quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ruy Carlos Ostermann





Pilcha, não
Ruy Carlos Ostermann


Não me sinto pilchado. Acho que nunca andei de bombacha, chapéu e lenço atado no pescoço. E não por nenhuma dessas razões intelectuais e citadinas: é que nunca usei. Filho de colonos alemães, nascido em cidade alemã na sua origem, São Leopoldo, cavalo só vi à distância e com o maior respeito, logo depois de bem assustado.

Tudo isso faz uma diferença na formação de um guri do Interior. Descobri muitas coisas, passei longo tempo na fazendola de minha avó, pesquei no arroio, subi em árvore, dormi ao relento, debaixo de árvores até que os mosquitos impedissem. Mas andar a cavalo, nunca andei. Nem tinha cavalo nos pequenos campos de minha avó materna, nem vaca ou bode.

Agora mesmo estou me dando conta de que a funda, as gaiolas, as galinhas, os cachorros sucessivos (um deles, o Rex, morreu nos trilhos do trem e desde então precisei me esforçar para entender aquelas máquinas), o carrinho de lomba, e as noites longas que aproveitava para pensar em aventuras e viagens, causavam um prazer maravilhoso, na raiz da pele, entre os dedos dos pés, raspando pela cabeça. Ficava leve debaixo das cobertas, e sonhava.

Mas, de fato, pilcha, não.

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