quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Saudosistas da Ditadura

Saudosistas da ditadura


No início desta semana, o Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, foi palco de mais um ataque verborrágico dos saudosistas da ditadura militar, protagonizado desta vez pelo general-de-exército Paulo César de Castro, 64, que em cerimônia para oficializar sua substituição na chefia do Departamento de Educação e Cultura do Exército e passagem à reserva, fez um seu discurso de despedida em que exaltou o golpe militar de 1964.

Ele elogiou o ditador Garrastazú Medici como ''exemplo de honestidade, coragem moral e audácia''; disse que o golpe militar foi uma ''revolução democrática'' e chamou os que resistiram à ditadura de ''arautos da sarna marxista'', inimigos ''astutos e insidiosos''. Por fim, disse que estava orgulhoso por ter ''participado do movimento de descomunização do Brasil'' e analteceu a patrulha para que a ''lepra ideológica'' (da esquerda) fosse mantida bem afastada dos currículos, salas de aula e locais de instrução. Não satisfeito com os ataques à democracia, o general também aproveitou a platéia de amigos de farda para ironizar as políticas de cotas raciais na educação.

Pobre alma doentia. É o mínimo que se pode dizer deste general que, para espanto geral dos verdadeiros democratas era, até março deste ano, responsável pela educação no Exército.

Passados 25 anos desde o fim da ditadura, é incrível que existam nas Forças Armadas comandantes que não assimilaram até hoje a redemocratização do país. Redemocratização que, é bom lembrar, está cada vez mais consolidada justamente pela ação daqueles que o general qualificou jocosamente como os ''arautos da sarna marxista''. Graças a esta redemocratização que o general pode falar o que pensa sem ser repreendido. Cabe destacar que o comandante do Exército, general Enzo Peri, estava na cerimônia e ao ser questionado pela imprensa sobre o discurso de Paulo César de Castro, se absteve de criticar o colega de farda. Disse apenas que ''cada um tem o direito de ter sua opinião''.

Mas a liberdade de opinião não pode ser confundida com amnésia e impunidade. É bom que os saudosistas da ditadura não se esqueçam que a extensão da Lei da Anistia para aqueles que cometeram crimes de perseguição, tortura e assassinato a serviço do regime militar ainda é um assunto em debate no país. Nações vizinhas como Argentina, Uruguai e Chile já avançaram no sentido de punir os crimes da ditadura, e espera-se que o Brasil siga a mesma linha.

A sorte dos brasileiros é que esta camarilha anticomunista que ainda existe nas Forças Armadas está quase toda aposentada, na reserva, tendo cada vez menos palanques e oportunidades de manifestar sua opinião preconceituosa e historicamente falsa. Apenas meia dúzia de sites e publicações ultradireitistas, frequentadas por neonazistas, fascistas, skinheads, seguidores de seitas extremistas católicas e ex-militares ainda dão ouvidos e publicam o que esta gente pensa.

Mas independentemente do isolamento destas opiniões, cabe a pergunta: quanta verborragia anticomunista não foi despejada sobre a cabeça da nova geração de oficiais militares, que não têm em seus currículos a prestação de serviços para a ditadura? E quantos ainda existem na ativa repetindo o mesmo discurso?

Diante desta incógnita, é preciso que as forças democráticas e progressistas mantenham-se vigilantes e repudiem toda e qualquer exaltação do sujo e repugnante período da ditadura.




-----Anexo incorporado-----


_______________________________________________
Cartaoberro mailing list
Cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim