sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ruy Carlos Ostermann

Férias é virar de lado
Ruy Carlos Ostermann


Preparar as férias não é absolutamente o mesmo que fechar a mala, a casa, recarregar o automóvel, botar algum dinheiro no bolso e reparar na atualidade dos documentos. Ou riscar no papel um itinerário mesmo que longamente planejado, substituído, jogado fora em pedaços, reanimado numa noite de especial consideração sobre um futuro possível, algum vazio existencial que, de certa forma, sempre se cogita.

Aliás, a existência de vazios, espaços incompletos e desafiadores como um obstáculo silencioso, é bem importante. Os cheios, sabe-se, são autosuficientes, exigem uma declaração de princípios ou uma forma autorizada de apreensão com as mãos ou com os olhos e, se não estivermos à altura do que estão revelando, param, se calam, e saem de perto.

Nada contra os cheios, mas eles requerem menos de nós, podem até conviver sem reclamar, lado a lado, e só. Não são instigantes como são os vazios.

Mas, as férias, então. Foi o Saramago, num blog, quem disse que viajar é ficar no mesmo lugar, como se não ficasse. Ou coisa parecida. Gosto dessa ideia de que não mudamos, o que muda é a paisagem, mesmo as pessoas se repetem, e seus desejos são amavelmente os mesmos, sempre. O que é uma garantia de que ninguém, próximo ou distante, está disposto a nos trocar por coisa melhor ou mais nova, e que por nós mesmos não corremos esse risco.

Então, preparar as férias é só virar de lado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim