sexta-feira, 12 de junho de 2009

Praça de Guerra em São Paulo


PM transforma USP em praça de guerra

Por Lúcia Rodrigues

A USP foi transformada em uma verdadeira praça de guerra pela Polícia Militar, no final da tarde de ontem, dia 09. Policiais da Força Tática, munidos de armas do choque, partiram para cima de estudantes e funcionários que retornavam da manifestação realizada em frente ao portão central da universidade, em protesto contra a presença da PM na universidade.

Os manifestantes foram perseguidos pelos policiais a partir da Faculdade de Educação. A rua lateral à reitoria e o gramado que dá acesso aos prédios da História e Ciências Sociais viraram palco de um bombardeio. O som das bombas de efeito moral, dos tiros de borracha e dos helicópteros que sobrevoavam o campus era ensurdecedor. O cheiro do gás lacrimogêneo e spray de pimenta, insuportável.

Ninguém estava a salvo no território do medo. Os policiais arremessaram granadas de efeito moral, inclusive, sobre um grupo de professores, que tentava dialogar com o comandante da operação, tenente-coronel Claudio Miguel Marques Longo, para evitar mais violência.

A imprensa também foi alvo da repressão policial. O fotógrafo da Folha de São Paulo Danilo Verpa foi atingido por cassetetes quando registrava o ataque da PM. A reportagem da Caros Amigos e um fotógrafo do Estadão ficaram sob a mira de escopetas.

Diretora critica

A diretora da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), Sandra Margarida Nitrini, também tentou intermediar uma negociação com o comandante Longo. “Essa é uma medida da reitoria, eu respondo pela FFLCH.”

Ela conta que disse ao tenente-coronel que a situação estava se acirrando, com a iniciativa dos policiais avançarem em direção à Faculdade. “Queremos impedir que isso ocorra em nossa unidade, queremos garantir a integridade”, frisa.

No momento em que a diretora conversava com o comandante, bombas explodiam em frente à reitoria. A justificativa apresentada pelo tenente-coronel Longo foi a de que se tratava de explosivos lançados, mas que não haviam sido detonados. “Algumas bombas ficaram com os pinos soltos e estamos explodindo agora.”
Pelo menos um estudante foi atendido no Hospital Universitário. O aluno, que não teve o nome revelado, foi atingindo na perna por um tiro de borracha. “Eu nunca vi a polícia entrar desse jeito no campus. Isto aqui virou uma guerra campal. Atacaram, inclusive, os professores que tentavam negociar”, protestou a funcionária Rosana Bullara.

Prisões

A PM prendeu dois trabalhadores e um estudante no campus. Os três tiveram as mãos algemadas para trás e foram conduzidos ao 93 DP. Permaneceram no local por volta de duas horas e meia.

Após lavrar um termo circunstanciado, um espécie de boletim de ocorrência mais elaborado, o delegado de plantão Percival de Moura Alcântara Jr. liberou os presos. “É um crime de menor potencial ofensivo. Não tem flagrante nesse caso”, explica o delegado.

Segundo Alcântara Jr., o termo será enviado para a justiça criminal e os três serão julgados pelos crimes de desacato a autoridade, resistência a prisão e danos ao patrimônio. Ele acredita que o julgamento ocorra no prazo de 30 dias.

O diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), Claudionor Brandão, um dos detidos, recebeu a informação de que dois diretores do sindicato haviam sido presos. Como ele não participou do protesto em frente ao portão central, tentou obter informações sobre os colegas.

“Eu estava ligando para a Adusp (Associação dos Professores da USP) para pedir ajuda quando vi o Celso (Luciano Alves da Silva), do comando de greve e funcionário do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) ser preso.” Brandão tentou convencer os policiais a soltarem o companheiro. Além de não conseguir demovê-los da ação, acabou sendo preso pelo comandante da operação, Cláudio Longo.

Segundo Brandão, as algemas que foram colocadas em seus braços foram posicionadas de uma forma que apertavam seus pulsos. “Eles (policiais) retorceram as algemas e prenderam minhas mãos para trás, isso fez com que pressionasse ainda mais”, ressalta ao exibir os pulsos com marcas profundas na pele.
O estudante de história José Ailton Dutra Junior, outro preso, estudava em seu apartamento no Crusp (Conjunto Residencial da USP), quando recebeu um telefonema informando que a PM estava atacando funcionários e alunos em frente à reitoria.

“Fui ver o que estava acontecendo e me prenderam. Os policiais vieram para cima, me arrastaram, jogaram spray de pimenta (nos olhos) e deram várias cassetadas”, frisa.

Abaixo a repressão

Para o presidente da Adusp, Otaviano Helene, o ataque da PM à comunidade acadêmica é gravíssimo. “Infelizmente chegamos a esse ponto. Isso (ataque policial) é responsabilidade da administração da USP e do governo do Estado. Não se toma uma atitude desse tipo sem o conhecimento do governador”, ressalta o dirigente dos professores.


Greve continua

Professores, funcionários e estudantes permanecem em greve. A Adusp realiza assembléia pela manhã. Ontem, a reunião dos professores foi interrompida no momento em que a tropa deflagrou o ataque.
Os estudantes realizam passeata no início da tarde até a avenida Paulista, para protestar contra a violência policial no campus. Um grupo de aproximadamente 50 estudantes permaneceu em vigília em frente ao prédio da História durante a madrugada.

Pela manhã dois helicópteros da polícia faziam vôos rasantes no campus. As viaturas da PM continuam perfiladas nos fundos da reitoria.

Os funcionários também realizam assembléia hoje. Eles reivindicam 16% de reajuste, incorporação de R$ 200 ao salário, a reintegração de Brandão , demitido em dezembro pela reitora, em função da atuação destacada à frente do Sintusp, (click aqui e leia a notícia da demissão), além da retirada dos processos contra dirigentes sindicais e estudantis.

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Veja imagens da USP nesta manhã de quarta Estudantes marcam ato para esta quarta Polícia e estudantes entram em confronto no campus da USP Veja imagens do conflito Em nota oficial, reitoria da USP "lamenta o confronto" Vice-reitor garante à comissão que PM vai sair do campus Manifestantes detidos querem exame de corpo de delito "Não há outra alternativa a não ser manter a PM lá", diz Serra Entenda as manifestações na USP e a presença da PM no campus


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Em assembléia, professor es da USP pedem renúncia da reitora


DECLARAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP DE 10/06/2009



A Universidade de São Paulo tem desrespeitado, há anos, no seu cotidiano e nas

suas instâncias de decisão, o Artigo 206 da Constituição Federal que define o princípio da gestão

democrática do ensino público. O desrespeito fica evidenciado pela ausência de diálogo sempre que

deliberações de Conselhos de Departamentos, Congregações e do Conselho Universitário

acontecem sem a devida participação de alunos, docentes e funcionários. Nos últimos meses

testemunhamos algumas dessas deliberações que, no lugar do diálogo, impõem de maneira

autoritária suas decisões, gerando conflitos e desgastes desnecessários entre as partes envolvidas:

demissão política de um dirigente sindical, o ingresso da USP na Univesp, a reforma estatutária da

carreira, as mudanças no exame vestibular, entre outras. As três últimas, aliás, foram tomadas sem

razões acadêmicas que as sustentem.

A crise atual vivenciada pela USP, originada pela negociação de data-base, como

vem acontecendo nas negociações dos últimos anos, a ausência de diálogo exacerbada pela ruptura

por parte do Cruesp da continuidade da negociação, culminou com a solicitação, por parte da

reitoria da USP, da presença da Polícia Militar, provocando a violenta repressão que vivenciamos na

tarde de ontem no campus Butantã da USP.

Em função dessa sucessão de acontecimentos:

“Os professor es da Universidade de São Paulo , reunidos em Assembléia no dia 10

de junho de 2009, em face dos graves acontecimentos envolvendo a ação violenta da Polícia Militar

no campus Butantã, vêm a público exigir:



1. a renúncia imediata da professor a Suely Vilela como reitora da Universidade

de São Paulo ;



2. a retirada imediata da Polícia Militar do campus;



3. que a nova administração adote uma medida firme para impedir que as

chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a

criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;



4. que se inicie também imediatamente um processo estatuinte democrático.



São Paulo , 10 de junho de 2.009.



Adusp-S.Sind.

Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

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Boletim Eletrônico • 10 de junho de 2009 • Nº 137



Deliberações da Assembléia da Adusp de 10/06

1- Pela continuidade da greve, tendo como pauta:

Imediata retirada da Polícia Militar da USP;
Renúncia da reitora Suely Vilela - “Fora Suely”;
Reabertura imediata de negociações entre o Cruesp e o Fórum das Seis – mantida a pauta de reivindicação inicial;
Anulação da resolução do Conselho Universitária que autoriza a reitoria a solicitar a entrada da PM no campus;
Estatuinte Livre, Democrática e Soberana;
Eleições diretas para Reitor.
2- Protocolar uma manifestação na reitoria incluindo os 4 pontos abaixo(*):

exigência da imediata renúncia da professora Suely Vilela como reitora da USP;
saída imediata da polícia militar do campus;
que seja adotada medida firme para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;
que se inicie, também imediatamente, um processo estatuinte democrático.
3- Ato público em defesa da universidade livre e democrática a ser realizado no Largo São Francisco, conjunto com o Fórum das Seis, a ser organizado para a próxima semana, com a presença de representantes de partidos políticos, centrais sindicais e personalidades;

4- Próxima assembléia, 15/6, 2a-feira, 16h, no anfiteatro da Geografia, recomendando que haja assembléias ou reuniões conjuntas nas unidades pela manhã. (Fiquem atentos, pois pode haver mudança de dia e hora da assembléia em função de eventos inesperados. Acompanhem no site www.adusp.org.br.)

Colegas, indignação não basta, resistir é preciso. Venham ajudar na panfletagem
nessa segunda-feira, 15/6, a partir das 7h00, nos portões 1 e 3.

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Moção de Repúdio dos professores da USP campus de Ribeirão Preto à Entrada da PM na USP

Nós, professores da USP-RP, reunidos em assembleia no dia 09 de junho de 2009, aprovamos a presente moção de repúdio contra a entrada da Tropa de Choque na USP, a pedido da Reitora Suely Vilela.

Com o uso da força, a Reitora tenta cercear manifestações pacíficas e legítimas, colocando em risco o maior patrimônio da universidade, qual seja, seus alunos, funcionários e professores.

Atitudes como esta, que remetem à ditadura militar, não serão aceitas, pois violam o direito à livre expressão, entre outros tão duramente conquistados.


Assembleia Geral dos Docentes

Campus da USP de Ribeirão Preto
9/junho/2009





Os professor es pretendem, ainda na tarde de hoje, entregar as deliberações da assembléia à reitoria da USP.

De acordo com Otaviano Helene, presidente da Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), a mobilização cresceu após os conflitos de ontem entre PMs, professor es, alunos e funcionários.

"Assinaram hoje presença na nossa assembléia, mais de 200 professor es, o que não ocorria aqui há muito tempo. Estamos indignados com o que houve ontem. É intolerável", afirmou o presidente da Adusp. Otaviano afirmou ainda que para a abertura das negociações é indispensável vontade política.

"A polícia não entrou aqui sem autorização da reitora, assim como do governador. A nossa situação hoje é inaceitável. Nos reuniremos novamente na próxima segunda e esperamos que até lá exista alguma abertura para diálogo", completou.

A nova assembléia dos professor es está marcada para segunda-feira, dia 15, às 16 horas. Em função da chuva forte que cai na capital paulista desde as 10 horas desta quarta-feira, a manifestação que estava marcada para a tarde foi transferida para a próxima semana.

Funcionários da instituição permaneciam em assembléia paralela à dos professor es, às 14 horas.



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Sindicato dos Trabalhadores da USP

Boletim nº 64 (37º dia em greve) - SP 10/06/2009 - USP

16% Já

UM CAMPO DE GUERRA

É difícil de acreditar no que ocorreu ontem na Universidade de São Paulo.

A partir das 12 horas, houve o Ato do Fórum das Seis, com mais de 2.000 funcionários, estudantes e

professores da USP, Unesp e Unicamp, em frente à reitoria da USP, exigindo a retirada da PM do

campus e abertura de negociação com o Cruesp.

Em seguida, funcionários e estudantes da USP, convocados pelo Comando de Greve Unifcado

(funcionários e estudantes), dirigiram-se, em passeata, ao portão 1 da Universidade. A tropa de choque

tentou impedir a saída da passeata da universidade, mas em virtude do grande número de manifestantes

foi obrigada a recuar até fora da Universidade. Houve então um grande Ato, denominado de trancaço,

que ocorreu sob muita tensão, pois os manifestantes ficaram por mais de 2 horas frente à frente com

a tropa de choque.

Ao término do Ato, quando manifestantes voltavam rumo à reitoria, ao passar em frente de alguns PMs

que provocaram 3 companheiras, todos começaram a gritar: FORA PM!

Um dos policiais, nesse momento, requisitou reforços através do rádio. Logo, um enorme contingente

da tropa de choque entra na Universidade atirando bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, tiros de

escopeta calibre 12 com balas de borracha. Houve uma grande perseguição e ataques a todos os

manifestantes, por mais de 1 hora, dentro da USP.

Mais de 1.000 manifestantes recuaram até a FFLCH, onde foram isolados pela tropa de choque.

Uma comissão de professores da Adusp acorreu ao local, com objetivo de negociar com o Comando

da Tropa a suspensão da violência e, foi atacada com várias bombas.

Muitos companheiros foram feridos, inclusive alguns hospitalizados. O comandante da PM, Cláudio

Longo, em entrevista à CBN, declarou haver mandato de prisão para Claudionor Brandão, Magno de

Carvalho e o estudante Caio, por incitar os manifestantes ao confronto. Em seguida, Brandão, Caio e

Celso (funcionário do IEB) são presos e condizidos à 93ª DP, sendo liberados horas depois. O

companheiro Zelito também chegou a ser detido. Entretanto, conseguiu escapar.

Os estudantes, que já tinham assembleia marcada para as 18 horas, em frente à reitoria, acabaram

realizando uma grande assembleia na Av. Prof. Luciano Gualberto, onde estavam sendo discutidas as

ações em resposta à bárbarie que houve na USP.

A responsabilidade do confronto ocorrido na USP é da reitora Suely. Entretanto, sabemos que uma

ação como essa não ocorre sem ordem do Secretário de Segurança Pública e o aval do governador

José Serra.

Muitos professores, dentre os quais alguns diretores de unidade acorreram ao local, comentando que

depois do que houve a reitora Suely não tem mais condições morais de permancer no cargo.


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Nota pública da Associação dos Pós-Graduandos da Usp (campus da Capital).

A Universidade de São Paulo, campus Butantã, desde o início desta semana, vem servindo de cenário para insólitas operações da Polícia Militar. Por pelo menos três dias, contingentes de policiais armados, colocaram-se a entrada de prédios de seus órgãos administrativos, faculdades, institutos, museus e bibliotecas. Essas operações seguem a execução de um pedido de reintegração de posse por parte da Reitoria da USP. Em nota, a medida é justificada sob o argumento de que o “funcionamento da universidade” teria sido transtornado por ações “isoladas”, “tumultuosas” e “violentas” de obstrução do acesso a prédios da universidade por “piquetes”, atribuídas a um “grupo de servidores”. A Reitoria, então, reivindica a sua responsabilidade em manter a regularidade do funcionamento da universidade.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP, em comunicado publicado no mesmo dia, respondeu à nota da Reitoria contestando as descrições e qualificações dadas às manifestações de seu movimento que, atualmente, encontra-se em greve, conjuntamente com os funcionários da UNICAMP, em prol de uma lista de reivindicações que eles não julgam contempladas pelas propostas do Cruesp. O SINTUSP afirma que nos acessos aos prédios citados só havia faixas com os dizeres “Estamos em Greve” e, em algum deles, encontravam- se também “Comissões de Orientação e Esclarecimentos”, compostas por funcionários das respectivas unidades que lá estavam por deliberação da assembléia dos funcionários da USP. As ações do movimento teriam sido todas baseadas em “decisões legitimadas em reuniões de unidades e assembléias gerais da categoria”.

Fotos de batalhões policiais armados na USP colocam, agora, de maneira emblemática e à vista de todos, a cultura política vigente na atual estrutura de poder da USP diante das reivindicações da comunidade acadêmica. Emblemáticas porque condensam em imagem uma série de outras medidas que compõem um movimento mais amplo de avanço de forças reacionárias às demandas de democratização da universidade. Nesse sentido, basta lembrar que das últimas nove reuniões do Conselho Universitário (Co), cinco foram realizadas em área militar (IPEN), sob forte esquema de segurança. Some-se a isso, que tais reuniões foram marcadas por graves problemas na convocação da representação discente e de servidores, além de violações a normas regimentais, principalmente no tocante ao procedimento das votações. A recorrência desses fatos e as suas conseqüências extremamente anti-democráticas levaram a APG-USP/Capital a recorrer à Justiça, impetrando um mandado de segurança pedindo a anulação da reunião em que foi aprovado o orçamento da universidade para 2009.

Há ainda de se elencar o novo plano de segurança da USP, orçado em mais de 2,5 milhões de reais, tocado pelo ex-prefeito do campus, prof. Adilson Carvalho. Em reportagem de uma revista semanal, em que é fotografado ao lado de uma central de monitores de televisão com imagens da universidade e apelidado de o “xerifão do campus”, ele declara: "Apesar de muitos estudantes afirmarem o contrário, a polícia entra na USP sempre que é chamada". Em outra reportagem, esta publicada no Jornal do Campus, instado a comentar a suspeita de um estudante de que o sistema de câmeras de segurança pudesse se reverter em “uma forma de vigiar o movimento estudantil", o Prefeito nega, mas relativiza: "Elas vão ser usadas, claro; para identificação quando houver excessos." As recentes políticas de segurança da USP precisavam de um esclarecimento: a presença da polícia no campus são necessários diante dos problemas enfrentados pelos freqüentadores da Cidade Universitária ou são instrumento de investigação e perseguição política? Contudo, infelizmente, não foi nos dada a oportunidade de ouvir as razões da Prefeitura do Campus, que negou o pedido de audiência pública feito formalmente pela APG-USP/Capital, em Conselho Universitário realizado no dia 30 de setembro de 2008.

Podemos ressaltar, ainda, as sindicâncias sofridas por alunos que participaram da ocupação da reitoria de 2007; as diversas restrições, por parte dos órgãos administrativos da universidade, ao uso dos espaços do campus pelos estudantes e suas diversas entidades; a invasão da Faculdade de Direito do Largo São Francisco pela Tropa de Choque em agosto de 2007; a implantação de catracas; a censura realizada diretamente pela reitoria ao STOA (fórum digital da USP); as demissões sumárias de servidores e diretores de sindicato dentro da universidade. Poderíamos continuar listando inúmeras outras manifestações da atual política vigente na USP, porém preferimos voltar nossa atenção ao movimento mais amplo a que todas elas remetem.

Em 2007, começou a transcorrer nos Conselhos Centrais da USP a discussão sobre a reforma do Estatuto da USP. As forças do movimento pela democratização da universidade –representadas pelo movimento de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos– encontrava-se, então, completamente alijado do processo de discussão da reforma do Estatuto. A principal conquista do movimento de ocupação da reitoria de 2007 foi o compromisso, por parte da reitoria, de realização do V Congresso da USP, que acabou sendo agendado para maio de 2008. Esse movimento voltou para o V Congresso as suas esperanças de se articular em torno de um projeto concebido democraticamente por todos os segmentos da universidade, conseguindo, assim, disputar o processo de reforma do estatuto da USP, já em curso naquele momento. Na melhor das hipóteses, ganharia força o projeto de uma estatuinte democrática. Como bem se sabe, o V Congresso não se realizou porque a reitoria não liberou, em sua totalidade, o segmento dos funcionários. A não-realização do V Congresso foi a senha para que os grupos descontentes com as conquistas do movimento de ocupação da reitoria e, mais particularmente, com a idéia de se ampliar a discussão da reforma do estatuto, avançasse para estabelecer a sua hegemonia política dentro da universidade. O marco –não só simbólico, mas também jurídico– desse acontecimento foi o Conselho Universitário extraordinário do dia 28.05.08, o primeiro a ser realizado no IPEN, com graves problemas na convocação da representação discente e dos funcionários.

A pauta se resumia à discussão de um parecer elaborado pela Comissão de Legislação e Recursos (CLR) do Co respondendo a uma consulta, a posteriori, sobre um pedido da Reitoria da USP pela entrada da polícia militar no campus. O prédio da reitoria encontrava-se, naquele momento, obstruída por manifestantes que reivindicavam o agendamento de uma nova data para a realização do V Congresso, desta vez, com a previsão expressa de liberação dos funcionários. A relatoria do parecer foi feita pelo presidente da CLR, prof. João Grandino Rodas. O parecer não só respaldava a medida da Reitoria, como insinuava que houve etapas desnecessárias para se chegar a ela, como a do diálogo: “...houve um pedido escrito e oficial de desobstrução, entretanto, essa desobstrução (acredito que aqui a referência seja na verdade ao pedido de desobstrução) não se fez antes de possibilitar o diálogo, coisa que nem seria necessária – um diálogo nas circunstâncias, justamente porque a obstrução não tem fundamento, em absoluto, ela é ilegal por natureza”. Havia também o diagnóstico de que vigeria na universidade uma “tradição de uma benevolência exagerada”, remontando talvez “algumas décadas”, que comprometia o funcionamento da universidade. Na parcela mais jurídica do parecer, ponderava-se que a necessidade da constância no funcionamento da universidade estava prevista em lei e que a prerrogativa de assegurá-la era função da reitora. O argumento chega a soar, ao menos para quem lê a ata da reunião, quase como uma ameaça: “deve existir, sob forma de responsabilização, um rigor no cumprimento do calendário, ou seja, da não obstrução dos órgãos centrais da Universidade”. A responsável, neste caso, seria a Reitora que por ser “a autoridade administrativa máxima... é responsável legalmente pelo que faz e pelo que deixa de fazer....”..

Mesmo professores com uma história recente de fortes atritos com o movimento estudantil e dos servidores, mas minimamente zelosos pela tradição democrática dentro da universidade, diante do precedente que estava prestes a ser a aberto – cuja conseqüência não era outra que a legitimação da entrada da polícia no campus – fizeram falas no sentido de tentar adiar a votação do parecer da CLR. No entanto, o parecer foi colocado em votação e aprovado por ampla vantagem. Desde então, a cultura universitária do diálogo, da crítica, da manifestação e da discussão está em xeque, podendo ser suspensa quando, oportunamente, forem verificados “excessos”, bastando um chamado para o uso da força e da intimidação armadas. Os episódios desta semana são prova disso.

Na já mencionada nota da reitoria a respeito da ocupação militar desta segunda, a referência ao parecer de março do ano passado da CLR é patente, ao invocar a “responsabilidade de garantir o funcionamento da universidade”. Queremos deixar claro que não estamos fazendo, aqui, a insinuação de que a reitora esteja agindo como está agindo por estar sendo pressionada a tomar esta atitude. Afinal, se o constrangimento for efetivo há sempre a possibilidade de se renunciar ao cargo. Contudo, a forma como a reitora rifou as forças mais democráticas que lhe ajudaram na eleição, depois de se julgar assegurada no cargo, apontam que dificilmente há qualquer crise de consciência nas medidas que vêm sendo tomadas.

Para nós da APG-USP/Capital, somente uma idéia bastante prejudicada de universidade pode levar a acreditar que seja possível assegurar o seu “funcionamento” através do medo e do constrangimento, físico ou moral, imposto por uma força policial armada nas suas dependências. Um juízo desses chega ao mínimo possível da escalada em que foi reduzindo vertiginosamente o âmbito do que é o “funcionamento da universidade”. Essa idéia é a expressão mais dramática do patamar medíocre em que se encontra, para alguns, a discussão sobre o que significa o “funcionamento da universidade”. Para os que prezavam o sentido de uma cultura universitária, está claro que nos últimos anos abriu-se mão da interação com a comunidade a sua volta, da convivência em seus espaços, , do seu lugar como espaço público e cultural da cidade em nome do “funcionamento da universidade”. No momento, vemos aonde chega esta concepção: o “funcionamento da universidade” seria a mera conservação vegetativa de seu metabolismo burocrático; uma estrutura de poder que só se mantém em pé porque se assenta sobre um pesado jogo de interesses, que se fosse minimamente legitimado pela comunidade uspiana não precisaria fazer a USP amanhecer tomada, em seus diferentes institutos, por centenas de policiais armados.

Também é nossa convicção que a principal carência para garantir o funcionamento da nossa Universidade – pensado aqui em uma chave que faça jus à pluralidade de manifestações políticas, artísticas e culturais que, aliada à prática científica, deve definir uma instituição universitária – não é a tropa de choque, mas uma radicalização da democracia na sua estrutura de poder.

Coordenadoria da APG-USP/Capital, 4 de junho de 2009



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