quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Escolas da Américas

Mensagem para Obama: ‘Chegou a hora de fechar a Escola das Américas!’

Ativistas de direitos humanos, líderes religiosos e veteranos das Forças Armadas se dirigiram a Fort Benning, na Georgia, nos Estados Unidos, para pedir o fechamento de uma conhecida escola de treinamento militar que disciplinou os mais brutais soldados e ditadores da América Latina.

A análise é de Marie Dennis, diretora do Escritório de Assuntos Internacionais da congregação Maryknoll e co-presidente da Pax Christi Internacional, publicada no sítio National Catholic Reporter, 21-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A Escola das Américas do Exército norte-americano (SOA), rebatizada em 2001 como Western Hemispheric Institute for Security Cooperation (Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança), tem uma longa e vergonhosa história de educação para a tortura, extorsão e execução para alguns infames ex-alunos como Manuel Noriega, o ex-ditador do Panamá. Aproximadamente 60 mil alunos retornaram a Bolívia, El Salvador e Nicarágua para eliminar líderes de direitos humanos, dissidentes políticos e civis inocentes nas freqüentes lutas violentas pela justiça social.

Dois ex-instrutores da escola, coronel Alvaro Quijano e major Wilmer Mora, foram presos em agosto por apoiar o líder de um cartel de drogas colombiano, que está na lista dos mais procurados do FBI. No ano passado, o governo colombiano se juntou à Costa Rica, Argentina, Uruguai e Venezuela ao anunciar que também irá retirar seus soldados da escola.

A Bolívia tem boas razões para encerrar sua afiliação a essa infame escola. Hugo Banzer Suarez, que governou a Bolívia nos anos 70 sob uma brutal ditadura militar, participou da escola em 1956 e foi depois introduzido no seu “Galeria da Fama”. Em 1989, seis padres jesuítas, seu companheiro de trabalho e sua filha adolescente foram massacrados em El Salvador. Uma força-tarefa do Congresso norte-americano anunciou que os responsáveis pelos assassinatos foram treinados pela Escola das Américas.

Manuais de interrogação usados pela escola e revelados pelo Arquivo Secreto Nacional revelaram uma horrenda lista de “técnicas coercivas” semelhantes às usadas pelos oficiais militares norte-americanos para abusar de detentos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.

Diversos sobreviventes das torturas de toda a América Latina estarão entre os 15 mil manifestantes pela não-violência em Fort Benning, reunidos para vigílias de orações, encontros e seminários organizados pelo School of the Americas Watch, fundado pelo Pe. Roy Bourgeois, da congregação Maryknoll. Os republicanos Jim McGovern, de Massachusetts, e John Lewis, da Georgia, defenderam leis para cortar os recursos para a iniciativa. Em junho, 203 membros do Congresso apoiaram a emenda McGovern-Lewis, apenas seis votos a menos do número necessário para ser aprovada.

O presidente eleito Barack Obama falou eloqüentemente durante a campanha sobre a necessidade de pedir um posicionamento moral dos EUA no mundo. Ele pode começar emitindo uma ordem executiva para fechar a escola, tomando uma nova direção na política exterior dos EUA com a América Latina.

Já está na hora de fechar as portas de uma instituição que é emblemática de como o incontrolável militarismo norte-americano difunde a violência e a instabilidade ao redor do mundo. De acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso norte-americano, o país lidera o suprimento de armas ao mundo em desenvolvimento com mais de 10 bilhões de dólares em armas vendidas.

Quanto a alta retórica sobre o plantio de sementes de democracia é minado por política externas destrutivas, o mundo tem razão em ver os EUA como hipócritas e perigosos, em vez de ser um farol luminoso de liberdade. Como o premiado correspondente do New York Times, Stephen Kizner, relata em seu livro “Overthrow: America’s Century of Regime Change from Hawaii to Iraq”, nosso governo, durante muitos anos, usou seu poder militar, política e econômico em terras estrangeiras com conseqüências devastadoras.

Um novo modelo de engajamento internacional, guiado por um compromisso com o bem comum global e justiça social, é necessário em nosso mundo que rapidamente se encolhe. Isso significa escolher a diplomacia sobre o unilateralismo, acordos de comércio justos, cancelamento da dívida para nações pobres e uma reforma de imigração compreensiva que trate das conexões entre a pobreza e a migração.

Os padres e irmãs católicos, líderes de grupos, estudantes e pacifistas comprometidos que estiveram juntos em solidariedade na Escola das Américas trouxeram o que há de melhor em suas mentes e em seus corações para esses desafios morais profundos do nosso tempo. Aqueles entre nós que ainda acreditam que outro mundo é possível devem se juntar a eles.

Pe. Bourgeois: não à Escola das Américas, sim à ordenação de mulheres

Na noite de abertura do encontro anual do School of the Americas Watch (SOA Watch), nesta sexta-feira, dia 21, na região sul da Georgia, nos Estados Unidos, a conversa foi menos sobre a América Latina do que sobre a situação do fundador do SOA Watch, o padre maryknoll Roy Bourgeois, que recebeu 30 dias, que encerraram hoje, do Vaticano para se retratar de seu apoio à ordenação de mulheres, sob o risco de excomunhão.

A reportagem é de Patrick O’Neill, publicada no sítio National Catholic Reporter, 22-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em um hotel local que serve como quartel-general de muitas das atividades do SOA Watch, a recém ordenada sacerdotisa católica Janice Sevre-Duszynska celebrou a Eucaristia. Foi a ordenação de Sevre-Duszynska, no dia 09 de agosto, em Lexington, Kentucky, na qual Bourgeois co-presidiu e pregou, que levou a uma rápida e severa resposta de Roma.

Em uma discussão em grupo sobre a Liturgia, muitos participantes louvaram Bourgeois como um herói e um profeta. O encontro foi promovido pela Conferência pela Ordenação das Mulheres (WOC), com sede em Washington, um grupo que enviou representantes ao evento nos últimos cinco anos, afirmou a diretora executiva Aisha Taylor.

Taylor, que conversou com Bourgeois por telefone diversas vezes recentemente, chamou o padre de 36 anos de ordenação de profeta e louvou a sua disposição em seguir a própria consciência.

Bourgeois “ouviu as histórias de mulheres e foi realmente afetado por elas, e isso é o que acontece”, ela disse. “Isso é o que precisamos para levar a questão lá para fora para fazer uma mudança real. [...] Eu o chamaria de profeta, um homem corajoso”.

Taylor disse que é trágico que o Vaticano tenha dados as costas a um padre que deu “tanta credibilidade” à Igreja por meio de seu trabalho em defesa da paz e da justiça social.

“Eu acho triste”, ela disse. “Eu acho uma vergonha o que a Igreja faz com padres leais. Ele deu 36 anos de sua vida para a Igreja”.

Taylor disse que padres pedófilos se saíram muito melhor do que mulheres ordenadas e Bourgeois. “Essas mulheres deram o profético passo da ordenação e estão sendo excomungadas quase imediatamente. Padres abusaram de crianças por tantos anos, 12 anos depois que o Vaticano foi avisado, o Vaticano não fez nada até que saísse na mídia, e então eles tiveram que fazer alguma coisa a respeito”.

Pe. Roy e essas mulheres estão sendo tratados como criminosos, enquanto eles não são, e os criminosos estão sendo protegidos. Isso realmente mostra que há alguma coisa muito errada com a nossa Igreja, e que alguma coisa precisa mudar de uma forma maior”.

Taylor disse que a mais nova estratégia da WOC vai ser promover a ordenação de mulheres como um direito humano e pressionar o Vaticano a parar de “violar os direitos humanos das mulheres” ao negar-lhes a ordenação.

Norte-americanos protestam contra a Escola das Américas

Ativistas de direitos humanos, líderes religiosos e veteranos das Forças Armadas se encontraram neste final de semana em Fort Benning, na Georgia, nos Estados Unidos, para pedir o fechamento de uma conhecida escola de treinamento militar que disciplinou os mais brutais soldados e ditadores da América Latina.

A reportagem é do sítio National Catholic Reporter, 22-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A School of the Americas [Escola das Américas] do Exército norte-americano (SOA), rebatizada em 2001 como Western Hemispheric Institute for Security Cooperation (Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança), tem uma longa e vergonhosa história de educação para a tortura, extorsão e execução para alguns infames ex-alunos como Manuel Noriega, o ex-ditador do Panamá. Aproximadamente 60 mil alunos retornaram a Bolívia, El Salvador e Nicarágua para eliminar líderes de direitos humanos, dissidentes políticos e civis inocentes nas freqüentes lutas violentas pela justiça social.

Os protestos contra a SOA começaram em 1990, no primeiro aniversário do massacre de seis padres jesuítas, seu companheiro de trabalho e sua filha adolescente em El Salvador. Uma força-tarefa do Congresso norte-americano anunciou que os responsáveis pelos assassinatos foram treinados pela Escola das Américas, uma escola de treinamento de combate para soldados latino-americanos.

Desde então, os protestos se tornaram na principal reunião de grupos de todos os Estados Unidos comprometidos com a luta pelos direitos humanos, a construção de um mundo não-violento e pacífico e as ações contras o militarismo e políticas estrangeiras injustas dos EUA. Milhares, talvez mais de 20 mil pessoas se reúnem na cidade de Columbus, Geórgia, durante três dias de encontros e fóruns de discussão que culminam em uma procissão funeral até os portões de Fort Benning.

Um dos organizadores do evento é o padre maryknoll Roy Bourgeois, fundador do School of the Americas Watch [Observatório da Escola das Américas, em tradução livre], que foi ameaçado de excomunhão pela Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano pelo seu apoio à ordenação de mulheres. Aos 69 anos de vida e 36 de sacerdócio, Pe. Bourgeois já passou quatro ano preso por atos de desobediência civil; foi expulso de países latino-americanos pela sua postura provocadora em favor dos mais pobres; e já defendeu a ordenação de mulheres como convidado de um programa ao vivo da Rádio do Vaticano.

Bourgeois admite, entretanto, que não esperava que sua disputa com a hierarquia católica chamasse tanto a atenção internacional. Em agosto, ele pregou na ordenação de uma sacerdotisa católica. Em outubro, ele recebeu uma carta do Vaticano ordenando que se retratasse de seu apoio pela ordenação de mulheres, sob o risco de excomunhão.

“Essa foi o maior enxame que eu cutuquei, o enxame patriarcal”, disse Bourgeois no domingo, alguns minutos antes de que a cortina final fosse descerrada no 19º encontro do School of the Americas Watch, do lado de fora dos portões do posto militar em Fort Benning, em um fim de semana de protestos e seminários. “E essas abelhas em Roma estão bravas”.

“Mas mais profundo do que a tristeza [de ser ameaçado de excomunhão], a dor, é essa paz, essa paz interior de saber que eu fiz a coisa certa. Eu segui a minha consciência, eu segui o meu Deus. Quando fazemos isso, não podemos estar errados”.

Bourgeois disse também que uma igreja com mais mulheres entre seus líderes seria uma igreja melhor.

“Se tivéssemos sacerdotisas, a SOA já teria sido fechada”, ele disse. “Se tivéssemos sacerdotisas e bispas, a guerra no Iraque não teria tido todo esse apoio. Se tivéssemos bispos, sacerdotisas, não teria havido o silêncio durante todos esses anos sobre o abuso sexual”, afirmou.

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