, resume o emergente treinador, sobre seu estilo de trabalho.

Frasista até nos treinamentos, Argel comanda seus jogadores com a mesma energia com que arrancava leivas de grama nos seus tempos de zagueiro. “Ninguém perdeu, os dois times deram sangue”, bradava o técnico ao final de um “rachão” entre os jogadores.

Aos 35 anos, Argel comanda seu quinto time na curta carreira de treinador iniciada no Mogi Mirim em 2008, no ano seguinte à aposentadoria como jogador. No primeiro trabalho, subiu o clube do interior para a primeira divisão do Paulistão. Depois foi para o Guaratinguetá, fazendo boa campanha na Série C do Brasileirão, mas não conseguindo o acesso.

Em 2009, assumiu o Caxias e foi às finais do segundo turno do Gauchão, contra o Internacional, sendo derrotado por 8 a 1. No clube gaúcho protagonizou um momento curioso: contestado pela imprensa e pela própria direção após a goleada para o Inter, comandou o Caxias na partida de ida na final do interior, vencendo o Ypiranga, e pediu demissão antes do jogo da volta.

“Sempre fui um cara sério e as pessoas simplesmente apagaram as nossas vitórias e duvidaram da minha capacidade profissional. Isso me deixou chateado. Não gosto de perder nem par ou ímpar”, lembra Argel. Depois do Caxias, teve uma rápida passagem pelo Campinense – sem estrutura para treinar, conquistou apenas uma vitória, perdeu quatro e acordou com o clube que era melhor se retirar.

No São José desde o final do ano passado, Argel faz uma campanha invejável à frente do “Zequinha”, como é conhecido o time de Porto Alegre. São 14 jogos, nove vitórias, três empates e duas derrotas no Campeonato Gaúcho, campanha idêntica à do Internacional, clube que o revelou.

Nos treinos, coloca em prática tudo que aprendeu observando seus treinadores, como Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, e José Mourinho, Giovanni Trapattoni e José Antonio Camacho, no Benfica e no Porto, de Portugal. “Peguei vários treinadores fantásticos”, resume.

Por se considerar um zagueiro normal, diz que usava mais a cabeça – e a garganta – para jogar, o que tornou a transição para o trabalho de técnico quase natural. “Eu sempre fui mais treinador do que jogador. Como jogador, fui normal. Mas a minha força estava na cabeça e não nos pés”, diz Argel.

A personalidade forte do zagueiro se mostra na casamata do Passo D’Areia. Na goleada sobre o Inter, pôs o dedo na cara do meia D’Alessandro. “Ele veio xingar meu banco de reservas e eu comprei a briga. Essa é a história”, conta Argel, que foi expulso de campo na confusão. Às rádios, disse que o argentino se comportava como um juvenil.

Opiniões pouco convencionais
O estilo polêmico também o transforma numa espécie de missionário do futebol simples, já que vê muita “frescura” no esporte. A começar pelos treinos fechados. Para Argel, uma tremenda bobagem. “Não fecho treino. Antes do jogo com o Inter, mudei o sistema. Era só alguém da imprensa vir aqui ver que estávamos treinando no 3-5-2. Mas ninguém deu importância, nos subestimaram”, esbraveja.

ZAGUEIRO DE MUITA RAÇA

Zagueiro revelado pelo Internacional em 1992, atuou 16 anos como profissional, passando por clubes como Tokyo Verdy, Santos, Cruzeiro, Porto, Benfica, Racing Santander e Palmeiras, onde chegou à final da Libertadores de 2000. Encerrou a carreira de jogador aos 33 anos, no Zhejiang Lücheng, da China, em novembro de 2007. No ano seguinte já era técnico do Mogi-Mirim, de onde saiu par treinar Guaratinguetá, Caxias, Campinense e, atualmente, o São José.

CLASSIFICAÇÃO DO CAMPEONATO GAÚCHO
SÃO JOSÉ FAZ 3 A 0 NO INTERNACIONAL
Concentração. Argel é contra. Acha que o jogador fica tempo de mais sem fazer nada. Por isso, limita-se a concentrar os jogadores na noite anterior às partidas. Depois de cada jogo, Argel adota um costume não muito comum no futebol: leva seus atletas a uma churrascaria e libera dez cervejas de garrafa.

“Depois de um jogo, o jogador quer tomar uma cervejinha, está estressado, não vejo problema nenhum. Se não, vou correr o risco de entrar no ônibus e ver um jogador meu tomando uma cerveja escondido, e isso eu não quero”, explica o treinador. Ele diz que alguns de seus técnicos também permitiam a cerveja aos atletas. Na Europa, os melhores jogadores com quem trabalhou tinham o hábito do cigarro. “Sou contra, mas conheço vários jogadores que fumam. E são os que mais correm”, afirma.

Para Argel, vale a máxima: “não quero jogador de futebol para ser meu genro”. Não importa, diz o técnico, o que o jogador faz no seu horário de folga. O importante é que se dedique aos treinos e, no campo, jogue futebol. “Não sou a favor de psicólogo no futebol. Time de futebol não é clínica. Quem tiver algum problema, que procure uma clínica. Jogador de futebol é bem pago, é tratado como um trabalhador normal. Se produzir, fica”, acrescenta. Essa visão leva Argel a ter uma opinião também sobre casos como o de Vagner Love, atacante do Flamengo flagrado em um baile funk no Rio de Janeiro.

“Vi as pessoas malhando o Vagner Love porque o rapaz foi a um baile funk. Pelo amor de Deus! Ele morou no morro, tem os amigos dele lá, foi no baile numa folga, está fazendo o trabalho deles, fazendo gols”, diz Argel. “O problema dos caras armados não é do Vagner Love, isso é um problema social, do governo do Estado do Rio de Janeiro”, completa o treinador, para quem existe preconceito no Brasil contra os jogadores de futebol, basicamente, pelo alto salário que recebem.

Assim, com opiniões pouco convencionais em tempos de futebol moderno e politicamente correto, Argel vai consolidando uma imagem de treinador enérgico e trabalhador. Tanto que seu nome é especulado em times da primeira divisão, como o Atlético-PR. Só especulações, garante Argel, que não foi procurado por nenhum representante do clube paranaense.

Argel tem um acordo verbal com o Criciúma, para disputar a Série C do Brasileirão. E palavra, na filosofia de Argel, vale mais que papel assinado. Sem querer falar em hipótese, o treinador afirma que vai para Santa Catarina no dia seguinte ao final do Gauchão.

“Mas fico contente, é uma valorização do meu trabalho”, diz Argel, que parou de jogar muito cedo para um zagueiro, aos 33 anos. Na sua avaliação, foi muito além no futebol do que sua capacidade técnica permitia. Tudo na base da personalidade forte. “Por isso que eu acho que vou ter uma carreira muito mais bonita como treinador”, projeta.

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Fonte: Uol

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