segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mundo Bantu

MUNDO BANTU E RENASCENCA AFRICANA
O 8 DE JANEIRO, DORAVANTE, JORNADA INTERNACIONAL DOS POVOS BANTU
Foi a decisão, a menos traumatizante, tomada pelos administradores e Ministros da Cultura dos Estados membros do Centro Internacional das Civilizações Bantu durante as ultimas sessões estatutárias bem extraordinárias que tiveram lugar, recentemente, em Libreville; sendo uma das “sentenças” pronunciadas com firmeza, mas, naturalmente, com a necessária galanteria, a substituição da actual Directora Geral da instituição, a congolesa da margem esquerda, Marie-Helene Mathey-Booh.
Organizadas no hotel, bem nomeado Okoume Palace, hoje sob uma corajosa gerência panafricana, estampilhada Laico, essas reuniões, notavelmente, bem reguladas e estalas em um Conselho de Administração e uma Conferencia de Ministros, reagruparam representantes dos Estados membros da organização de cooperação cultural regional e uma dezena de peritos vindos de diversas estruturas e programas tais como a UNESCO, a Organização Internacional da Francofonia, o Centro Regional de Investigação e Documentação sobre as Tradições Orais e o Desenvolvimento das Línguas Africanas de Yaounde, o Festival Panafricano de Musica de Brazzaville, o Observatório sobre as Politicas Culturais Africanas de Maputo, as unidades de investigação da Universidade Omar Bongo de Libreville, tais como o Laboratório Universitário das Tradições Orais e o Centro de Estudos e de Investigação Afro-ibero-american os.
Notar–se-a que o historiador bantuista angolano, Simao Souindoula, foi convidado, especialmente, com perito, a esses encontros, pelo Vice Primeiro Ministro gabones, o Padre Paul Mba Abessole.
A cerimónia solene de abertura, ajuntada, das reuniões, teve lugar no digno auditórium do muito ecológico Ministério dos Recursos Florestais, sob uma generosa chuvarada, típica do pais adoptivo do bom Doutor franco – alemão de Lambarene, Albert Schweitzer, o bem merecido Premio Nobel de Paz, em 1965; sendo o Gabão, o território que regista a queda pluviómetrica a mais elevada do mundo.
O duo dos dois Vice-primeiros- ministros gaboneses, representando o rigoroso Primeiro-ministro, Jean Eyegue Ndong, constituído da respeitável Antoinette Dossou Naki e do Padre, líder politico, bem sublinhou, em substancia, e com todo o rigor necessário, - tom oficial, inabitual, no muito tolerante pais de Bongo Odimba – o carácter urgente das sessões convocadas.
Com efeito, para essas personalidades políticas do pais da sede da “Casa Bantu”, a convocação desses encontros foi tornada indispensável perante a não - realização desde …três anos, das reuniões perfeitamente estatutárias do CICIBA, incontornáveis órgãos de controlo e orientação da instituição.
PATRIMONIO INTANGIVEL
Em seguida, os trabalhos perseguiram- se, a porta fechada, no santuário bantu, tornado, do Okoume Palace, descontinuados, felizmente, de apaziguadores programas culturais.
O clarividente e, evidentemente, moralizador Padre, VPM, encarregado de Assuntos Culturais, confirmou, numa vigorosa introdução geral os “disfuncionamentos”, na realidade – meloso eufemismo técnico – para qualificar os penosos descarrilamentos na gestão administrativa e financeira que enfrentava a organização e a suicidaria morosidade registada na execução dos seus programas. Esta situação, intolerável, surgiu, paradoxalmente, num contexto marcado pela injecção – na sequência da fabulosa e irresistível escalada do preço do petróleo – de cerca de cinco milhões de dólares americanos nas contas da instituição durante os últimos três exercícios.
Esses esforços foram, particularmente, feitos pelo obrigado Gabão, pais da sede da organização, que honra, invariavelmente, 65% do orçamento do CICIBA, a actual, opulenta, Guine Equatorial, que ocupa a honorifica Direcção Geral Adjunta da organização sub-regional e o esfalfado Congo Kinshasa, dois países que foram obrigados a regularizar os seus pesados atrasos de contribuições.
Os Ministros, administradores e peritos internacionais examinaram, portanto, o funcionamento da instituição de Awendje, os actos de gestão administrativa e financeiros engajados, os movimentos de contas efectuados, a realização dos programas - ou do que ficaram – a instituição da Jornada Internacional dos Povos Bantu e o estado da cooperação internacional, singularmente, com a UNESCO.
A Conferencia dos Ministros, órgão supremo do Centro, decidiu, em última analise, de confiar o mandato, em curso da Republica Democrático do Congo, ao posto de Director Geral, a um outro quadro, originário deste grande Estado, espaço de forte criatividade artística; a diplomacia sub – regional encarregando- se do resto…
A instância soberana ordenou, igualmente, o despedimento imediato do duvidoso contabilista, inoportunamente, cidadão do Congo da margem esquerda, que fazia já objecto de uma medida de suspensão bem merecida da parte do Padre, Presidente do Conselho de Administração.
Os Ministros decidiram que uma auditoria, absolutamente independente, relativa a gestão administrativa e financeira da instituição seja empreendida, para o período de Julho de 2005 a Setembro de 2008, num prazo, impreterível, de quatro meses.
A apreciação relativa a esta inspecção será feita durante as próximas sessões ordinárias que terão lugar, em Julho de 2009, em Malabo, na exigente Guine Equatorial, Estado que assuma, actualmente, a Presidência da Conferencia Geral da organização sub – regional.
A reunião ministerial sugeriu, igualmente, a criação de um Comité ad hoc CICIBA/UNESCO que se encarregara de determinar as condições de implementação de um programa conjunto de cooperação relativo ao património intangível bantu.
GENETICA
Enfim, uma das resoluções tomadas, a mais reconfortante de todas, foi a institucionalização do 8 de Janeiro, como Dia Internacional dos Povos Bantu, em referência a data da assinatura, em Libreville, em 1983, da Convenção que criou o Centro Internacional das Civilizações Bantu.
Animadora coincidência, esta data corresponde, exactamente, as Jornadas das Culturas Nacionais de Angola e do Ruanda, mas também, dois dias antes, a festas de inicio de ano, « Fiestas de los Reyes », ao nível de diversas comunidades afro-americanas e afro- caribeanos.
Interrogado sobre os resultados desses cruciais encontros, Simão Souindoula, que foi durante longos anos, quadro da referida instituição, os considerou de positivos, apesar das medidas tomadas ter sido, relativamente tardias.
Com efeito, o rigor realçado no “Laico” permitira de efectuar, doravante, um casting científico, técnico e moral, mais exigente, dos Directores Gerais chamados a relançar, irreversivelmente, esta importante instituição cultural, de sanear a sua gestão, de entrever mais apoios internacionais a favor dos seus programas sobre a herança imaterial, que e essencial no mundo bantu, e, finalmente, de marcar, ao lado das outras celebrações, a dos povos locutores de línguas bantu, que constituem um dos fundamentos da construção da União Africana.
Esses falares, derivados do ur bantu, bantu comum ou proto-bantu, idioma não directamente atestado mas reconstruído por comparação, são, portanto, geneticamente aparentados; provocando, esta evolução, fortes convergências de carácter antropológico.
Os Bantu ocupam, hoje, o terço do continente e toda a sua metade insular, mas igualmente, a presença deles, antiga, e atestada na Ásia meridional, no Médio e Próximo Oriente, nas Américas e Caraíbas, consequência, para o essencial, da velha trata negreira em direcção ao Golfe Pérsico e os tráficos transatlântico e trans - Oceano Indico.
Trunfo político determinante, três regiões da estrutura federadora de Addis, quer dizer, a África central, austral e oriental, são bantu.
Constituem também cerca do terço da população melano – africana do mundo, espalhada desde o estuário do Rio de la Plata a Bacia de Mehrgarh, na Índia, passando pelos Grassfields nigerianos, o frontispício litoral semidesértico do Namib angolano, o Planalto sul-africano de Great Karoo, as terras vulcânicas do arquipélago dos Comores e a embocadura do Chebeli, a fértil Somália meridional.
E, a justo titulo, que bem consciente dos actuais desafios de civilizações, o filho de Ondimba e pai do CICIBA, decidiu, algumas horas, apenas, após as referidas reuniões excepcionais – medida incontestavelmente radical – de colocar, ao nível do seu pais, esta organização sob a própria tutela do seu Gabinete; sendo o objectivo “ aumentar a eficácia da acção do Centro e a fim de o permitir de jogar plenamente o seu papel de instituição de vocação regional e internacional”.
Para Simão Souindoula, este exemplar engajamento autoriza, sem dúvida, de considerar que a salvadora Renascença Africana passara, igualmente, pela necessária consolidação das civilizações bantu.
Por Johnny Kapela
Director da Comunicacao Cientifica
Rede Internacional Bantulink
C.P. 2313 Luanda (Angola)

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