terça-feira, 7 de abril de 2009

Poesia

Mais um poeta foi morar no orum, mais um guerreiro nos lega a herança de seus escritos, mais um irmão canta pra subir e deixa viva a ginga malemolente da palavra negra. Jônatas Conceição, poeta, militante, educador, baiano do Ilê e de todos os blocos da cidadania é mais uma estrela no céu de nossa memória...

"solitário,
à cata de palavras que
quisera fartas, purificadoras e anunciadoras
dum porvir de
mel
luzes"

(Trecho de A Pequena Ceia, de Jônatas)



Repassamos um texto publicado no jornal "A Tarde":




ADEUS AO POETA JÔNATAS

(A Tarde - 3/4/09)

O poeta, escritor e um dos mais importantes intelectuais do movimento negro brasileiro, Jônatas Conceição, 56 anos, faleceu na manhã de hoje no Hospital da Cidade por conta de um câncer no sistema digestivo.O sepultamento serà às 16h30 no Jardim da Saudade.


Jônatas atuou em várias frentes na luta contra o racismo e valorização da identidade e culturas negras: movimento social, literatura, Carnaval e academia.


"Jônatas era um poeta profundamente ligado às suas raízes em Saubara. Eu sempre disse que ele vivia 'saubariando' a vida", disse, emocionado, o poeta José Carlos Limeira, um dos grandes amigos de Jônatas e companheiro nas letras.


Jônatas foi um dos militantes pioneiros do Movimento Negro Unificado (MNU) e era diretor do bloco afro Ilê Aiyê onde elaborava os cadernos educativos da instituição. Foi professor da Uneb e desenvolveu sua pesquisa de mestrado sobre a poesia dos quilombos intitulada Vozes Quilombolas - Uma Poética Brasileira, publicada em 2005. Em 2000 publicou em companhia de Lindinalva Barbosa a antologia Quilombo de Palavras- a literatura dos afro-descendentes, dentre outras várias obras.


"Era um guerreiro incansável na sua aparente quietude. Acho que era como a própria água, um elemento ao qual ele era muito ligado. Ele ia operando transformações profundas de uma maneira na maioria das vezes silenciosa", destaca o também poeta e grande amigo de Jônatas, Landê Onawale.


A literatura foi o principal veículo do vigor político e guerreiro de Jônatas, dono de uma personalidade introspectiva. "Jônatas tinha aquele jeito tímido, calado, introspectivo, mas transpirava o amor por suas raízes, pelos orixás e pelo Ilê Aiyê", completa Limeira.


Era nos textos que Jônatas deixava transparecer seu pensamento sobre questões como o racismo e desigualdade. "No seu jeito calado ele era radical, no sentido, de como diz sua irmã Ana Célia, de quem segue as coisas com horizontalidade e profundidade, como uma raiz. Neste sentido Jônatas realmente deixou marcas profundas em todos os ambientes nos quais atuou", completa Landê.


Pioneirismo é também uma outra palavra bastante usada pelos amigos para defini-lo. Jônatas era um dos mais freqüentes colaboradores do Cadernos Negros, a mais importante publicação brasileira para divulgação da literatura negra.


Em 2007, numa entrevista a A TARDE sobre o lançamento de uma edição do Cadernos em Salvador, ele disse: "Infelizmente, os escritores negros são ainda vozes marginais, no sentido de não conseguirmos furar o bloqueio editorial brasileiro, que é baseado numa ideologia elitista e branca, também em relação à temática, como se nós, negros, não produzíssemos cultura".


Guardião do compromisso de contar a história de luta do povo negro ele foi o responsável por compilar textos que contam a história de formação do MNU, na coletânea Movimento Negro Unificado- 1978-1988-10 anos de luta contra o racismo. Jônatas deixa um filho de 12 anos, Kayodê.


ENDEREÇO DESTE POST : http://www.atarde.com.br/blog/mundoafro/index.jsf?post16283





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