quarta-feira, 24 de março de 2010

Ruy Carlos Ostermann


Medo de Mino Carta
Ruy Carlos Ostermann

De fato, tinha minhas boas razões para ter uma espécie de medo intelectual da entrevista com Mino Carta. Medo intelectual é respeito, mas é, também, incerteza, essa mesma que gera insegurança e muitas vezes nos deixa perplexos e imóveis mentalmente. O Mino era uma dessas limitações prévias que me impunha inconscientemente.

Tudo em nome do respeito, da admiração, do seguimento de tantos exemplos da revista Carta Capital, que é uma exceção ideológica entre as revistas nacionais - só isso me fazia estremecer moralmente e temer pela primeira frase.

O Encontros foi excepcionalmente numa terça-feira, a pedido dele: nos dias a seguir estaria envolvido com o fechamento da revista, e nada o tiraria de São Paulo. Foi bem complicado para me acalmar. Não pude ir ao aeroporto esperá-lo, não achei prudente seguir-lhe os passos pela cidade. A Paola (assessora de imprensa do Encontros) tratou disso com esmero, cuidado e carinhosamente. Foi a primeira trégua que percebi: Mino estava feliz, de paletó e gravata - um genovês elegante, como já me alertaram - e muito sorridente.

Estendi-lhe a mão, beijei seu rosto, eu estava me libertando das velhas inseguranças, ele não percebeu (deveria, suspeito, imaginar-me um jornalista à vontade, o que nunca fui), mas também nenhum tipo de surpresa. Fomos tomar cerveja. Mais tarde, chegaríamos ao tinto Carmenère. Comemos entrecot, mas ele prefere os peixes. E conversamos sempre.


Em dois minutos, éramos bons amigos.

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