quarta-feira, 25 de março de 2009

Agressão a Professores

Caso da professora agredida por aluna realimenta discussão sobre a indisciplina
Para psicóloga, há uma banalização de valores
Carlos Etchichury | carlos.etchichury@zerohora.com.br
A violência envolvendo uma adolescente e uma professora da Escola Estadual Bahia, em Porto Alegre, revela um drama cada vez mais frequente em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul: a resolução de conflitos entre educadores e alunos por meio de impropérios, socos e pontapés. Para professores, gestores e psicólogos, é o momento de buscar alternativas e rever conceitos para estancar a espiral de violência no ambiente escolar.

Doutora em psicologia do desenvolvimento e professora do Programa de Pós-Gradução em Psicologia Clínica da Unisinos, a pesquisadora Carolina Lisboa acredita que há uma “banalização de valores”.

— Pesquisadores da área da educação e da área da pedagogia constataram que o rigor da família talvez não seja o melhor, mas, por outro lado, não oferecem alternativas. Antes, havia valores claros — opina Carolina.

Uma pesquisa em fase de compilação de dados, realizada com 123 professores de 10 escolas estaduais das regiões de Porto Alegre e Santa Maria, aponta que mais de 50% dos educadores consultados afirmaram que existe violência física ou verbal nas escolas em que trabalham. Entre as constatações, a sondagem detecta o sofrimento de quem ensina.

— Nós identificamos um esgotamento profissional. Queremos chamar a atenção para que tanto comunidade quanto o governo executem políticas públicas que atentem para a saúde dos professores — revela Evandra Oliveira Cardoso, mestranda em psicologia clínica na Unisinos e responsável pela pesquisa.

Sindicato criou núcleo de apoio a professor
Se nas escolas públicas agressões cada vez mais frequentes resultam ocorrências policiais, nas instituições privadas mestres são vítimas de desrespeito e ataques morais. Os casos repetem-se com tanta frequencia que o Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (Sinpro) criou, em 2007, o Núcleo de Apoio ao Professor Contra a Violência (NAP) – serviço oferecido com o objetivo de apoiar os professores que sofrem violência implícita ou explícita no ambiente de trabalho.

— Há um constrangimento e uma solidão dos professores, que acabam não contando com apoio da direção das direções e tampouco das famílias — diz Cecília Farias, diretora do Sinpro e, a partir de hoje, presidente do Conselho Estadual de Educação.

Protagonistas da violência na Escola Bahia, localizada no bairro Boa Vista, educadora e aluna tiverem dias distintos após o episódio. A mãe da professora agredida, Claci Madalena Souza da Silva, 43 anos, informou no final da tarde de ontem que Glaucia da Silva continuava internada em observação no Hospital Beneficência Portuguesa. Embora estivesse consciente e falando, ainda não havia conseguido sentar na cama ou ficar em pé. A família aguardava uma nova avaliação neurológica. Não havia previsão de alta.

Secretária diz que caso deixa “de cabelos em pé”
O padrasto da estudante afirma que a filha ficou em casa ontem e não pretende voltar à Escola Estadual de Ensino Fundamental Bahia.

— No momento, estamos vendo para qual escola podemos transferir a menina — afirma o padrasto.

Chateada com o episódio, a secretária da Educação, Mariza Abreu, anunciou ontem que uma sindicância irá apurar as circunstâncias da briga. À Rádio Gaúcha, desabafou:

— É de deixar todo mundo de cabelo em pé.

No final da tarde, em entrevista à Zero Hora, a secretária reforçou a tese da psicóloga Carolina ao avaliar o que acontece nas escolas gaúchas.

— Ao não ser autoritário, como éramos no passado, caímos no outro extremo e passamos a ser permissivos. Não é para ajoelhar no milho, mas também não dá para fazer o que quiser.

Leia mais:

> Para entender as explicações
> Para Seu Filho Ler: Tente se colocar no lugar do seu professor

Fonte: ZEro Hora

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